Montagem de Rigoletto pela Fundação Clóvis Salgado emocionou o público na estreia

No último sábado à noite, no Palácio das Artes, foi a primeira vez em uma ópera para muita gente

por Ana Clara Brant 20/10/2014 07:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
O autônomo Felipe Salles de Oliveira, de 39 anos, preparou uma surpresa para a família na noite de sábado. “Não marquem nada para as 20h porque temos um programa especial no Palácio das Artes”, avisou. Com a mulher, Ana Maria, de 33, e o filho Marco Antônio, de 14, ele foi ao teatro. “Não fazia a menor ideia do que era. Mas só de saber que era no Palácio das Artes, com certeza era alguma coisa muito boa”, comentou Ana.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Marco Antonio foi com os pais Felipe e Ana Maria de Oliveira (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
E realmente o trio se encantou com o que viu: a estreia da ópera 'Rigoletto', de Verdi, produção da Fundação Clóvis Salgado (FCS), com direção cênica de André Heller-Lopes e direção musical e regência de Marcelo Ramos. “Achei simplesmente fantástico. Saí de lá babando”, disse Ana. “Desde pequena escuto música clássica e sempre fui apaixonada pelo Pavarotti. Por isso meu marido acabou tendo essa ideia maravilhosa. Com certeza, quero voltar sempre. Gostei muito da atuação do Rigoletto e da Gilda”, completou, ao lado de Felipe, que assistia à sua terceira montagem operística.

Felipe até brincou com o filho Marco Antônio que este espetáculo deveria ser proibido para menores de tão interessante e “indecente” (no bom sentido) que era era. “Impressiona o gogó dos cantores, de conseguir que a voz alcance a última fileira. E a pureza do som é algo único também. Sem falar na sincronia de orquestra e solistas. Eu e meu filho, que também adorou, tocamos guitarra e reparamos nisso, em como os músicos conseguem ser tão sincronizados”, frisou.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Bernardo Rocha levou Laís para conheceramagia de uma ópera (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A primeira vez


A fotógrafa Laís Cançado, de 26 anos, que pela primeira vez estava assistindo a uma ópera, achou a história bem dramática, mas saiu do Palácio das Artes complemente fascinada. Levada pelo namorado, o comerciante Bernardo Rocha, de 26, que teve contato inicial com este gênero há pouco tempo, durante uma viagem a Buenos Aires em que visitou o Teatro Colón, ela não sabia dizer do que havia gostado mais.

“A gente está acostumado a ir às apresentações da orquestra, mas ópera é bem mais completo. Foi lindo. Fiquei encantada com como os atores conseguem se comunicar tão bem com a música. Foi uma mistura de emoções e me tocou demais”, salientou Laís.

Bernardo contou que ficou surpreso em saber que uma produção tão caseira pudesse ter tanta qualidade. “A gente fica achando que espetáculos de alto nível só acontecem fora do Brasil e, muito pelo contrário, na nossa cidade encontramos algo assim, tão sensacional. Isso é muito bacana. É um programa excelente. Para quem não viu, eu recomendo, já que ainda vai ficar em cartaz até o fim de outubro”, indicou.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Dayse Faria e Lídice Tristão lembraram os tempos de bailarinas (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Relembranças


Se para quem é estreante em óperas 'Rigoletto' encheu olhos e ouvidos, para os veteranos no assunto o resultado também não foi diferente. As amigas Lídice Tristão, de 70 anos, e Dayse Faria, de 76, bailarinas e atrizes que participaram de várias temporadas operísticas na cidade, principalmente no Teatro Francisco Nunes, aprovaram o resultado final. Para Dayse, a emoção era até maior, já que chegou a fazer a cigana nessa ópera há 55 anos, e agora estava vendo a neta, Hellora Boaventura, de 22, no mesmo papel. “A família toda veio prestigiá-la. É uma das obras mais bonitas de Verdi e não tem como não gostar”, comentou.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Norma e Felipe Silvestre torcempor novas montagens na cidade (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Casados há 52 anos, Felipe e Norma Silvestre estão acostumados a assistir aos melhores espetáculos operísticos pelo mundo. Ele, que é cravista, e ela, encenadora de ópera e ex-diretora artística da Fundação Clóvis Salgado, gostaram do que viram. “Foi lindíssimo, e quero exaltar principalmente o trabalho do maestro Marcelo Ramos, que, para mim, é um dos melhores da atual geração”, disse. “Belo Horizonte já teve grandes temporadas de ópera e deveria ter mais”, opinou Felipe. “Nada é perfeito, mas está realmente muito bonito”, completou Norma.


Nervosismo

A soprano carioca Lina Mendes, de 27 anos, que faz parte do elenco e divide o papel de Gilda com Gabriella Pace, confessa que costuma ficar com frio na barriga nas noites de estreia, mesmo se não está em cena. A cantora lírica, que no ano passado fez o papel de Oscar em 'Um baile de máscaras', outra produção da FCS, não atuou no sábado, já que a colega Gabriella Pace estava no palco, e só entraria em cena ontem, mas confessa que é muito mais fácil estar no palco que na plateia. “Fico muito nervosa quando estou no meio do público. A sensação é bem pior. Mas faz parte. Minha família veio toda do Rio e fazer uma apresentação em Belo Horizonte é ótimo, porque os mineiros são sempre acolhedores e deixam tudo mais fácil”, acrescenta.

Política e moral


'Rigoletto' é considerada uma das óperas mais populares de Giuseppe Verdi (1813–1901). Foi inspirada na peça 'Le roi s’amuse', escrita em 1832 pelo dramaturgo e poeta francês Victor Hugo (1802–1885). Assim como a versão original, a nova montagem da FCS é uma história de corrupção política e moral em que todos são vilões e sentem na pele o resultado amargo de suas transgressões.

No palco, solistas, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia. de Dança Sesiminas encenam a história em que três personagens se destacam: o corcunda e bobo da corte Rigoletto, que na noite da estreia foi interpretado pelo excelente barítono italiano Devid Cecconi – único estrangeiro da montagem e que tem uma presença de palco fora de série –; o aristocrata galanteador Duque de Mântua, papel do tenor paulista Giovanni Tristacci; e a filha de Rigoletto, Gilda, da também paulista e não menos talentosa Gabriella Pace, apaixonada pelo duque.

Uma trágica maldição lançada pelo Conde Monterone sobre Rigoletto é o pano de fundo da história. Em síntese, o enredo trata das escapadas amorosas do Duque de Mântua, com a cumplicidade de Rigoletto, seu bufão que, por seu espírito irônico e sua falta de escrúpulos, atrai inimigos na corte. Em uma trama de intrigas, Gilda é raptada e, por fim, acaba sendo apunhalada no lugar do duque.

Rigoletto
Ópera de Guiseppe Verdi – dias 21, 25 e 29, às 20h; e dia 26, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos a R$ 90 e R$ 45 (meia-entrada) nos dias 25 e 26; R$ 50 e R$ 25 (meia), nos dias 21 e 29. Informações: (31) 3236-7400 e www.fcs.mg.gov.br

MAIS SOBRE E-MAIS