Jair Raso lança coletânea de crônicas em BH

Neurocirurgião e escritor diz que a anatomia do cérebro é compatível com o exercício de duas atividades. "Ele sugere duas pessoas numa só"

por Jefferson da Fonseca Coutinho 18/03/2015 09:52

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 Cristina Horta/EM/D.A Press
Em seu consultório, o neurocirurgião, escritor e dramaturgo Jair Raso folheia 'A caneta que mata', coletânea que ele lança hoje em BH (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press )
Não é possível separar o neurocirurgião do homem de teatro. Jair Leopoldo Raso tem a cabeça e o coração nos dois sacerdócios. Assim é desde os tempos de estudante e artista amador. O gosto veio cedo pelos dois ofícios. A escrita é de antes, quando garoto, nos rabiscos das ideias. O teatro no caminho foi “acaso”, em 1976, para dar emoção ao flerte com mocinha do Colégio Tiradentes.


Já a medicina foi influência do avô Nico Attademo e da mãe, Aparecida – que queria muito ser doutora. Tem também o filósofo Jair, graduado mais tarde, em seis anos, na tentativa de entender um pouco mais a fundo a cabeça dos homens. Pequena parte dos tantos deste sujeito pode ser lida em 'A caneta que mata', que será lançado hoje, na Biblioteca Pública Luiz de Bessa.


O livro reúne 24 “crônicas médicas” e 27 “outras nem tanto”. O prefácio é assinado pelo dramaturgo português Cunha de Leiradella. Os dois trocaram leituras em encontros por mais de 10 anos – período em que Cunha morou em Belo Horizonte, sem tomar um único chope, juntos, “na Casa dos Contos, o ponto de encontro do pessoal que ‘mexia’ com teatro”, escreveu Cunha.


Em seu consultório em Nova Lima, Raso recebeu o Estado de Minas para falar sobre 'A caneta que mata', que é a primeira publicação do doutor escritor. Parte dos textos reunidos e revisitados estão no blog do cronista e dramaturgo. São 51 textos de observação. Antes do cronista, entretanto, há o “carpinteiro” de dramaturgia inconfundível, autor de As mulheres se odeiam, Chico Rosa, Três mães, A corda e o livro, Julia e a memória do futuro, e Memórias em tempos líquidos.


Convidado a explicar como consegue conciliar as carreiras na medicina e nas artes cênicas, Raso diz: “O doutor João Amilcar, da UFMG, é de um grupo de professores que diz assim: ‘O médico que só sabe medicina, nem medicina sabe’. Ele é diretor do Centro de Histórias da Escola de Medicina e lá, a grande estrela é Guimarães Rosa. Pedro Nava é outro destaque”.


A convite do professor Amilcar, Raso falou sobre suas escolhas no Centro de Histórias da Escola de Medicina. A palestra “Do conflito à convivência” fez tanto sucesso que o neurocirurgião, vez por outra, é convidado para apresentá-la além das montanhas de Minas.


A neuroanatomia e a neurofisiologia ajudam na compreensão da vida dupla. Como explica o doutor, “nosso cérebro tem dois hemisférios, o direito e o esquerdo, e eles são completamente diferentes. Ele sugere duas pessoas numa só”, diz. “Então, descobri que nós todos somos um louco convivendo com dois eus”, diverte-se. “E a partir dessa provocação eu digo na palestra que todo mundo tem a obrigação de fazer, no mínimo, duas coisas.”


O autor conta que o conceito das duas forças distintas na cabeça, descoberto nos estudos e na prática da medicina. é a base para o seu trabalho como dramaturgo e diretor de atores e de espetáculos.


Três mães, por exemplo, segundo ele, foi um espetáculo concebido para ter seu processo de criação centrado na atividade do hemisfério direito dos atores. “A visão que eu tenho da arte, da escrita, passa pela neurofisiologia.” No amor e na alegria pelo ofício, uma festa de dois tempos. Já quando o assunto é tempo e dinheiro, a história muda. “Uma vez, um primo foi me vender um apartamento e eu disse que não tinha dinheiro. Pensaram assim: ‘Como pode um neurocirurgião não ter dinheiro?’. Aí descobri que o meu dinheiro estava indo para o teatro”, sorri o doutor, sem o menor arrependimento.

 

 

'A caneta que mata'
Lançamento do livro de Jair Raso. Hoje, às 19h, na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Praça da Liberdade)



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