Delegado Protógenes Queiroz lança em BH o livro 'Operação Satiagraha'

Publicação coloca lenha na fogueira do caso que é marco na história da Polícia Federal

por João Paulo 15/04/2014 06:00

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Gilberto Abelha/Gazeta do Povo
(foto: Gilberto Abelha/Gazeta do Povo )
A Operação Sathiagraha é um marco na história da Polícia Federal. Por vários motivos: foi a maior, a que envolveu a investigação de pessoas mais poderosas em vários setores (do banqueiro Daniel Dantas ao ex-prefeito Celso Pitta), a de mais ampla repercussão na sociedade e, também, a mais polêmica. Se chegou a mandar colarinhos brancos, políticos e milionários para a cadeia, ao fim se revelou frustrante: ninguém ficou preso, as investigações cessaram e o responsável pela operação, o delegado Protógenes Queiroz, então chefe do Setor de Inteligência da Polícia Federal, foi afastado, teve sua conduta questionada e responde a vários processos.


O assunto, que rendeu milhares de reportagens e o livro 'Operação banqueiro', de Rubens Valente (Geração Editorial), ainda está por ser totalmente esclarecido, sobretudo nos seus bastidores e na disputa de poder que envolveu ministros do Supremo Tribunal Federal, procuradores, juízes e até dois ex-presidentes da República. O livro 'Operação Satiagraha' (Universo dos Livros), escrito por um dos personagens centrais dessa trama que abalou a República, o delegado Protógenes Queiroz, que será lançado nesta terça-feira em Belo Horizonte, coloca lenha numa fogueira que está longe de apagar. Atiça a brasa dormida.

Narrado em primeira pessoa, em estilo direto e sem papas na língua na hora de tratar os investigados – e mesmo certos setores da própria PF – como “criminosos” e “ratazanas”, o livro, no entanto, se vale do recurso de dar apelidos aos personagens e modificar o nome de empresas, para, segundo a editora, “preservar as testemunhas do processo e os réus que ainda não foram julgados”. Por isso, Protógenes se vê narrando uma história real que tem personagens chamados Morcegão, Cobra, Draco, Jabuti e Margareth Tatcher. Mas não é difícil dar nome aos bois e ratos.

Além de retomar o veio da investigação, do ponto de vista de quem tinha o comando – e também a desconfiança de parte da PF –, Protógenes revela o lado de dentro, a dedicação da equipe de 26 agentes, os embates de toda ordem para seguir investigando, inclusive ameaça de voz de prisão a superiores hierárquicos. O delegado narra perseguições, tentativas de cooptação e traição de setores da PF, sempre por pressão do ardiloso banqueiro Morcegão. As duas prisões de Daniel Dantas, com solturas ordenadas por habeas corpus expedidos na madrugada pelo então presidente do STF Gilmar Mendes, são os momentos de euforia e anticlímax.

Afastado da operação, na parte mais forte da narrativa Protógenes conta como foi sendo esvaziado e, ao mesmo tempo, perseguido e ameaçado de morte. O que parece ter marcado mais foi a represália sofrida por sua família, com sofrimento da ex-mulher, do irmão e dos filhos – um de seus filhos chegou a ser sequestrado. O delegado lembra que o mais rígido código de ética dos policiais preserva a família, o que, no seu caso, não foi respeitado. Além disso, foi afastado da PF e respondeu a 32 inquéritos administrativos e processos no STF, “nenhum deles por corrupção ou desvio de recursos públicos”, como faz questão de registrar. Cinco permanecem ativos.

Na conclusão, Protógenes ressalta sua nova trincheira na Câmara Federal, onde, tudo indica, voltou a se cruzar com a sombra do Morcegão. E avisa: “Ando sempre armado”.

OPERAÇÃO SATIAGRAHA
Lançamento do livro de Protógenes Queiroz. Nesta terça-feira, às 19h, na Leitura Pátio Megastore, Avenida do Contorno, 6.061, 3º andar, Savassi.

Trechos

“– O senhor deveria comprar um jornal, uma revista, um canal de televisão, uma rádio. Nasceu para isso. Poderia ser um desses colunistas polêmicos. O senhor faz parte desse time, com certeza é melhor do que eles, pois eles fazem tudo o que o senhor manda. Em vez de comprar jornalistas que fazem parte do conselho editorial de jornais, o senhor deveria ser um dos conselheiros editoriais. Ou ser dono de jornal e colocar os conselheiros bandidos
para escrever seus editoriais bandidos.”

“Uma das coisas que fizeram foi atacar minha família. Entraram na minha casa, na casa de meus parentes. Usaram a própria Polícia Federal para isso. A gente tem um código no jargão policial: você pode fazer o que quiser com o policial; agora, não faça com a família dele. Eles foram tão inescrupulosos que quebraram esse código de ética policial, executaram busca e apreensão com ameaças aos meus filhos. Meu filho de 6 anos ficou sob a mira de um fuzil e metralhadora no rosto.”

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