Projeto do EM busca saber dos leitores experiências marcantes em relação às artes cênicas

Relatos podem ser enviados na página do projeto Expedição Cultural

por Tiago de Holanda 08/01/2013 08:18

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Ellie Kurttz Globe Theater /Divulgacao
Cena de uma peça realizada pelo Galpão, de Belo Horizonte, um dos três grupos de Minas selecionados para participar da edição deste ano da promoção do EM (foto: Ellie Kurttz Globe Theater /Divulgacao)
Quando for assistir a uma apresentação de teatro, dança ou circo, fique atento: algo extraordinário pode acontecer. Você pode ser invadido por uma infinidade de sentimentos que nem pressentia. O mundo que conhecia até então pode ser substituído por um novo, no qual pessoas, lugares, amores e ódios ganham outros sentidos. Não importa se o espetáculo é trágico, cômico, dramático ou épico. Depois que soarem os aplausos, a vida, de repente, pode convidá-lo a seguir rumos inexplorados e atraentes.

Realizada pelo EM, a terceira edição do projeto Expedição Cultural convida o leitor a responder à pergunta: “Qual a experiência mais marcante que você já viveu com as artes cênicas?”. Tanto faz se o participante estava na plateia ou no palco, se riu ou chorou. O relato deve ter no máximo 600 caracteres e ser enviado até o dia 20 deste mês, pelo site www.expedicaocultural.com.br. O concorrente pode mandar quantas histórias quiser e precisa ser brasileiro, maior de 16 anos, ter CPF válido e residir em Minas Gerais. Uma comissão julgadora escolherá a melhor história com base em quatro critérios: criatividade, originalidade, estrutura literária e emoção.

O autor do relato vencedor ganhará uma viagem com um acompanhante para o destino que escolher, entre as seguintes opções: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. A premiação inclui passagens aéreas, hospedagens, traslados e três refeições diárias. A viagem é de um tipo especial, com roteiro voltado a atrações culturais. As pessoas que escolherem a capital nordestina, por exemplo, poderão ir aos museus de Arte Moderna da Bahia e Rodin e a outros endereços importantes, sempre na companhia de guias turísticos. Também terão a oportunidade de assistir a um espetáculo de artes cênicas e visitar seus bastidores. Além disso, jantar e almoço serão feitos em alguns dos melhores restaurantes da cidade.

HISTÓRIAS
Uma das pessoas que se cadastraram e já mandaram histórias pelo site do projeto é o ator e autor de teatro Mauro Alvim, de 56 anos, que relatou uma recordação da infância: “Com poucos anos de idade, fui a um circo que chegou a BH. Ali eu vi um mundo encantado em que homens e animais faziam coisas que nem nos meus sonhos eu imagina, e o que mais me encantou foi o palhaço de cara pintada, que me fez rir muito. A partir daí, tomei gosto pela arte circense e teatral”.

Alvim diz que tinha quatro anos quando foi ao circo pela primeira vez, levado pelo avô. “Depois disso, até me deu vontade de ser palhaço. Na época, sugeri à minha família que montássemos um circo e saíssemos viajando, nos apresentando. Na escola, tudo que a professora me mandava desenhar estava relacionado com circo: palhaço, trapezista”, lembra, rindo.

Ao saber do concurso, não teve dúvida na hora de decidir a história que enviaria. “A primeira coisa que me veio à cabeça foi o circo”, ressalta. E como foi bom contar uma experiência tão gostosa. “Me deu muito prazer. Qualquer coisa que venha a fazer pensar em arte, como esse concurso, é válida”, considera.

 

Momentos extraordinários na plateia

 

O projeto Expedição Cultural não se resume ao concurso. Uma equipe de jornalistas – repórter e fotógrafos – está percorrendo seis estados brasileiros para mostrar como os bastidores e a rotina de ensaios de 10 dos mais importantes grupos de artes cênicas do país. Pela internet, o público escolheu os grupos a partir de uma lista de 20 opções selecionadas por uma comissão especializada. No site do projeto, há um diário de bordo em que os jornalistas contam parte do que encontram pelo caminho e um pouco da história de cada um dos grupos. Em 24 de fevereiro, encartada junto com uma edição do Estado de Minas, vai ser publicada uma revista contando toda a expedição, com textos e fotos inéditas.

Dos 10 grupos escolhidos em votação popular, três estão sediados no Nordeste: Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte; Bagaceira, do Ceará; e Dimenti, da Bahia. Outros três são do Rio de Janeiro: Nós do Morro, Cia. Armazém e Teatro Anônimo. Um é de São Paulo: Cia. São Jorge de Variedades. E três são de Belo Horizonte: Galpão, Giramundo e Officina Multimédia. “Há semelhanças muito grandes entre esses grupos. Todos têm a sua base de trabalho na pesquisa de linguagem e na formação coletiva. Todos cultivam a ideia do trabalho compartilhado, do grupo como lugar da criação artística”, analisa o coordenador do Festival Internacional de Teatro (FIT) de Belo Horizonte, o ator e diretor teatral Marcelo Bones.

Para inspirar os participantes do concurso da Expedição Cultural, integrantes de dois grupos se dispuseram a responder, fora de competição, a mesma pergunta. Eles relataram experiências vividas na plateia, como espectadores, e no palco, como artistas. Georgette Fadel, vencedora do Prêmio Shell de Melhor Atriz em 2007, com a peça Gota D'água – Breviário, tem 38 anos e faz parte da Cia. São Jorge de Variedades, de São Paulo. Quando ela era pré-adolescente, algo extraordinário aconteceu ao assistir a um monólogo do ator Ayrton Salvanini. “Ele foi responsável por meu gosto pelo teatro. Em 1985 ou 1986, na escola onde eu estudava, ele foi representar poemas dos heterônimos mais conhecidos do (português) Fernando Pessoa. Em um palco vazio, sem luz, sem nada. Aquilo me marcou profundamente. Pedi para os meus pais comprarem um livro com poemas de Pessoa e passei a declamar, representar. Trancada no banheiro, na frente do espelho. Foram meus primeiros textos decorados”, recorda.

UNIÃO

Outra experiência de Georgette foi vivida por ela há um ano, quando ela e companheiros de sua companhia teatral estavam criando o espetáculo Barafunda. “Ele foi concebido coletivamente, pelas sete pessoas do grupo. Você imagina a quantidade de opiniões, brigas, oposições que rolaram durante os dois anos de processo. A gente disputando até chegar às melhores ideias”, explica. “Teve um dia em que estávamos reunidos em torno de uma mesa. A gente precisava de uma decisão muito forte sobre o roteiro. Tínhamos várias versões, mas precisávamos chegar a uma ideia conjunta. Então, fizemos cinco minutos de silêncio. Ficamos olhando um para cara do outro, só pensando, pensando. De repente, os sete disseram a mesma coisa! Tivemos a mesma ideia, ao mesmo tempo! Foi uma coisa completamente memorável.

 

Grupo mineiro como exemplo

 

César Ferrário, de 38 anos, é ator do grupo Clowns de Shakespeare, de Natal (RN). Na plateia, o espetáculo que mais o marcou foi apresentado pelo grupo mineiro Galpão. “Foi em 2000 ou 2001, aqui em Natal. Uma montagem de Romeu e Julieta, de Shakespeare. Nosso grupo ainda era amador e a gente já tinha lido sobre esse espetáculo, já o admirava a distância. Só que, no dia da apresentação, que era a céu aberto, desabou um temporal e ela foi cancelada”, narra. “No dia seguinte, o Galpão viajaria às 15h, mas o pessoal decidiu adiar a partida para não decepcionar a plateia. Acabaram apresentando a peça e toda a nossa expectativa foi muito bem recompensada. É uma das mais importantes montagens da história recente do teatro brasileiro, nos influenciou em todos os sentidos”, avalia.

Como ator, a experiência que mais tocou César se passou em 2005. Foi quando seu grupo fez duas apresentações da peça Muito Barulho por Quase Nada, também de Shakespeare. A primeira delas ocorreu na pequena cidade de Pureza, no interior potiguar. “Lá não tinha teatro. A gente ia fazer a apresentação em um ginásio esportivo, mas ele tinha desabado, após um temporal. Tivemos que nos apresentar em uma pequena escola, na zona rural. Era domingo à noite e havia umas 30 pessoas na plateia. O ambiente era absolutamente inóspito. Apesar disso, foi uma de nossas apresentações mais vivas, de maior entrega, de estar pleno no exercício da nossa profissão, de compreender a importância do ofício. E percebíamos um interesse do público na mesma proporção.”

Uma semana depois, a mesma peça foi apresentada em um endereço completamente diferente: o Sesc Consolação, em São Paulo. “É um palco fabuloso, que tem um histórico de grandes montagens teatrais”, descreve César. O contrate entre os dois momentos, tão díspares, foi revelador para o grupo. “Há um abismo entre uma realidade e outra. Vimos como o teatro pode ser uma ponte transversal, que costura tudo isso, que toca valores que estão além de questões econômicas. O teatro acaba sendo uma ponte universal.”

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