Jornalista lança obra documental sobre meandros da política brasileira na Ditadura Militar

Wilson Figueiredo acompanhou de perto os fatos da escalada do poder pelos militares lança livro no Rio de Janeiro

por Ailton Magioli 27/04/2015 08:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Gryphus/Divulgação
(foto: Gryphus/Divulgação )
Um diário do golpe escrito por quem viveu de perto, a partir de 1964, o drama enfrentado pelos brasileiros desde que a esquerda, liderada pelo então presidente João Belchior Marques Goulart (1919-1976), mais conhecido como Jango, acabou destituída pelos militares, que permaneceriam no poder por mais de 20 anos. Em síntese, esse é o livro '1964 – O último ato', que Wilson Figueiredo, de 90 anos, lança nesta segunda-feira, na Livraria Argumento, no Rio de Janeiro. Publicada pela Gryphus, a obra do jornalista capixaba chega ao mercado no rastro do cinquentenário do golpe militar de 31 de março de 1964, do qual o país se livraria apenas em 1985, com a posse de José Sarney.


“Não se tratava mais de vitória nem derrota: era a história. Assim foi como pareceu (a quem viveu)”, escreve, oportunamente, o autor, na capa da publicação. “Não era o velho e o novo. Era o resto do poder que se instalara desde a Revolução de 1930 e que vinha de vários golpes, o último dos quais duraria mais de 20 anos”, constata o jornalista, cuja impressionante lucidez estava a serviço do país, desde então, na redação do extinto Jornal do Brasil, onde permaneceria por cerca de 45 anos, como editorialista e redator.

Organizado por Vanuza Braga, '1964 – O último ato' reúne artigos escritos por Wilson Figueiredo ao longo do primeiro semestre do ano em que a ditadura militar se instaurou no país. Dividido em três partes (“A margem esquerda”, “Antes” e “Depois”), o livro narra na primeira parte os últimos dias de março até abril de 1964, com a progressão dos acontecimentos que desembocariam no golpe. Já na segunda e terceira partes da publicação, em artigos escritos antes e depois do golpe, o jornalista avalia as razões que levariam os militares ao poder.

NOVAS SOLUÇÕES Longe de querer traçar um paralelo entre o quadro político da época e o atual, em que, coincidentemente, a esquerda está à frente do poder, Figueiredo diz que o Brasil cresceu de tal maneira que ficou inviável pensar em decisões do passado. “Temos de criar novas soluções”, acrescenta, admitindo não ver propostas novas, hoje.

No prefácio da obra, Alzira Alves de Abreu, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas e doutora em sociologia pela Universidade Paris V – Sorbonne, diz que a riqueza de detalhes com que o jornalista mostra a posição dos diferentes atores envolvidos em todo o processo faz da coletânea de artigos um excelente material de pequisa. “Por outro lado”, diz ela, “os leitores que viveram esse momento histórico e as gerações que chegaram depois vão encontrar nos textos material para repensar os problemas que o regime militar deixou”.

Pressionado para lançar em livros a rica produção jornalística que legou ao Brasil, Wilson Figueiredo diz que sempre admite tal possibilidade, com direito inclusive às pequenas alterações de natureza formal, como substituição de palavras ou expressões de época, atualização gramatical e cortes em alguns artigos mais extensos, como ocorreu agora em 1964 – O último ato.

Um dos mais respeitados nomes do jornalismo político brasileiro, Wilson Figueiredo iniciou-se na área em 1944, quando Carlos Castello Branco (1920-1993), o Castelinho, o convidou para trabalhar na célebre redação do Estado de Minas, da Rua Goiás, no Centro de Belo Horizonte. Então estudante de línguas neolatinas na UFMG, naquele período ele se tornou amigo de Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, com os quais convivia na capital mineira, antes de se transferir para o Rio, em 1957, ingressando no hoje extinto JB.


1964 – O último ato
. Wilson Figueiredo
. Gryphus Editora
. R$ 34,90

MAIS SOBRE E-MAIS