Designer Patrícia Naves chama a atenção por criar produtos inteligentes e duráveis

Com peças oferecidas na loja do MoMa, a mineira critica o desperdício e o culto ao consumismo

por Walter Sebastião 07/09/2014 10:00

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Leandro Couri/EM/D.A Press
Dividida entre BH e a Finlândia, Patrícia Naves é uma das designers mais talentosas de sua geração (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
São da mineira Patrícia Naves, de 36 anos, os produtos que correm o mundo: o porta-copos e o porta-panelas de cortiça em formato de pão de forma, batizado por ela como Toast it. Ele é vendido na famosa loja do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, e em endereços alternativos que prezam o design.

Esse não é o único trabalho de Patrícia, que faz sucesso em mostras e bienais do setor. O anel com arame de ouro, amarrado no dedo como um lembrete, foi tão copiado que ela já desistiu de produzi-lo. Proposta de reciclagem, o vaso criado a partir de uma embalagem de supermercado vem com uma recomendação da autora: que cada um construa o seu.

No momento, Patrícia está desenhando muito e fabricando pouco. O motivo é a dedicação ao doutorado sobre design estratégico, que será defendido na Finlândia. Mas não é só. “Quis aproveitar tudo o que a licença maternidade oferece”, afirma ela, com bom humor. “Nunca tinha tirado férias. Morar na Finlândia me deu outra noção de qualidade de vida. Em vez de trabalhar loucamente para oferecer o melhor para os filhos, a gente trabalha o suficiente de modo a ter tempo para passear, fazer piquenique e se dedicar às crianças. Fiquei muito impressionada”, observa.

Formada em arquitetura, Patrícia passou a se dedicar ao design ao admirar colegas que trabalham com mobiliário, como o finlandês Alvar Aalto (1889-1976). Ela começou sua vida profissional trabalhando com detalhamento de mobiliário para projetos de arquitetura. Depois, abriu e fechou a loja Grampo, mantendo apenas a marca Oiti.

A experiência na Finlândia trouxe questões que Patrícia busca desenvolver em seus projetos. “Não vejo por que ficarmos enchendo o mundo de coisas. O mundo está cheio de cacarecos, desperdício do princípio ao fim de material e de recursos. Às vezes, isso é produto de trabalho escravo, o que tem um custo social e ambiental enorme”, explica. “Hoje, antes de comprar algo, me pergunto: por quanto tempo vou usar? O meu filho pode pegar ou tenho de esconder? Como é fabricado?”.

“Vejo que o design tem tomado caminho que considera a responsabilidade social e ambiental. Lançar um a dois produtos por ano já está ótimo. O meu sonho é criar aquilo que faça diferença na vida das pessoas: bem pensado, que se compre uma vez só, dure a vida inteira e possa ser passado para os filhos”, provoca.

Toast it nasceu do sonho de criar algo que fosse mais do que bem-sucedido. “Como desenhava, prototipava, fabricava e distribuída as peças, fui ganhando conhecimento do público e do mercado”, explica. A designer mineira teve de superar preconceitos. Admiradora de peças com linhas limpas, desconfiava de peças que deixavam a sensação de ser mais um “achado” do que propriamente projeto. “Até gostava de peças divertidas, coloridas, mas tinha preconceito com sacadinha”, comenta.

Um insight deu origem ao porta-copos. Isso ocorreu quando ela observou a semelhança da cortiça com a massa de pão. A partir daí veio tudo à mente: o que fazer, como produzir, que embalagem escolher. “Esse objeto chama a atenção, tem comunicação rápida, não é muito caro. Então, a pessoa nem precisa pensar muito para comprá-lo”, acrescenta. “Mas é produto de qualidade. A cortiça é resistente e durável. Tenho porta-panelas com esse material que foi da minha avó. Detesto produto barato e ruim, é desperdício”, critica.



Palavra de
especialista


Adelia Borges
pesquisadora e curadora

Linguagem inquieta

Patrícia Naves é uma das melhores designers da geração atual. Tem linguagem inquieta, que faz pensar e que margeia a ironia. São projetos muito simples, mas com informação, carga semântica forte, afinados com o melhor que se faz no cenário  nternacional. É, ainda, trabalho que está na fronteira entre design e arte. Exatamente por isso a indiquei para o Clube dos Colecionadores de Design do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

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