Pichação em debate na Faculdade de Direito da UFMG

Evento pretende discutir aspectos sociais e artísticos da prática além das implicações legais

por Shirley Pacelli 16/05/2014 08:17
Reprodução/Facebook
Verso do rap de MC FBC chegou aos muros com a assinatura de Goma, pichador de Belo Horizonte (foto: Reprodução/Facebook)
“Sou o cidadão de BH que mais conhece a cidade. Estive em todos os bairros e favelas”, afirma Goma, morador da Região Noroeste da capital mineira. Ele tem 31 anos, e há cerca de 18 é pichador. Começou buscando ibope, adrenalina, diversão e, sobretudo, ser notado. Há alguns meses, um executivo estrangeiro veio à capital e, ao ver as tags espalhadas pelos muros, pediu a Goma que assinasse a sua gravata.


O mineiro, que tem a sua própria marca de roupas, é seguido por cerca de 3 mil pessoas no Facebook. Nesta sexta, Goma participará do evento Pixo é direito, organizado pela Frente Cultura de Rua do projeto Cidade alteridade, desenvolvido pelo curso de pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Sexta e sábado, o evento será realizado nas instalações da faculdade. A ideia partiu de Ludmilla Zago, de 37, psicanalista, doutora em estudos literários e coordenadora do Cultura de Rua. “Não fazemos apologia. O debate que se vê é muito restrito, tem foco apenas na limpeza e na abordagem policial. Questionamos esse excesso da criminalização. Pichação tem a ver também com engajamento social”, afirma.

Djan Ivson Silva, o paulistano Cripta, será um dos convidados de sexta. Ele se assume publicamente como pichador, já participou como convidado da Bienal de São Paulo e integrou a exposição Né dans la rue (Nascido na rua), da Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em Paris. Cripta explica que os primeiros pichadores paulistanos eram jovens influenciados por bandas de punk e rock. “Toda a estética veio das capas do Kiss e do Iron Maiden, por exemplo. Elas se inspiravam no alfabeto rúnico, de origem escandinava”, conta. “Pichação é um grito existencial: o indivíduo não é valorizado pelas condições financeiras, mas cria status por meio da arte e da transgressão”, resume Cripta.

A programação de sexta prevê roda de conversa com os homens da lei. O advogado Felipe Soares, mestrando em direito pela UFMG, afirma que a discussão é importante para a informação de seus próprios colegas, lembrando que a repressão se dá por falta de conhecimento. “Não queremos que ninguém concorde, goste ou criminalize”, explica.

Amanhã, na Praça Afonso Arinos, será exibido o filme Luz, câmera, pichação!, dirigido por Gustavo Coelho, Bruno Caetano e Marcelo Guerra.


PIXO É DIREITO
Faculdade de Direito da UFMG, Av. João Pinheiro, 100, Centro. Sexta, das 11h às 14h e das 17h às 19h; amanhã, das 18h às 21h.

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