André Burian apresenta trabalhos de projeto realizado no Aglomerado da Serra

Misto de pintura e fotografia, obras trazem influências do expressionismo

por Mariana Peixoto 20/02/2014 07:00

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André Burian/Divulgação
Imagem 'Quarto na Vila' do Cafezal, de André Burian, remete a 'Quarto em Arles', de Vincent Van Gogh (foto: André Burian/Divulgação)
“Este é um livro de ficção”, anuncia o autor no início da publicação. Ele é André Burian, criador mas também personagem de André Burian no Aglomerado, livro com imagens de impacto que, a partir do real, constroem uma história ficcional. Terceiro livro do artista – que lançou, a partir de 2010, André Burian em Belo Horizonte e André Burian em Ouro Preto – ganha lançamento hoje, na Quadrum Galeria, quando também haverá exposição das imagens que originaram o livro.


Durante um ano e meio, o artista foi a uma série de comunidades de Belo Horizonte – Morro das Pedras, Cabana do Pai Tomás, Santa Lúcia, Vila do Índio, Vila Pantanal etc. –, registrando o que chamava a sua atenção. “Sou tímido, a favela não é um lugar onde você pode tirar retrato do jeito que quer”, conta ele. Para registrar suas imagens, André utilizou três métodos. “No começo, pagava a uma moça que vive no Cafezal e ela me guiava lá dentro. Só que o povo da favela não gosta de ser fotografado, acha que tudo é denúncia, então senti muita tensão nessa forma de contato”, relata.

Num momento posterior, contou com a ajuda de Jorge Quintão, que desenvolve trabalho com crianças no Aglomerado Santa Lúcia. Conseguiu uma entrada maior, mas longe da ideal. Até que conseguiu novo “guia”. “Um geólogo da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), que havia me sugerido o livro, quatro anos atrás. As pessoas abriam suas casas para eles, não havia desconfiança”, continua.

Uma vez com as imagens em mãos, Burian ia para o ateliê, onde desenvolvia a pintura. Ele faz as projeções das fotografias e, em cima delas, pesquisa o material que pode utilizar na superfície. “Semente, areia, açúcar, vela, sabonete”, conta Burian, finaliza tudo no computador. “O grande momento da obra é justamente o ateliê”, acrescenta. “Coloro de um jeito superlivre. Coisas que ficariam ruins na imagem plana acabam se adaptando ao meu processo. A luz do projeto é o impressionismo de Van Gogh e Monet, mas com uma esquizofrenia nos olhos. O personagem (que conduz a narrativa) não é um cara brilhante, é semibobo.”

O narrador apresenta seu cotidiano de maneira simples. Denuncia os problemas, mas vê o futuro com otimismo. “Ainda não temos tudo”, escreve/ilustra com uma imagem de casas na Vila do Índio. “Mas já não nos falta nada”, complementa a partir de uma pia, com pratos de comida, numa residência na Vila do Cafezal. “Tenho a intenção de fazer 50 livros. Paris, Alasca, Japão, África... Os livros são meu grande projeto de vida, e gostaria de criá-los de forma mundial. O personagem está pronto e meu método, um pouco peculiar, não se vê todo dia”, finaliza Burian.

ANDRÉ BURIAN NO AGLOMERADO

Lançamento do livro e da exposição do artista.
Quinta, às 19h. Quadrum Galeria, Avenida Prudente de Morais, 78, Cidade Jardim. Até 22 de março.

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