Montagem mineira de 'Fedra e Hipólito' acerta em apostar na simplicidade

Com cenário minimalista e sem o arrebatamento de óperas clássicas, temporada será encerrada na sexta-feira

por Sérgio Rodrigo Reis 17/06/2013 06:00

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Paulo Lacerda/divulgação
Ópera de Christopher Park, dirigida por Fernando Bicudo, estreou cercada de recursos tecnológicos (foto: Paulo Lacerda/divulgação)
A ópera contemporânea 'Fedra e Hipólito', composta pelo americano Christopher Park neste século, tem a cara de seu tempo: é bem mais fria que as montagens tradicionais, embora tenha comunicação e melodia mais fáceis e funcione como espetáculo. Por outro lado, faltam aqueles momentos arrebatadores de clássicos do gênero.

Sábado, a estreia lotou o Grande Teatro do Palácio das Artes. Com concepção e direção artística de Fernando Bicudo, as cenas tentaram transportar o público para a Grécia antiga, palco da tragédia 'Hippolytus', de Eurípedes (480 a.C.). Em alguns momentos conseguiu-se isso. Em outros, nem tanto. Pessoas na plateia comentaram que o enredo soava um pouco confuso.

Na releitura de Park, Afrodite, deusa do amor, está enfurecida porque Hipólito, filho de Teseu, a rejeita enquanto presta homenagem a Ártemis, deusa da castidade, de quem é fervoroso devoto. Contrariada, Afrodite planeja vingança: faz com que a rainha Fedra, madrasta do rapaz, seja tomada de torrencial paixão por ele. Envergonhada, a soberana decide se suicidar – uma das mais belas cenas da ópera.

Tecnologia Largamente explorados por Bicudo, os recursos tecnológicos foram eficazes em alguns momentos, mas atrapalharam em outros. Funcionaram bem como uma espécie de “porta de entrada”, quando o público chegou e se deparou com o mar revolto projetado na enorme tela sobre a boca de cena. Porém, esses recursos se tornaram repetitivos e perderam a força no desenrolar do espetáculo, o que não chegou a prejudicar o resultado final.

'Fedra e Hipólito' consegue dar o seu recado. Essa montagem foi concebida com opções simples: cenário minimalista (a escadaria, com acréscimos de poucos elementos, transforma-se no fundo do mar e nos cômodos de um palácio), figurino de bom gosto e interpretações singelas, no bom sentido. Evitou-se expor a fragilidade dos corpos artísticos, driblando “armadilhas” vistas nas últimas óperas apresentadas na cidade, quando se exigiu demais dos artistas. Também houve cuidado para não evidenciar o desnível dos solistas, embora ficasse patente a superioridade da soprano Leila Guimarães, escalada para interpretar Fedra no sábado.

Louve-se o fato de que uma ópera local, desta vez parceria das Amigas da Cultura com a Fundação Clóvis Salgado, há tempos não funcionava tão bem no Palácio das Artes. A opção assumida pela simplicidade foi o saldo positivo, a despeito da divulgação pretensiosa, teimando em destacar o aspecto da “estreia mundial” de 'Fedra e Hipólito' como se esse fato, isolado, garantisse qualidade.

O espetáculo é bom. Correto, embora tenha faltado alguma emoção. A exceção ocorreu ao final da sessão de estreia: o maestro Luiz Aguiar, um dos responsáveis pela ideia de montar a ópera em BH, foi chamado ao palco para justa e merecida homenagem.

FEDRA E HIPÓLITO

Ópera de Christopher Parker. Terça, quinta e sexta-feira, às 20h30. Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. R$ 60 (inteira). Informações: (31) 3236-7400.

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