Exposição de José Bechara reafirma o choque de materiais na pintura

Mostra em cartaz no Celma Albuquerque também põe em relevo seus limites na escultura

por Walter Sebastião 07/04/2015 08:31

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FOTOS: BETO NOVAES/EM/D. A. PRESS
Obra de José Bechara na exposição 'Criaturas do dia e da noite', em cartaz em BH (foto: FOTOS: BETO NOVAES/EM/D. A. PRESS)

O artista José Bechara está de volta a Belo Horizonte com exposição na Celma Albuquerque Galeria de Arte. Apresenta um conjunto de trabalhos, de pequenos e grandes formatos, que evocam diferentes momentos de sua carreira, despreocupados com unidade. Estão agrupados sob o título 'Criaturas da noite e do dia'.

Em todas as peças nota-se o que o artista vem afirmando há mais de duas décadas de atividade: uma visualidade que nasce do atrito dos elementos que compõem a obra. Isto é: choques entre os materiais (lona, vidro, metal) que Bechara utiliza para construir as superfícies, mas também entre os signos (grades, manchas, formas) que inscreve sobre elas.

O resultado são diagramas que, registrando relações de força, peso e conflito sinalizam a contínua tensão e interação entre rigor e acaso, forma e informe, margem e centralidade, rasura e legibilidade. Ora indicam as tramas que constroem a superfície, ora compõem “textos” óticos sobre aparição e erosão das formas.

Esse caminho é desenvolvido pelo artista com apuro, de forma metódica, com caráter lúdico e voltado para a exploração do estético (que como já explicou alguém revela a construção de “consenso entre os signos” que comunica complexa rede de significados e de jogos do racional com o inconsciente).

ABSTRAÇÕES As obras de José Bechara são abstrações. Ainda que um conjunto de pequenas caixas na entrada da exposição sugira uma breve digressão sobre a paisagem, com figuração mínima, sintética, cujos emblemas podem ser barcos, horizontes, janelas, a cidade.

Peças de aspecto algo solar, feitas com cor e linhas claras, contrapõem-se às que estão no final da mostra, cuja densidade evoca a palavra noturno, seja como noite ou registro de pressentimentos obscuros – o que talvez explique o misterioso título da exposição. Mas trata-se mais de uma ponderação que chama ao reconhecimento do simbólico da forma do que propriamente uma representação.

As superfícies de José Bechara não escondem gosto pela exploração do estritamente plástico. Mas, talvez até contra a vontade do artista, provocam ou rememoram uma visão do mundo como lugar dramático, paradoxal e, no limite, antiestético. O contexto cobra posicionamento da arte e do artista. No caso de Bechara, a resposta a esse contexto é a inserção de valores que parecem soterrados, mas que pulsam incisivamente (ainda que em meio a escombros de histórias e violências): beleza, sentido, poesia. Essa atitude vem armada pela decisão de se rebelar contra ordens totálitárias e esquecimentos e na defesa de esclarecimentos e iluminações.

Impossível deixar de notar, diante de muitas obras potentes apresentadas ao longo dos anos por Bechara, limites das peças tridimensionais (pelo menos as apresentadas em Belo Horizonte). São trabalhos interessantes, mas aquém do que ele alcança na pintura. Deixam um sentimento de timidez e indecisão por parte do artista em avançar mais decidamente com relação à ocupação tridimensional no espaço, seja no que refere a instalações, esculturas ou objetos. A tridimensionalidade coloca temas especificos, que ficam empobrecidos em obras ainda presas à frontalidade e ao plano unidimensional da pintura.

'CRIATURAS DO DIA E DA NOITE' – PINTURAS E INSTALAÇÃO DE JOSÉ BECHARA

Celma Albuquerque Galeria de Arte (Rua Antônio Albuquerque, 885, Savassi). De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; sábados, das 9h30 às 13h. Até dia25. Entrada franca. Informações: (31) 3227-6494.

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