
Alguns meses depois, quando já tinha bastante material armazenado, sobre o qual continuava trabalhando, comentou a respeito com o filho, o jornalista Fred Melo Paiva, colunista do Estado de Minas, que lhe deu um ultimato: “Você nos deve isso, pai, já está mais do que na hora de tornar públicas as suas memórias”. Foi a senha que David, inconscientemente, estava esperando para colocar de vez a mão na massa. O resultado vem agora, com o lançamento de Memórias dos abitantes de Paris.
O livro, que sai pela Editora Quixote, inaugura a série Moinhos. Outros trabalhos já estão a caminho. Como bom mineiro, David Paiva conta ainda que a decisão de publicar só veio depois que algumas pessoas leram o texto e deram o aval. “No livro, procurei mostrar uma visão crítica e pessoal do meu tempo de juventude, entre os anos de 1950 e 1960, que foi período conturbado politicamente e de mudanças comportamentais na vida brasileira que marcaram muito a minha geração”, diz.
Seleção Sem se preocupar com a ordem dos acontecimentos, Memórias dos abitantes de Paris começa em 1964, ano do golpe militar, dá voltas, caminha por lugares diversos, alguns até que David Paiva já julgava esquecidos – tudo descrito de forma leve, gostosa de ler – e termina um ano depois, em 1965. Uma coisa curiosa: de Araxá, onde nasceu em 1947 e passou a infância, até vir para BH, uns poucos registros, como a lembrança de quando a Seleção Brasileira se hospedou no Grande Hotel, enquanto se preparava para a Copa de 1958. E da publicidade também quase não fala.
A explicação, segundo David, está em dois motivos: o primeiro porque na época em que o livro termina, em 1965, ele ainda não tinha entrado para a publicidade, o que só veio a ocorrer dois anos depois; em seguida, porque – também no livro – ele gostaria de fixar sua aversão pela profissão, mesmo tendo dedicado a ela a maior parte de sua vida.
Como escreveu na página 294: “Entrei para aquela máfia de irresponsáveis em que os autores se escondem no anonimato dos inimputáveis, como as crianças e os índios, e garantem a remuneração alta e a completa impunidade, não importa o mal que espalhem, de cigarro a Paulo Maluf.”
Memórias dos abitantes de Paris
Lançamento do livro de David Paiva (Editora Quixote, 312 páginas, R$ 42). Hoje, a partir das 10h, na Quixote Livraria, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi. Informações: (31) 3227-3077.