'Rasante', coreografia baseada no universo de Kafka, estreia nesta quinta-feira

Espetáculo criado pelo bailarino Sérgio Penna entra em cartaz no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes

por Ana Clara Brant 19/03/2014 06:00

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Guto Muniz/Divulgação
(foto: Guto Muniz/Divulgação)
O filósofo alemão Walter Benjamin costumava dizer que o gesto é um elemento essencial na obra do escritor Franz Kafka. E partindo desse pressuposto o bailarino e coreógrafo Sérgio Penna criou 'Rasante', espetáculo de dança contemporânea inspirando no universo do autor de 'A metamorfose'. A montagem, vencedora do Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes Cênicas de 2013, estreia amanhã, no Teatro João Ceschiatti, no Palácio das Artes, onde fica em cartaz até 13 de abril.


Penna conta que já há alguns anos vinha alimentando a ideia de dançar Kafka e que não se baseou em um conto ou livro específico, mas bebeu na fonte de várias histórias do escritor tcheco. “Fui coletando energias, relações entre as pessoas, dentro desse universo que ele propõe. Kafka tem essa qualidade de ser absurdamente fantástica, mas ao mesmo tempo absurdamente real. Eles nos remete ao mundo da gente, das relações, ao acesso da Justiça, da hierarquia, das tiranias. E tudo isso foi virando um caldo grande que resultou no espetáculo”, analisa o diretor.


No palco, cinco intérpretes, que também ajudaram no processo de criação, incluindo, o próprio Sérgio Penna, além dos bailarinos Bernardo Gondim, Gabriela Christófaro, Lourenço Marques e da estreia na dança da atriz, diretora e dramaturga Grace Passô, ex-Grupo Espanca!. Todos a serviço de diferentes energias se lançaram ao desafio de dançar gestos, movimentos e relações, na perspectiva de recriar o mundo contraditório das relações humanas, no qual cada função, por mais perversa que seja, é sempre parte da manutenção de um todo. “A base do trabalho é o coletivo, de onde brotam o solo, o duo, o trio. Compusemos uma pequena fábula kafkiana a nosso modo, em que exploramos essa relação de poder, de subserviência e de como criar um padrão”, observa.


O nome do espetáculo, 'Rasante', foi sugestão do próprio Sérgio Penna, por ser o voo próximo ao chão e por fazer uma analogia ao risco e a uma situação limítrofe. A escolha dos artistas que fazem parte da produção se deu, segundo Penna, pelo fato de ser um grupo acostumado ao diálogo, com experiência em processos criativos pautados pela improvisação. E mesmo Grace Passô, que nunca tinha passado por uma experiência semelhante, foi uma grata surpresa. “Já trabalhei muito com o Espanca!, e ela sempre brincou que queria ser bailarina. E eu dizia: ‘Grace, você já é’. Ela é muito disponível, tem muita inteligência corporal. Corremos o risco juntos e deu supercerto”, celebra.


O diretor destaca a participação não só dos bailarinos, mas dos demais integrantes da equipe, como a trilha sonora de O Grivo, a iluminação de Wladimir Medeiros e os figurinos de Gilda Quintão. “Como não há uma definição específica do personagem, é complicado você estabelecer isso. Ela acabou optando pela diferenciação através da tonalidade e o resultado ficou muito bacana”, aprova.

 

Rasante
Estreianesta quinta-feira. De quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 19h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Classificação etária: 12 anos. Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Informações: (31) 3236-7400. Até 13 de abril.

 

 

Três perguntas para...

 

GRACE PASSÔ
ATRIZ E DIRETORA

 

1 - Como surgiu esse convite para participar de Rasante?
Já conheço o Sérgio Penna há anos e ele me convidou para fazer parte desse projeto. Interesso-me por dança contemporânea há muito tempo, do ponto de vista da linguagem, do ponto de vista do ator; sempre fui uma curiosa da dança. Em todos os espetáculos de que fiz parte, sempre trabalhei com alguém da dança. Essa coisa do movimento, do gesto e da ação me interessam muito.

2 - Desde quando vocês estão ensaiando e como foi o processo?
Desde outubro. São cinco pessoas e eu a única não bailarina; mas todos são atores. E todos têm uma trajetória e um repertório de vida na arte, com um universo técnico específico. O Sérgio agregou as técnicas e as singularidades de cada um para a construção desse espetáculo. E deu muito certo.

3 - E o que você achou do resultado?
De fato, fui muito cara de pau em topar essa história, afinal, nunca trabalhei como bailarina, mas está me agradando muito. Óbvio que estou em outro lugar, venho de outra técnica e ao longo dos ensaios fui aprendendo com eles, mas ao mesmo tempo, fui tentando repassar várias coisas. Essa experiência abre um outro campo da linguagem para mim. Vai atravessar o meu trabalho daqui pra frente. Essa forma de ver o corpo humano, de entender o movimento. Reconheço minha loucura, mas acho, sinceramente, que o teatro contemporâneo – que é o que eu faço –é mais aberto, agrega linguagens como artes plásticas, literatura e a própria dança. Então, foi uma loucura sã. 

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