Maria Luiza Penna Moreira lança 'Mário de Andrade & Luiz Camillo de Oliveira Netto' em BH

Obra foi finalista do Jabuti na categoria Biografia em 2014

por Ana Clara Brant 04/08/2015 08:50
CUSTÓDIO COIMBRA/DIVULGAÇÃO
(foto: CUSTÓDIO COIMBRA/DIVULGAÇÃO)
Num tempo em que as pessoas se comunicam via WhatsApp, Facebook, Skype e outras ferramentas tecnológicas, uma carta é vista como objeto raro. No entanto, durante muito tempo elas foram a principal forma de comunicação escrita e se configuram como documentos fundamentais para se entender uma época.


“Para mim, a coisa mais interessante das missivas é isso. Elas são quase um documento meio flutuante. Por um lado, discutem temas de trabalho, como se fossem um laboratório de pesquisa epistolográfica, onde se pode recriar e descrever o contexto social e político. Por outro lado, falam de coisas pessoais. É tudo muito junto e misturado. Mescla vida íntima e pública, o que dá uma cor fascinante”, afirma a filósofa e doutora em literatura brasileira Maria Luiza Penna Moreira, convidada desta terça-feira do Conversas na Academia.

Nesse projeto gratuito da Academia Mineira de Letras, a autora autografa 'Mário de Andrade & Luiz Camillo de Oliveira Netto'. A obra, finalista do Prêmio Jabuti de 2014 na categoria Biografia, traz correspondências trocadas entre os dois intelectuais no período de 1932 e 1944. Filha de Luiz Camillo, Maria Luiza falará sobre o livro e a relação entre seu pai e o modernista, que se mistura com a própria história política brasileira.

Foram 35 cartas trocadas entre Camillo – historiador, professor, político, empresário e primo de Carlos Drummond de Andrade – e o autor de Macunaíma durante o período que vai da Revolução de 1930 ao final da Segunda Guerra Mundial, uma época em que se constrói um novo paradigma de ação do Estado. É possível observar nas correspondências a inquietação dos intelectuais com questões gerais da cultura brasileira e com temas mais específicos, como a preservação do patrimônio cultural e o estímulo à pesquisa. É notável também a troca de experiências acerca da atitude diante da administração pública, baseada na experiência de ambos.

“Acho que o que mais me surpreendeu foi o amor deles pelo Brasil e suas angústias diante da dimensão política e da função de cada um. Os dois tinham uma consciência muito grande de suas responsabilidades sociais. Eles tinham essa preocupação de fazer alguma coisa, de serem responsáveis pelo bem público, como a própria palavra diz, de servir às pessoas”, comenta Maria Luiza.

RAZÃO E PAIXÃO Outro ponto de destaque segundo ela é a mistura de razão e paixão que movia ambos, seja na personalidade ou mesmo na escrita. “Ao mesmo tempo em que eram passionais e se entregavam totalmente ao trabalho, eles tinham uma racionalidade imensa e a utilizavam para atingir o que queriam”, diz a autora.

No ano que marca os 70 anos da morte de Mário de Andrade, a autora ressalta a relação dele com os mineiros. A primeira incursão do escritor, ensaísta e folclorista paulista às Gerais se deu em 1919, quando foi conhecer o poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens, em Mariana. Depois, como lembra Maria Luiza Penna, Mário fez sua famosa viagem pelo Brasil, quando percorreu as cidades históricas mineiras, em 1924.

“Foi nessa época que ele escreveu o famoso Noturno de Belo Horizonte e também acabou se apaixonando por Aleijadinho, a quem ele considera o único artista brasileiro que era realmente genial”, cita. Ao longo dos anos, o modernista retornou várias vezes a Minas e estreitou laços de amizade com personalidades como Henriqueta Lisboa e o próprio Drummond, que acabou sendo o responsável por apresentá-lo a Luiz Camillo.

Sobre o hábito de Mário de Andrade de escrever cartas e sua volumosa correspondência com os autores Manuel Bandeira e Drummond, entre muitos outros, Maria Luiza diz: “Mário tinha um trauma de juventude. Certa vez, ele enviou uma correspondência a um escritor que admirava muito, mas nunca recebeu a resposta. Desde então, passou a responder a todas as cartas que recebia. Por isso temos um acervo muito grande de suas missivas e se tornou um dos principais epistológrafos do país”.

A filósofa já havia lançado Luiz Camillo: perfil intelectual (2006), sobre seu pai, que morreu aos 49 anos, em 1953, quando ela tinha apenas 17. Com suas pesquisas, diz que teve a chance de descobrir um outro lado dele. “Conhecia papai dentro de casa. Via as coisas que ele tinha passado. Mas, quando comecei a ler as cartas, me deparei com um outro homem. Pedro Nava, de quem ele se tornou muito amigo, tinha uma frase sobre o meu pai. Ele dizia que Luiz Camillo de Oliveira Netto era um desassombrado, porque, quando ele tinha algo em mente, não titubeava e resolvia. Acho que ele era assim mesmo”, declara.

Conversas na Academia

Com Maria Luiza Penna Moreira.

Nesta terça-feira, às 19h30 na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Centro). Entrada franca.  Com lançamento do livro Mário de Andrade & Luiz Camillo de Oliveira Netto. EditoraEdusp (2013, 288 págs. R$ 60). Mais informações: (31) 3222-5764.

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