Escritora mineira Malluh Praxedes lança 'Dona de mim'

Também jornalista e quase bailarina, Malluh se destaca em sua geração de autores

por Carlos Herculano Lopes 22/04/2014 09:20

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Otávio Bretas/Divulgação
"Sempre achei que o ser humano merece ser feliz; hoje consigo traduzir isso nos meus textos" (foto: Otávio Bretas/Divulgação )
Com 15 livros publicados – o primeiro, 'Nascência', é de 1980 –, Malluh Praxedes atinge a maturidade literária, que a coloca entre as melhores escritoras de sua geração, com o lançamento de 'Dona de mim' (Editora Asadepapel, 72 páginas). O livro vem com projeto gráfico de Otávio Bretas e belas ilustrações escolhidas entre dezenas de trabalhos inéditos de Nando Fiúza, morto há quatro anos, e que foram disponibilizados para a edição pela viúva do artista, Luciana Radichhi.

“Foi uma coisa maravilhosa, que me emocionou muito, pois com esse novo trabalho estou também celebrando meus 21 anos de parceria com o Nando, que teve início em 1993, quando publiquei, com desenhos dele, o livro 'A menstruação da ascensorista'”, conta a autora. Soma-se a isso a conjunção dos desenhos de Fiúza com os textos de Malluh, que, na maioria, não ultrapassam uma página. Foi um casamento perfeito, depois de longo namoro.

Prosa elegante Como a bailarina que quis ser quando criança – sonho que não concretizou na fase adulta devido a outros caminhos seguidos –, a escritora, com passos precisos e frases carregadas de sensualidade, conduz o leitor a um universo onde o amor sem amarras e o encontro entre os amantes dão o tom. Mas engana-se quem pensar que, ao ler 'Dona de mim', irá se deparar com um texto pornográfico. Pelo contrário, a elegância da prosa, muitas vezes apenas de forma sugestiva, é o suficiente para fazer voar a imaginação do leitor.

Impossível é não se deixar seduzir pelas histórias ou se colocar, mesmo que intimamente, como personagem de algumas “...Ok, ele acertou novamente a minha boca e a babaca aqui ficou paradona na dele, deixando o cara se lambuzar de mim. Foi uma delícia e nós bebemos mais, e ele me passou pra trás, e eu nem acreditei. Ok, ele me acertou total. Mas agora não dá mais para contar...”. E precisa?

Nascida em Pará de Minas e morando em Belo Horizonte desde 1968, Malluh Praxedes conta que, quando começou a escrever 'Dona de mim', a primeira coisa na qual pensou foi no título, e este surgiu a partir de um questionamento sobre qual a hora em que uma mulher se sente inteiramente dona de si. “A conclusão a que cheguei? É que isso ocorre somente na sua intimidade, num piscar de olhos, quando nos é permitido nos sentirmos plenas, donas de todas as liberdades.”

Depois desse clique, não foi difícil para ela transformar pensamentos em literatura, e os textos de 'Dona de mim' foram surgindo de forma espontânea. Valeu também sua experiência, exercitada em livros como 'Nua manhã de uma mulher' e 'Beijos de acender o dia', em que explorou o universo feminino, para ela inesgotável, pelo fato da mulher estar sempre em evolução. “E como desde criança me senti uma pessoa livre, que nunca teve medo de ameaças, nem do fogo do inferno, pois sempre achei que o ser humano merece ser feliz, hoje consigo traduzir isso nos meus textos”, diz.

Projetos Com a corda toda, ainda este ano Malluh Praxedes lança mais dois livros: uma segunda edição de 'Suspiração', de 2003, e o inédito 'O olho da bailarina', numa alusão à profissão com a qual um dia chegou a sonhar. “Será um livro de memórias fragmentadas”, adianta. Já aprovados pelas leis de incentivo e em fase de captação de recursos, ela toca mais dois projetos: O som das Minas: nas anotações de Malluh, por José Roberto Pereira, e o espetáculo Mulheres reais, de Breno Milagres, com Lucienne Vienna e direção de Helvécio Guimarães, inspirado em textos da escritora.

Três perguntas para...
Malluh Praxedes, escritora


O que você anda lendo atualmente?
Sou uma apaixonada pelo objeto livro. Atualmente estou envolvida com duas autoras, que andam mexendo com minha cabeça: a norte americana Ilene Beckerman, que escreveu um livro delicioso chamado Amor, perdas e meus vestidos, lançado no Brasil pela Editora Rocco. O outro é Casa 12, editado pela Companhia das Letras, da paulistana Letícia Constant, no qual ela conta sua história na São Paulo dos anos 1950.

Como você escolhe o que irá ler? Dá para se definir como escritora?
Como sou uma assídua frequentadora de livrarias, costumo escolher os livros pelos objetos que eles são, pois sempre achei que livro é uma obra de arte, um objeto de designer, que deve levar uma assinatura, seduzir o leitor. E como esse anda cada vez mais distante, é necessário que seja atraído também visualmente pelo objeto que está vendo. Não sou uma escritora chorona. Se às vezes falo das perdas, que são comuns a todos nós, procuro suavizar isso na minha escrita, introduzindo aqui e ali um pouquinho de humor. Também, sempre gostei de prestar atenção nas pessoas à minha volta, no que elas fazem, e tentar adivinhar o que estão pensando. Sou muito reflexiva.

Além da literatura, você também sempre foi ligada à música. Como isso começou?
Esse interesse começou a tomar corpo quando conheci o compositor Marco Antonio Araújo, ainda na década de 1980, e se expandiu nos 21 anos seguintes em que trabalhei no BDMG Cultural, onde tenho o orgulho de dizer que idealizei e coordenei dois projetos importantes: o Prêmio BDMG Instrumental e Jovem Instrumentista BDMG, que revelaram muitos talentos. Atualmente meu amor pela música prossegue numa parceria com Renato Motha, que começou em 2005. Ao todo já temos 17 músicas gravadas em dois CDs, que também foram lançados no Japão.

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