Dentista cria museu particular com objetos antigos na Região Metropolitana de BH

Apaixonado pelo passado, Carlos Aníbal Fernandes de Almeida reúne amigos em meio a objetos que fazem parte da história de sua vida

por Ana Clara Brant 07/12/2014 00:13

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Fotos: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
O dentista e colecionador Carlos Aníbal Fernandes no empório da Vila Repouso do Guerreiro, perto de Pedro Leopoldo (foto: Fotos: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A sensação é de paz e, sobretudo, de volta ao passado. Não é à toa que o nome do lugar é Repouso do Guerreiro. Localizado próximo a Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o sítio é uma espécie de minivila particular do dentista Carlos Aníbal Fernandes de Almeida, de 71 anos, com direito a empório, espaço cultural, museu, orelhão e até cadeia, onde, segundo o proprietário, “tem até um mensaleiro preso”. O espaço também já teve até uma capelinha, onde foram batizadas as netas e as bonecas das filhas de Carlos, e uma barbearia que hoje é anexo do empório, com direito a decoração com caça-níquel, 383 chicotes e uma mesa de bar.

É nesse lugar mágico e cercado pela natureza que está guardada a coleção com objetos que deixam qualquer um de queixo caído. Talvez até por isso, Cacá, como é conhecido, só compartilhe seu oásis com a família e os amigos. “Tenho muita coisa valiosa e interessante e fico com receio de abrir para o público. Tem gente que não sabe dar valor. É uma coleção que venho montando há anos e pela qual tenho muito zelo. A minha vida é isso aqui”, frisa.

O Repouso do Guerreiro é também ponto de encontro do G-20, que se reúne religiosamente toda última quarta-feira do mês. Mas não se trata do grupo das 20 maiores economias. Aqui, os representantes são outros. Uma confraria de 20 amigos de longa data, que moram em BH, Pedro Leopoldo, Dr. Lund e até Brasília, que se reúnem para beber, comer e, principalmente, contar causos. A cada mês, três amigos bancam a reunião. “Aqui, mulher não entra. Só a cozinheira”, avisa Carlos Aníbal. Os companheiros costumam chegar de manhãzinha e já começam a bebericar uma cervejinha, um uísque, uma cachacinha”.

“Tem uma amizade muito forte entre nós. Outro dia, minha filha comentou com minha esposa: ‘Mãe, como assim o papai está bebendo agora, em plena quarta-feira de manhã?’”, brinca o aposentado do Banco do Brasil, Renato Iacomini, de 76 anos. Um dos mais entusiasmados é Geraldino Soares da Costa, de 74, aposentado da Cemig. “A gente canta, fala dos outros, se diverte, come e bebe bem e ainda num lugar bacana e aprazível como este”, celebra.

Fiado

Sem dúvida, a afeição entre eles é evidente, mas não há como deixar de reparar no cenário. O empório, que lembra aqueles bem antigos das cidades do interior, é a joia da coroa da vila fictícia. De cara, uma placa afixada no teto chama a atenção: “Nota de falecimento: vítima de colapso financeiro, faleceu hoje neste estabelecimento o ilustre dr. Fiado, deixando viúva, dona Conta, e os seguintes filhos: Pindura e Depois eu pago. A família inconsolada pede encarecidamente que não mandem flore, e sim dinheiro”.

Também no armazém encontra-se uma tabacaria com diversos tipos de cigarro, cachimbos, isqueiros, fósforos e rapé. No balcão, baleiros, uma máquina de moer café e cachaças de várias marcas. Não faltam também remédios dos tempos da vovó, embutidos e até reportagens das décadas de 1930 e 1940 do Estado de Minas, pregadas na parede. “Este lugar é uma viagem ao passado. Tudo neste sítio é prazeroso. E estas reuniões são muito melhores do que Rotary ou maçonaria. A gente espera o mês inteiro para estar aqui”, destaca o contabilista aposentado Geraldo Maria, de 70 anos.

Em busca das raízes

O interesse de Carlos Aníbal Fernandes pela história começou quando, há 30 anos, decidiu pesquisar a própria origem, que remonta aos Vianna do Castelo, de Portugal. “Fui atrás da árvore genealógica, de fotos, livros, e consegui até objetos. Tanto que fiz uma ala aqui no Repouso do Guerreiro dedicada a nossa família. Tenho material desde 1765 e vou abastecendo com os objetos de hoje, como o meu diploma, os sapatos de meus filhos quando eram bebês. Contando as história dos meus familiares, conto um pouco a história do meu tempo, do meu país”, justifica.

No sítio também há o Museu Peter Lund, cujo lema é: “A oportunidade de ser atual rememorando a infância e a juventude”. O acervo traz de tudo um pouco. A cada olhadela, se descobre algo surpreendente. E tudo devidamente identificado por Cacá. Carimbador de passagens, rádios, telefones e máquinas fotográficas de várias décadas, cédulas, uma máquina registradora de 1930, espartilhos, refrigerantes Crush e Grapete, cofre do Banco da Lavoura, caixa eletrônico do Banco Rural, telefone magnético utilizado nas construção de estradas, dormente da linha do bonde de Santa Tereza e jogos de botão, entre outros itens.

Um dos objetos mais antigos é uma faca de prata que pertenceu ao tetravô de Carlos, que data de 1860. A próxima aquisição deve ser um microfone, daqueles que faziam parte dos estúdios das antigas rádios. “Frequento muito as feiras de antiguidades em BH e, principalmente, em São Paulo. E ganho muita coisa também de amigos e conhecidos. Estou sempre abastecendo o meu museu. Gosto de preservar o passado e minha história e espero que meus filhos e netos sigam meu exemplo”, conclui Carlos Aníbal.

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