Belo Horizonte vive efervescência cultural com a abertura de novos espaços

Investimentos de empresas e do poder público impulsionam mercado, além de projetos alternativos

por Ailton Magioli 15/12/2014 08:57

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MARCOS VIEIRA/EM/D. A PRESS
Cine Theatro Brasil Vallourec, inaugurado em outubro de 2013, tem ocupação de quase 100% (foto: MARCOS VIEIRA/EM/D. A PRESS)
Recém-chegado de Madri, na Espanha, onde vive há quase três décadas, o cantor belo-horizontino Leo Minax surpreendeu-se com o movimento cultural em BH. “A cidade se transformou em grande polo”, afirma ele, que, além da intensa programação, destaca a atração exercida por BH principalmente sobre instrumentistas estrangeiros seduzidos pela fama de capital da música instrumental brasileira. “Houve crescimento cultural enorme, sobretudo nos últimos quatro, cinco anos, com a abertura de espaços”, confirma Sandra Campos, gestora de planejamento e ação cultural do Cine Theatro Brasil Vallourec, inaugurado em outubro de 2013. Ela defende que hoje grandes empresas e poder público (municipal, estadual e federal) investem mais em cultura.


De acordo com Sandra, no primeiro ano de funcionamento do antigo cinema, agora revitalizado, houve ocupação de quase 100% dos dois principais espaços: o Grande Teatro, nos fins de semana, e o Teatro de Câmara, de segunda a segunda. “Durante a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, também batemos recorde. Fomos o teatro de maior público”, comemora a gestora, anunciando a criação, em março, de programa de arte-educação para a garotada das escolas públicas e privadas, visando à formação de público.


 A inauguração de espaços (Teatro Sesc Palladium, Teatro Bradesco e Cine Theatro Brasil Vallourec), associada à reabertura dos teatros públicos Francisco Nunes e Marília, tem mobilizado a cena local. Mas o que realmente colocou a capital em novo patamar, na opinião de Rômulo Duque, presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc – MG), foi o Circuito Cultural Praça da Liberdade, cujos equipamentos têm tudo para atrair público cada vez maior.


BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS
'Cabeça de criança', obra de Gottfried Helnwein em mostra de sucesso do CCBB em agosto (foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)
Rômulo lamenta, no entanto, o fato de os artistas e a produção local estarem paralisados diante da ausência de uma política de temporadas nos teatros e espaços culturais locais. “No circuito da Praça da Liberdade, por exemplo, a exceção é o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde o público paga de R$ 5 a R$ 10 para ver temporadas de artistas e produções do eixo Rio-São Paulo, que deveriam ter, inclusive, entrada franca”, critica Duque, admitindo que a vinda de projetos patrocinados pelo Banco do Brasil impacta a produção local.


“Nosso compromisso é com a qualidade do espetáculo e a atratividade, tanto em relação ao novo quanto ao clássico”, reage Carlos Nagib, gerente-geral do CCBB de BH, salientando que a origem não importa. “Fazemos tudo nos limites da grade e do orçamento”, acrescenta. Na opinião dele, de 2011 para cá, a cidade passou a conviver com o aumento de oferta cultural nas áreas de música, teatro e artes plásticas, com o crescimento na oferta qualificada.

Cinema de fora “Falta apenas acertar a área do cinema, carente de salas alternativas para filmes de arte. Há público sedento por isso”, constata Carlos, chamando a atenção para a constante lotação do Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes. Para se ter uma ideia do sucesso do CCBB BH, vale recorrer aos números divulgados por ele: de janeiro a 30 de novembro, 546 mil pessoas passaram pelo espaço em busca de atrações teatrais, musicais e de artes plásticas. Só a Cia. Luna Lunera, que inaugurou o teatro de 264 lugares, fez temporada de 70 apresentações no CCBB, além de sete sessões extras.


Mesmo diante dos novos espaços e de eventos grandes, como a Campanha do Popularização do Teatro e da Dança, o Festival Internacional de Teatro (FIT) e o Festival Internacional de Circo (FIC), na opinião de Rômulo Duque, ainda há vácuo. “Os teatros menores, por exemplo, vão fechar ou voltar para dentro das escolas, como já ocorre com o Dom Silvério e o Santo Agostinho, entre outros”, denuncia o presidente do Sinparc-MG. Ele tem, entretanto, expectativa de mobilização de grande público com a 41ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, a partir de 5 de janeiro.

Leandro Couri/EM/D.A Press
Circuito Cultural Praça da Liberdade tem capacidade para atrair cada vez mais público (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Novidades Depois de anos de obras, finalmente a Fundação Municipal de Cultura (FMC) reabriu os teatros municipais Francisco Nunes e Marília, além de anunciar a abertura de novos espaços culturais. “O Palco da Diversidade, com capacidade para 3 mil pessoas, vai funcionar onde era a escola Imaco, no Parque Municipal. Já o Teatro Raul Belém Machado, com espaços para 250 pessoas (fechado) e 3 mil pessoas (aberto), está funcionando no Bairro Alípio de Mello, enquanto o Bairro das Indústrias, vizinho a Contagem, sediará centro cultural”, anuncia Leônidas Oliveira, presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC).


Segundo Leônidas, à parceria público-privada deve-se atribuir o aumento da demanda cultural da capital. “Iniciativas como o Cine Theatro Brasil Vallourec e o próprio Circuito Praça da Liberdade são prova disso”, ressalta Leônidas, contabilizando que, em 2012, 659 mil pessoas passaram pelos 42 equipamentos e espaços parceiros da FMC. E em 2013 foi registrado salto para 2, 947 milhões. “Apesar de ainda estarmos analisando dados, dá para perceber que eventos como a Virada Cultural e o processo de descentralização que adotamos foram responsáveis por isso”, avalia o presidente da fundação.


 “Só em dezembro estamos realizando 700 atividades”, acrescenta Leônidas, comemorando a inauguração recente do Centro de Referência de Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, do Bairro Itapoã, e a Escola Livre de Arte, no Edifício Central, que entra em atividade em janeiro, com cursos de artes plásticas, patrimônio cultural e material, teatro, dança, música, circo e design popular, além de moda e audiovisual, que serão implantados posteriormente.

 

Espaços indies

 

A inauguração, na semana passada, do Baixo Centro Cultural, no Bairro Floresta, onde funcionava anteriormente o Bar Nelson Bordello, mostra que a cultura alternativa vem ganhando força em BH. A festa Beagá cool, nesta quarta, no recém-aberto Galpão Cultural Benfeitoria, também do Bairro Floresta, celebrará tais iniciativas. “Nosso objetivo é dar visibilidade a artistas locais, em espaço mais despojado, com produção descolada”, afirma a relações-públicas Jordana Menezes. O Benfeitoria é produto de financiamento coletivo, que veio à tona via plataforma Variável 5, por meio da qual foram arrecadados R$ 23 mil para a reforma do galpão. Já o Baixo Centro Cultural é fruto de sociedade entre os amigos Gabriel Assad, Mari Campos, Rafael Avelar, Renata Campos, Victor Diniz e Yuri Leite, e tem a proposta de reativar o espaço da Rua Aarão Reis, nas proximidades do Viaduto de Santa Tereza, além de incentivar e fomentar a chamada indústria criativa da capital. DJs residentes e convidados vão animar o noite de quarta do espaço, onde há mostra coletiva com obras de artistas plásticos locais.

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