Grupo Espanca! completa 10 anos

Com nova formação, trupe estreia novo espetáculo em julho e mostra repertório integral da companhia no segundo semestre

por Carolina Braga 08/03/2014 00:13

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Euler Júnior/EM/D.A Press
Marcelo Castro, Aline Vila Real e Gustavo Bones, integrantes do Espanca!, levam 'Amores surdos' ao Festival Ibero-americano de Teatro na Colômbia (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)
Mesmo que não seja uma decisão fechada, o texto que os atores do Espanca! consideram um dos candidatos a se tornar o próximo espetáculo do grupo traz no nome uma reflexão interessante para eles mesmos: Tentando fazer uma peça que mude o mundo. É que neste ano a companhia formada atualmente pelos atores Gustavo Bones e Marcelo Castro e pela produtora Aline Vila Real completa 10 anos de carreira. Se o balanço é inevitável, por que não uma dose de utopia?

“Sempre”, diz Marcelo. “Mas ciente de que isso é impossível”, completa Gustavo. Desde que a cena curta de Por Elise surpreendeu no Festival de Cenas Curtas, em 2004, a companhia, que era um quinteto formado por Grace Passô, Paulo Azevedo e Samira Ávila, além de Gustavo e Marcelo, amadureceu – e muito. São cinco espetáculos e uma sede em torno da qual orbitam projetos artísticos para fomento da dramaturgia, da performance e da canção autoral. O Espanca! cresceu.

Além de projetos criativos próprios, o grupo tem se destacado pelo incentivo à circulação de ideias e espetáculos em torno do projeto Acto. É o que intensifica a presença da produtora Aline Vila Real entre os integrantes da companhia. Mais que mostrar apenas o trabalho artístico, há uma ética do compartilhamento com outras companhias brasileiras com propostas semelhantes. “O Acto é a continuidade de um desejo que surgiu em 2007 e vai se reconfigurando”, diz Aline Vila Real. Realizado pela primeira vez em 2007, o Acto é um espaço criado para receber grupos convidados de outras partes do Brasil com o objetivo de estreitar laços e discutir com o público o teatro que fazem.

A década de vida do Espanca! será celebrada com eventos voltados para repensar o teatro contemporâneo, participação em importantes festivais latino-americanos – como os de Bogotá e Caracas –, além de uma mostra completa do repertório do grupo, programada para começar em agosto. A agenda cheia não deixa de ser uma resposta às turbulências vividas no ano passado. Houve desde o risco de perder patrocínio importante, que colocava na corda bamba a existência da sede, até o desligamento de Grace Passô, atriz, diretora e dramaturga, figura-chave no grupo.

“Quando a Grace falou que sairia, nos perguntamos: o grupo existe sem ela?. Lógico que era uma grande força aqui dentro, sobretudo criativa. Mas acho que passamos por um processo muito bonito de reafirmação e de reencontro com a cena”, diz Gustavo Bones. Depois disso tudo, é sintomático que a criação do novo espetáculo comece durante o encontro Acto 3, marcado para o período de 20 a 30 deste mês. Na terceira edição do evento, os convidados são Cia Brasileira (PR), Grupo XIX (SP) e Magiluth (PE).

Cada um deles apresentará espetáculo inédito na cidade, respectivamente, Isso te interessa?; Nada aconteceu, tudo acontece, tudo está acontecendo; e Viúva porém honesta, além de participar de leituras e debates. “Esses grupos, junto com o Espanca!, fazem parte de uma comunidade. “Acho que é uma característica da nossa geração. Não somos só artistas, somos produtores. Ficamos felizes em viabilizar o trabalho do outro e isso de certa forma diz do nosso tempo, do teatro que a gente quer fazer”, propõe Gustavo Bones.

Guto Muniz/Divulgação
Grace Passô e Gustavo Bones em 'O líquido tátil', dirigido pelo argentino Daniel Veronese (foto: Guto Muniz/Divulgação)

POESIA E POLÍTICA

O novo espetáculo do Espanca! tem estreia prevista para julho, provavelmente no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB). Mesmo com a data marcada, no momento os atores trabalham com duas possibilidades de dramaturgia. Uma delas é uma versão estendida de Onde está o Amarildo?, cena curta apresentada no Galpão Cine Horto.

“Essa história das manifestações que o mundo está vivendo colocou para o teatro o desafio de continuar questionando a pólis, as relações sociais”, aponta Gustavo Bones. A peça é baseada no texto O envelope, do italiano Spiro Scimone. Há nela um interesse em investigar as fronteiras entre o real e o ficcional. “É um desejo de se colocar, falar da vida na cena, mas falar politicamente”, acrescenta Marcelo. A adaptação feita pelos integrantes do Espanca! será uma das leituras previstas para o Acto 3.

Tentando fazer uma peça que mude o mundo é a segunda opção. O texto, já encenado pela companhia chilena La Resentida, coloca cinco atores presos em uma sala de ensaios, com a proposta de sair de lá somente quando conseguirem criar alguma coisa que transforme o mundo. Se for essa a escolha do Espanca!, mais uma vez o grupo dedicará um espetáculo a pensar o teatro, como já fizeram em Marcha para Zenturo e O líquido tátil, dirigido pelo argentino Daniel Veronese

“Acho bonito o desejo de realmente fazer algo que contribua com essa utopia enorme que é a vida”, diz Marcelo Castro. Como o elenco é formado por cinco atores, Alexandre de Sena, Assis Benevenuto e Lira Ribas vão se juntar a Gustavo Bones e Marcelo Castro.

Seja um texto ou outro, o que não deve se alterar é uma característica presente desde o início da companhia. “É essa pesquisa sobre a dicotomia entre a poesia e violência. Tratamos de uma violência poética ou uma poética violenta. Escrevemos do lado de fora da sede uma frase que é meio um subtítulo pra nós: ‘Violentamente doce’”, conclui Gustavo.

BRASIL EM BOGOTÁ


Amores surdos foi o espetáculo escolhido pelos curadores do Festival bero-americano de Teatro de Bogotá para participar na edição que tem o Brasil como país homenageado. O espetáculo será apresentado entre 16 e 19 de abril, em castelhano. Serão ao todo seis espetáculos do Brasil: Till, a saga de um herói torto, do Grupo Galpão; O jardim, da Cia. Hiato; A dama do mar, produção do Sesc dirigida por Bob Wilson; Gonzagão, a lenda, de João Falcão; e Toda nudez será castigada, texto de Nelson Rodrigues em montagem de Antunes Filho.

TRAJETÓRIA DO ESPANCA!

» 2004- Apresenta cena curta Por Elise
» 2005 - Por Elise estreia no Festival de Teatro de Curitiba
» 2006 - Estreia de Amores surdos
» 2007 - Realização do Acto 1
» 2008 - Estreia de Congresso Internacional do Medo
» 2010 - Marcha para Zenturo, realização do Acto 2 e inauguração da sede
» 2012 - Estreia de O líquido tátil
» 2013 - Onde está o Amarildo?
» 2014 - Realização do Acto 3

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