“Sou fiel ao que me dá prazer”, avisa o pintor Sérgio Telles. “Gosto de cidades que unem referencial aos mestres do passado e do presente, que têm arquitetura com certa harmonia, que trazem o prazer da contemplação”, diz. Não esconde encanto por Paris, Lisboa, Ouro Preto. Visita a última há mais de meio século. “Sou barroco”, afirma, declarando-se avesso à monotonia de retas, paralelas, e inclusive da cor, de cidades como Nova York (“lá só pinto no Central Park”) ou Brasília (“o que posso fazer é pintar o céu”). “Não é preconceito, mas questão de emoção”, observa.
“Sou uma espécie de cronista do dia a dia, do cotidiano, da vida. É o que me interessa”, afirma, observando que, a partir desse enfoque, vai incorporando outras referências. “Não tenho preocupações de fidelidade com o real, não temos de ser reféns dele”, afirma. “A referência dos meus trabalhos é a emoção, o olhar”, avisa. Mudar de ambiente, para Sérgio Telles, é importante para um artista. “Traz mistura de perplexidade e encanto se defrontar com outras luzes, cores, pessoas diferentes”, garante. Ficou surpreso, no Japão, quando um octagenário, vendo que ele estava pintando, num dia de calor, cuidou de protegê-lo, durante horas, com um guarda-sol.
Olívio Tavares Araújo, em texto sobre Sérgio Telles, que leva o título de Beleza distribuída a todos, escreve que o artista é um infatigável viajante, observador atento e voraz, sempre curioso por ver paisagens novas, pessoas, trajes e costumes. “O olhar, pincéis e espátulas de Sérgio Telles conseguem dar conta da vida de alguém que teve a sorte de conhecer praticamente o mundo todo. Ele faz pintura esfuziante sobretudo nos quadros feitos nessas andanças longínquas”, observa. “A arte, para ele, continua sendo exercício de ter e dar prazer. Não instila angústias em sua pintura, nem questões filosóficas ou existenciais, nem estilísticas. Artisticamente, é um conservador assumido”, escreve.
Para o crítico, a liberdade do desenho e o gesto nervoso deixam claro que Sérgio Telles não é um acadêmico, mas um autor que teve aprendizado sólido da técnica. “Sua linguagem sempre foi figurativa, ancorada em valores permanentes como composição, pincelada, cromatismo; e circunscrita a temas tradicionais: paisagem, natureza-morta, flores, o interior do próprio ateliê, festas, grupos humanos, bordeis, formando o que Francisco Bethencourt, diretor do Centro Cultural Calouste Gulbekian, chamou de geografia de afetos.” Trata-se pintura “modernamente clara em seus propósitos e instrumentos”, pertence ao âmbito lírico e expressivo, sem entretanto entrar em choque com a racionalidade.
Sérgio Telles
Exposição de pinturas e aquarelas, na Errol Flyn Galeria de Arte, Rua Alagoas, 977, Savassi, (31) 3318-3830. Aberta de segunda a sexta, das 9h às 19h; sábado, das 10h às 14h. Até 8 dezembro. Entrada franca.