O Berliner Ensemble, grupo teatral fundado por Bertolt Brecht e sua mulher, a atriz Helene Weigel, em 1949, será a grande atração do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de BH, o FIT 2014. A edição, marcada para o período de 6 a 25 de maio, será o cenário para as despedidas do Ano da Alemanha no Brasil. Por isso, a encenação de Hamlet, de Shakespeare, pela tradicional companhia alemã, será uma das três produções do país que vão preencher a grade do evento. A programação completa será divulgada na terça-feira.
“Estivemos na Alemanha no ano passado e fomos visitar o Berliner Ensemble porque é um dos grupos mais interessantes do mundo. Surgiu a ideia de trazer Hamlet, mas estava muito caro. Conseguimos uma parceria com a Prefeitura de Berlim. Eles vão bancar a metade do espetáculo, com os cachês. Pagaremos o restante”, informa Leônidas Oliveira, presidente da Fundação Municipal de Cultura. Segundo ele, serão investidos R$ 5,7 milhões diretamente do tesouro municipal no FIT. A verba será complementada com captações via lei de incentivo. “Tudo vai chegar em aproximadamente R$ 7 milhões.”
Leônidas Oliveira explica que o festival precisou ampliar sua duração para permitir a apresentação de todas as atrações selecionadas pela equipe de curadoria. “Não cabia. Teremos mais de 150 apresentações e estamos chegando a quase 200 atividades. Nesta edição dos 20 anos, o FIT cresceu muito”, avalia.
Método
O ator e dramaturgo mineiro Wester de Castro encarnou o próprio Brecht no trabalho final do curso de artes cênicas com o monólogo Roleta russa. Quando o Berliner esteve em São Paulo, ele teve oportunidade de ver Lulu. “Mesmo que tenha a mistura de Bob Wilson, a gente consegue imaginar o que era o teatro de atuação daquela época. Por isso, acho que se o Brecht estivesse vivo, estaria antenado com as redes sociais”, comenta.
Para Wester, mesmo que o Berliner Ensemble faça questão de ressaltar que a relação com Bertolt Brecht faz parte do passado do grupo, é possível observar o quanto métodos defendidos pelo diretor ainda estão presentes. “Os atores mais velhos tinham uma construção de personagem que, estudando Brecht, você consegue entender na prática o que era a máscara dissociada, a colocação do personagem distanciado”, teoriza.
Bertolt Brecht é a principal referência do teatro épico, corrente defendida por ele e que, entre outras características, convida o espectador a ser um observador ativo da cena. O diretor e dramaturgo propôs o fim da chamada “quarta parede”, a imaginada separação entre público e atores. Segundo o teatro brechtiano, a plateia sabe que tanto os personagens como as ações desempenhadas em cena não são reais. “Mostra que aquilo é uma ilusão. Não fazia questão de esconder um refletor. Se tem, por exemplo, uma lua, ele mostra que está amarrada com barbante. Hoje, isso é tranquilo para nós, mas na época não era”, explica Wester.
Foi a partir da apresentação do Berliner Ensemble em Paris, em 1954, que as propostas de Brecht ganharam projeção internacional. Quando ele morreu, em 1956, a companhia continuou em atividade sob o comando da atriz Helene Weigel até 1971. Atualmente, o Berliner é dirigido por Miriam Lüttgemann. A companhia tem 49 peças em seu repertório.
PEÇAS LOCAIS SELECIONADAS PELO FIT
» Palco
• A noite devora seus filhos, Coletivo Paisagens Poéticas
• Aldebaran, Oficcina Multimédia
• As rosas no jardim de Zula, Zula Cia de Teatro
• De nós dois, só, Quik Cia de Dança
• E peça que nos perdoe, direção de Lira Ribas
• Fábrica de nuvens, direção de Daniel Toledo
• Festival de ideias brutas, de Marina Viana
• Get out!, Quatroloscinco
• Isso é para dor, Primeira Campainha
• Klássico (com k), Mayombe
• O líquido tátil, Espanca!
• O quadro de uma família, Pigmaleão escultura que mexe
• Órbita, Cia Suspensa
• S/título, óleo sobre tela, Cia do Chá
• De banda pra lua, Armatrux
• Prazer, Cia Luna Lunera
• Menino azul, Grupo Matraga
• Por pouco, Cangaral produções artísticas
• John & Joe, Grupo Trama
• Navalha na carne, Grupo Confesso
» Rua
• De mala às artes, de Luciano Braga Aninarelli
• O caboclo Zé Vigia, Tirana
• Para se tá mal, ensaio de uma manifestação para poder poder, Cóccix Cia Teatral
• Oratório: Dom Quixote e Sanchopança, Cia Burlantins
• Acontecimento em Vila Feliz, Cia Pierrot Lunar
• Os gigantes da montanha, Grupo Galpão
Crescimento sustentável
A lista dos espetáculos nacionais e internacionais do FIT-BH é mantida em sigilo pela Fundação Municipal de Cultura. Além do Berliner Ensemble, os demais grupos selecionados serão anunciados na terça-feira, quando serão apresentados outros detalhes desta edição do festival. Só não há mistério no grupo das atrações locais que vão se apresentar no evento. Aliás, é mais apropriado falar em surpresa: a edição comemorativa dos 20 anos terá 26 montagens de Belo Horizonte. No FIT 2012, foram 19 espetáculos internacionais, 12 nacionais e 10 locais.
O aumento expressivo de peças de BH na programação tem a ver com a política de internacionalização que a Fundação Municipal de Cultura pretende adotar. Durante o FIT, estarão na cidade curadores de diversos eventos de artes cênicas no mundo. O objetivo é fomentar a circulação dos grupos belo-horizontinos por outros países. É um modelo parecido ao adotado pelo Festival Santiago a Mil, no Chile, ou o Fiba, de Buenos Aires.
Com o considerável aumento da presença local na programação – e consequentemente no orçamento –, certa ansiedade sobre o impacto da decisão na grade de atrações nacionais e internacionais, tanto em qualidade como em quantidade, passou a circular no meio teatral. “Não vai impactar em nada”, garante Leônidas de Oliveira. “Nossa aposta pelos espetáculos locais é para a internacionalização da cultura de Belo Horizonte. Será o maior número de espetáculos de fora entre todas as edições”, completa o presidente da Fundação Municipal de Cultura.