Antônio Henrique Amaral, Cláudio Tozzi e Ivald Granato comemoram 50 anos de ofício

Obras do trio podem ser conferidas até sábado, na Errol Flynn Galeria de Arte, em Belo Horizonte

por Walter Sebastião 28/10/2012 09:19

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Leandro Couri/EM/DA Press
Da esquerda para a direita: o tropicalista Cláudio Tozzi, o artista plástico paulista Antônio Henrique Amaral e Ivald Granato (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


“Sou infiel a todas as estéticas”, afirma o pintor Antônio Henrique Amaral, de 77 anos. “Sinto o peso da idade no corpo. Na arte, tenho a mesma alegria de quando tinha 15 anos”, garante Ivald Granato, de 63. “Faço abstração simbólica, construída. Esse caminho foi desenvolvido quando, depois do AI-5, ficou impossível criar obras com mensagem social e política”, conta Cláudio Tozzi, de 68.

Obras do trio podem ser conferidas até sábado, na Errol Flynn Galeria de Arte, em Belo Horizonte. Há meio século, os três paulistas trazem contribuições para o que se convencionou chamar de arte contemporânea brasileira. Participaram de movimentos com gosto pela contestação – tropicalismo, pop, conceitual, neoexpressionismo – e prezam a independência estética, a irreverência e a provocação.

Antônio Henrique exibe trabalhos dos anos 1980/1990. “São a pintura e o desenho por si, com integridade, independentemente de modas”, afirma. “É vida, liberdade de fazer arte sem me prender à coerência. Sou incoerente confesso. Não tenho ideologia estética”, provoca. Esse caminho foi trilhado a partir dos anos 1970, depois da série em que, valendo-se da banana, ele fez sarcástico comentário sobre o clima repressivo imposto pela ditadura militar. “Éramos um país de terceira categoria, com generais dando as cartas e achando que éramos idiotas. Hoje sou outro. Retomei o caminho de antes das bananas, mais subjetivo”, explica.

Cláudio Tozzi apresenta pinturas dos últimos oito anos. Diz que o conjunto traz caráter construtivo, alusivo à paisagem urbana. “Mas não é a cidade, são detalhes, relações entre cor e forma. A referência ao real é muito distante. É pensamento sobre o espaço”, explica. No fim dos anos 1960, obras dele se inseriam no contexto tropicalista. “Foi um momento de grande repressão à cultura e aos movimentos sociais. Hoje, faço abstrações simbólicas.”

Ivald Granato expõe uma pintura de 1999 e série realizada a partir de 2009. “São gestos, formas e figuras, o que tenho na cabeça na hora em que estou pintando. Chego diante da tela e mando bala, sem tentar determinar algo específico”, resume.
A galeria fica na Rua Alagoas, 977, Savassi. Funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 13h. Informações: (31) 3318-3830.

Duas perguntas para os três pintores

Cinquenta anos dedicados à arte. Isso é muito?

Antônio Henrique Amaral – É muito, demais. Mas fiz pouco, comparando a outros artistas: uns 2 mil desenhos e cerca de 1 mil pinturas. A arte de hoje é novidade permanente para nós, sobreviventes do século 20. Estamos descobrindo nova maneira de ver, fazer e sentir.

Cláudio Tozzi – A linguagem está sempre se transformando. As novas linguagens sempre colocam perguntas ao trabalho e fica-se querendo respondê-las.

Ivald Granato – Não notei que se passou meio século. Minha pintura continua parecendo viva, alegre, jovem. O complicado é cuidar de tudo o que você fez. Dá mais trabalho que criar obras, o que é sempre um prazer.

O que se aprende em meio século?

AHA – Que nunca se domina a linguagem. Ela é maior do que a gente. Hoje, mais do que nunca, não sei o que é arte.

CT – Tem-se um pouco mais de segurança. Se alguém pede um trabalho, um painel, algo diferente, você tem mais experiência para resolver.

IG – Deixar uma obra, deixar um legado de primeira linha. O bom é que você não parou. Em arte, não existe aposentadoria. Diariamente, você acorda animado pelo espírito inovador, querendo fazer mais.

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