Belo Horizonte registra melhor índice de leitura entre as capitais, mas a média ainda é baixa

Especialistas exigem maiores investimentos em políticas públicas

por Ailton Magioli 07/02/2013 09:52

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(Maria Tereza Correia/EM/D. A. Press)
A estudante Thaíssa Reis se prepara para o vestibular, mas na hora do lazer não abre mão de romances policiais (foto: (Maria Tereza Correia/EM/D. A. Press))
A presença, principalmente de jovens, no prédio anexo da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na região Centro-Sul da capital, é animadora. Mas os números sobre leitura no Brasil, revelados pela recém-divulgada pesquisa Ibope Media, ainda são considerados “muito ruins” por Fabíola Ribeiro Farias, chefe do departamento de coordenação das bibliotecas e promoção da leitura, da Fundação Municipal de Cultura (FMC) de Belo Horizonte. Ainda que BH seja apontada como uma das cidades com maior índice de leitura entre as capitais do país, com 41% dos leitores.

O Target Group Index, do Ibope Media, entrevistou 20.736 pessoas entre julho de 2011 e agosto de 2012, de ambos os sexos, das classes AB, C e DE, com idade entre 12 e 75 anos. Porto Alegre ficou empatada com a capital mineira, seguida de Brasília, com 37% dos leitores. Nacionalmente, 33% dos entrevistados disseram ter lido um livro nos últimos 30 dias; 53% declararam a leitura frequente; enquanto 47% afirmaram que só recorrem à atividade ocasionalmente. A pesquisa também foi realizada nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e nos interiores de São Paulo e das regiões Sul e Sudeste.

Em um universo de 100 pessoas, 40% leem algum livro em Belo Horizonte. “Que bom que nós nos destacamos no cenário nacional, mas ainda não é para comemorar”, adverte Fabíola Ribeiro Farias, lembrando que quem ganha até quatro salários mínimos não pode comprar sequer um livro por mês. “Então, a forma de acesso à leitura é a biblioteca pública, que atende todo mundo”, consola-se a coordenadora, admitindo que a capital está no caminho certo.

Responsável pela ação de 19 bibliotecas públicas municipais, 15 das quais em funcionamento dentro de centros culturais, Fabíola ainda contabiliza mais três bibliotecas regionais (bairros Renascença e das Indústrias/Barreiro e Morro do Papagaio), sob sua responsabilidade, equipamentos por meio dos quais o departamento que chefia oferece atividades de estímulo à leitura. Paralelamente, segundo afirma, a FMC ainda apoia as ações da sociedade civil no setor, responsável pela manutenção de cerca de 30 bibliotecas comunitárias na capital e outras 45 na Grande BH.

Policial e vestibular


Presença diária na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, a estudante Thaíssa Alcântara Reis, de 21 anos, tem aproveitado o ambiente para a leitura de livros de biologia e ensino médico, visando ao vestibular de medicina. Nas horas de lazer, no entanto, diz que prefere a leitura dos romances policiais de Agatha Christie (1890-1976), além das aventuras do detetive Sherlock Holmes, criação de Conan Doyle. O último livro que leu foi 'Assassinato no campo de golfe', de autoria da autora britânica, considerada a “rainha do crime”.

Estrategicamente localizada entre a Praça da Liberdade (prédio-sede) e a Rua da Bahia (Anexo Professor Francisco Iglésias), a principal biblioteca do estado serve de modelo para as 839 existentes em toda Minas Gerais, segundo levantamento de 2009. Como faz questão de lembrar Marina Nogueira Ferraz, diretora do sistema estadual de bibliotecas públicas municipais, esse número está em constante mudança diante da abertura e/ou fechamento das unidades existentes em todo o estado. Com cerca de 250 mil títulos, a Luiz de Bessa tem o acervo dividido entre os dois prédios, nos quais abriga as coleções de empréstimo, de referência, infantojuvenil, obras raras e a Mineiriana, além de hemeroteca e do setor de braile.

No prédio anexo, o setor de maior movimento é o de empréstimos domiciliares, onde a estudante Thaíssa Alcântara Reis vai todo dia estudar para o vestibular. A exemplo dela, os irmãos Ricardo Freitas e Rosemberg Freitas Duarte também elegeram o local para pesquisas e estudos voltados para concursos. “Aqui, além de estudar a gente troca ideias”, garante o irmão mais velho, Rosemberg, de 28 anos. Tanto ele quanto Ricardo, no entanto, acabam revelando prazer pela leitura, seja ela técnica voltada para o lazer e a cultura.

Fortalecer o equipamento público para a leitura é o objetivo da Fundação Municipal de Cultura que, com o fim da primeira etapa de implantação do Plano Municipal de Cultura, ainda este ano, irá implantar, também, o Plano Municipal de Leitura, Literatura e Bibliotecas. “Já começamos a fazer mobilização e sensibilização para que o plano se construa ao longo de 2013”, anuncia Fabíola Ribeiro Farias, lembrando que este será resultado da parceria entre poder público e sociedade civil. “A ideia é que a cidade inteira se envolva no formulação do plano”, conclui a representante da FMC.

De acordo com a diretora do sistema estadual de bibliotecas públicas municipais, Marina Nogueira Ferraz, família, escola e biblioteca são os três ambientes responsáveis por criar e influenciar o hábito da leitura. Para ela, o resultado da pesquisa do Ibope prova que todos eles estão funcionando de forma satisfatória. “O grande desafio agora”, deseja Marina, “é conseguir que as classes D e E entrem para a estatística também.”

Na opinião da diretora do sistema estadual de bibliotecas públicas, é preciso levar adiante as ações que tenham o texto e o livro como objetos principais. Entre os destaques de 2013 está a comemoração dos 90 anos de nascimento de Fernando Sabino (1923-2004), em 12 de outubro. De acordo com levantamentos do órgão, a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa atraiu público de 107 mil pessoas no ano passado, antecedido de 112 mil (2011) e 116 mil (2010).

Raízes fortes

Da passagem da psicóloga e pedagoga russa Helena Antipoff (1892-1974) pelas Minas Gerais, nos anos 1930, ao advento do computador, que permite ao usuário ler um livro eletrônico em seu próprio aparelho celular, a leitura passou por uma verdadeira revolução. “A biblioteca hoje está nas mãos de todos, que podem ler de graça clássicos de Victor Hugo (1802-1885) e Machado de Assis (1839-1908)”, comemora Affonso Romano de Sant’anna.

O escritor, que nos anos 1990 presidiu a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), é autor do livro 'Ler o mundo', no qual retrata experiências na direção do órgão. Para ele, que também criou o programa Uma biblioteca em cada município, só mais recentemente implantado pelo governo, o fato de o Rio Grande do Sul e Minas Gerais liderarem o índice nacional de leitura na pesquisa do Ibope tem uma conexão.

 “Enquanto Leonel Brizola (1922-2004) implantava escolas no Sul inteiro no governo dele, Minas Gerais provavelmente fazia alguma coisa, que vem desde os anos 1930, com a reforma no ensino promovida por Francisco Campos (1891-1968), que trouxe Helena Antipoff para o estado”, recorda da escola-modelo criada à época. Ex-aluna de Antipoff, aos 96 anos, Elza de Moura lembra Affonso. É a única remanescente daquela fase áurea.

O POVO FALA

 

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