“Gostaria que cada imagem que está no livro fosse vista como um espelho de quem está vendo as fotos”, explica o fotógrafo. “Independentemente da condição social, de genética, somos todos muito parecidos”, completa. “Para fazer as imagens, tive que ganhar a confiança dos modelos. E apesar de fazer tudo para que se sentissem à vontade, ficou registrada uma certa tensão ao posar”, observa, dizendo a entender o nervosismo dos modelos. “São tímidos devido ao bullying que sofreram ou por nunca terem sido convidados para algo que fosse protagonismo positivo”, continua. “Como também sou tímido, fico desconfortável diante da câmara e sei o que sentiram.”
Não foi simples encontrar albinos, pessoas, “que têm de, literalmente, ficar à sombra”. Lacerda contou com apoio de um blog chamado “Albino incoerente”, criado para falar do assunto e que indicou algumas pessoas, que apresentaram outras. O rumor da proposta fez alguns escreverem ao fotógrafo e pedir para serem fotografados. O ensaio, como explica Gustavo Lacerda, se tem um lado documental, também tem aspectos construídos. As fotos foram feitas em estúdio, há uma direção dos modelos, foram oferecidos figurinos. Até ocorreu por acaso de Lacerda fazer foto do músico Hermeto Pascoal, mas optou por levar para o livro apenas as figuras anônimas, buscando vivência mais próxima à do cotidiano.
O ensaio Albinos está tendo grande repercussão, ganhou prêmios, foi parar em coleção de museu e apresentado em exposições coletivas no Brasil e no exterior. “É meu primeiro trabalho de fôlego”, reconhece Lacerda, que cuidou pessoalmente de editar o livro, sem ficar esperando patrocínio. Fez uma edição especial com 50 exemplares, numerada e com uma foto da série, além da que está chegando as livrarias. “Descobri que o livro eterniza, registra o realizado e desperta muito interesse. Além disso, cria narrativa que é contexto diferente da imagem isolada.”
Gustavo Lacerda é mineiro de Belo Horizonte, vive e trabalha em São Paulo há 15 anos. É formado em jornalismo pela UFMG. Trabalho novo, já em andamento, é uma série de fotos sobre imigrantes haitianos que chegaram ao Brasil. Realizou ainda, antes de partir para 'Albinos', o ensaio 'Betânia, viagem à pequena cidade', sobre o lugarejo de 10 mil habitantes em Pernambuco, onde o pai nasceu – projeto que ele define como “um road movie pessoal, íntimo”, por mergulhar em memórias famíliares. Com relação aos artistas que admira, cita os fotógrafos Mary Ellen Mark e Alec Soth, além do compositor Villa-Lobos. Respectivamente, pelo humanismo, gosto por narrativa criada com imagens, soma de simplicidade e emoção.
'Albinos'
Lançamento do livro e bate-papo com o fotógrafo Gustavo Lacerda. Nesta terça, às 19h30, no Oi Futuro (Avenida Afonso Pena, 4.001). Entrada franca. O livro custa R$ 90. Informações: (31) 3229-3131.