Museu da Inconfidência completa 70 anos com a proposta de dialogar cada vez mais com a sociedade

O acervo da instituição mineira é fundamental para a compreensão do Brasil e de sua história

por Walter Sebastião 09/08/2014 00:13

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Claudia Klock/divulgação
(foto: Claudia Klock/divulgação)
“Chegamos aos 70 anos como um museu de prestígio regional e nacional, muito respeitado internacionalmente. Não é qualquer lugar do mundo que tem uma casa como o Museu da Inconfidência, com acervo amplo e bem montado, filosofia coerente e edifício adequado”, comemora o escritor Rui Mourão, diretor da instituição, que funciona em Ouro Preto.

A partir de amanhã, quem for ao museu encontrará uma novidade: a pintura de Nossa Senhora da Soledade assinada por mestre Manuel da Costa Ataíde. “Estamos acrescentando essa peça importante à sala dedicada ao artista, espaço que, até agora, contava com poucos trabalhos significativos”, informa.
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Rui Mourão diz que o Museu da Inconfidência avançou muito em relação à sua concepção inicial. Criada em 1937 por Getúlio Vargas, a instituição visava consolidar a ditadura do Estado Novo com apologias messiânicas. Em 1942, foi instalado lá o panteão que abriga os restos mortais dos inconfidentes.

Mourão lembra a ligação do museu com a reverberação conservadora da pregação do escritor Mário de Andrade, vinda da década de 1920. Aos 19 anos, depois de visitar Ouro Preto, o intelectual paulista defendeu que Aleijadinho e o Barroco – raízes da cultura brasileira – deveriam ser considerados patrimônios nacionais. No bojo de um projeto de interiorização da cultura, instalou-se o Museu da Inconfidência, o primeiro fora das cidades litorâneas do país. Em 2006, foi iniciado o projeto de reconceituação, dando novo perfil à instituição mineira, explica o diretor.

Ouro Preto ocupa lugar especial na história brasileira. “Era o único local do país onde poderia ocorrer o confronto com a Coroa portuguesa. A cidade foi o primeiro núcleo urbano do Brasil, bem consolidado, com população formada por pequenos proprietários, artistas, artífices, padres e funcionários públicos. Vendo os castigos impostos ao povo negro, observando a violência do fisco e a expansão de uma situação policialesca, essas pessoas confrontaram Portugal”, lembra Mourão. Tratava-se de um projeto das elites, mas de irradiação popular, ressalta o escritor.

Liberdade Ano passado, 142,5 mil pessoas visitaram o Museu da Inconfidência. Os planos para o futuro passam pela democratização do acesso à instituição. “Devemos ser uma casa cada vez mais voltada para a sociedade. Temos de trabalhar com a formação de consciência, afinados com o Brasil e, especialmente, com a difusão da liberdade. O Museu da Inconfidência é um símbolo da liberdade”, enfatiza Mourão.

“A Inconfidência Mineira foi a primeira manifestação da vontade de ver o país se libertar”, lembra o diretor do museu. Esse aspecto está registrado no extenso acervo da instituição, que reúne livros, documentos e objetos alusivos à sociedade brasileira a partir do século 18. “Não se pode entender a formação do Brasil sem passar por nosso acervo”, resume Mourão.

O diretor sonha em conseguir mais um prédio para abrigar a administração e abrir espaço para cursos. “O museu não para de crescer, seja por manter um programa regular de aquisições ou por causa das doações”, conclui.

Musicologia
Desde 1990, Joel Luís Barbosa, professor do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal da Bahia, acompanha o trabalho referente à musicologia realizado em Ouro Preto.

“O Museu da Inconfidência é um dos melhores no que se refere a documentação, restauração, preservação, investigação, gestão, divulgação e apoio a pesquisas do patrimônio musical brasileiro. Sem ele, muito teria se perdido”, garante o especialista.

Depoimentos

Renata Ferreira dos Santos
Bibliotecária da Universidade Federal de Ouro Preto

“O Museu da Inconfidência é a principal vitrine de Ouro Preto. Tem coleção importante, arquivo com grande potencial de pesquisa, biblioteca de referência e bem-estruturada. Acho que a instituição precisa se modernizar, disponibilizar o que tem, criar formas de acesso mais fácil ao arquivo. Sei que o museu tem equipe pequena para um trabalho tão extenso, mas esses pontos poderiam ser melhorados.”


Maria Letícia Nelson de Sena

Presidente da Associação de Amigos do Museu da Inconfidência

“Nós nos firmamos como centro de difusão cultural. O museu é muito visitado por crianças, o que significa formação e estímulo à curiosidade pela beleza, história e sonho. Gostaríamos de ter equipe maior, o que permitiria a abertura na parte da manhã, mas não é simples como parece. Queria que o elo das pessoas com o museu – e os museus em geral – fosse mais do que apenas afetivo.”

• Confira

» Praça Tiradentes, 139

Panteão com os restos mortais dos inconfidentes.Salas exibem 4 mil peças representativas da vida sociocultural mineira nos séculos 18 e 19. O público pode observar o volume nº 7 dos Autos da devassa, que contém a sentença condenatória de Tiradentes. Há belo conjunto de obras de Aleijadinho.

» Rua do Pilar, 76

A biblioteca reúne 20 mil obras. No Arquivo Histórico, há cerca de 40 mil documentos. Destaca-se o livro Triumpho Eucharístico (1793): exemplar da christandade lusitana em pública exaltação da fé na solenne trasladação do Diviníssimo Sacramento, de Simão Ferreira Machado. Obras mais procuradas: Vocabulario portuguez e latino, aulico, anatomico, architectonico..., de D. Raphael Bluteau, publicação do século 18; Autos da devassa da Inconfidência Mineira, publicados pela Câmara dos Deputados em 1976; e Coleção Francisco Curt Lange, com documentos reunidos pelo pesquisador considerado o descobridor da música colonial brasileira.

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