Inhotim se prepara para expansão com abertura de novas galerias

Lygia Pape e Tunga estão entre os artistas que ganham espaço fixo no local; novas mostras temporárias também são programadas

por Sérgio Rodrigo Reis 23/08/2012 08:22

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Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Galeria criada pelos arquitetos Thomaz Regatos e Maria Paz para abrigar a obra de Pape parece brotar do chão (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
 

Quando resolveu desviar boa parte de sua energia para a criação de Inhotim, reserva botânica com galerias e obras de arte contemporânea a céu aberto na cidade de Brumadinho, o visionário Bernardo Paz não tinha ideia da proporção que o projeto alcançaria. De território desconhecido, o lugar virou referência internacional e, na mesma proporção, vieram dúvidas em relação ao futuro e ainda ácidas críticas. Prestes a inaugurar uma nova expansão, em 6 de setembro, com duas grandes galerias dedicadas aos trabalhos dos artistas plásticos Lygia Pape e Tunga, o empresário continua incomodado com as vozes dissidentes. “É inadmissível que um negócio desse porte tenha ocorrido aqui e não em Londres ou Nova York. As pessoas não aceitam. Daí as críticas.”

A proporção do empreendimento impressiona até o próprio criador. “Quis fazer algo para deixar um legado. Ultrapassou. Os artistas mais famosos do mundo, como o indiano Anish Kapoor e o dinamarquês Olafur Eliasson querem colocar obras aqui, a preço de custo, e não posso deixar de fazer uma galeria deles. Inhotim vai se transformar no maior espaço mundial de arte contemporânea, que educa.” A ordem é: “Não entra nenhuma obra aqui que a criança não possa entender”. Com olhar tenso diante do ritmo frenético dos últimos ajustes das galerias, ele se exalta com a pergunta sobre onde quer chegar: “Eu quero é morrer!”, diz ele, para em seguida emendar: “Não me preocupo se valeu a pena ter feito tudo isso. Tenho a impressão de que valeu a pena para o mundo”. A nova expansão justifica a falta de modéstia do empresário.

Situado na depressão de uma encosta de Inhotim está um prédio de 450 metros quadrados, um dos mais interessantes do lugar, criado pelos arquitetos Thomaz Regatos e Maria Paz, sobrinha do empresário. O edifício, que começa a ser envolvido pelas trepadeiras, parece brotar do solo. Lá dentro, já aberta ao público, está Ttéia 1C (2002), espécie de síntese do trabalho da fluminense Lygia Pape (1927-2004), uma das principais representantes do neoconcretismo, movimento surgido no Rio, em fins dos anos 1950, como reação ao concretismo ortodoxo. Indo além do geometrismo puro, os seguidores dessa corrente expressiva defendiam que as produções não eram meros objetos, mas sim algo capaz de provocar também sensibilidade, expressividade e subjetividade. A experiência de ver de perto Ttéia comprova a teoria.

Depois de passar pelos corredores escuros o visitante entra numa sala com quase ausência de luz. Lá dentro, como se flutuassem diante dos olhos do espectador, estão 13 colunas de emaranhados de fios geometricamente instalados do teto ao chão. À medida que se circula no espaço, por ilusão de ótica e efeitos de luz, alguns parecem sumir e reaparecer, criando uma experiência de rara beleza. “É impactante e impressionante. Como se estivesse ali e, ao mesmo tempo, não. É o visível e o invisível. Parece uma obra feita de luz”, fala a estudante mexicana Sofia Ramos, de 19 anos. A aposentada peruana Mariana Panizo, que quando jovem estudou arte, se encantou com o que viu. “É uma obra bem particular. Em Lima, não tem nada igual. As composições, os jogos de transparência e os raios de luzes se cruzando são bastante interessantes.”

Os 5.542 metros de fios dourados e 1.848 pregos de latão revestidos com material dourado que formam a instalação Ttéia são resultado de pesquisas realizadas pela artista no início de 1977 com alunos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio. Inicialmente, os fios foram esticados na natureza. Nos anos 1990, ela retomou o projeto utilizando malhas lançadas entre prédios espalhados na cidade. O formato atual, com os fios metalizados, apareceu no fim daquela década e, ainda hoje, mantém a mesma força. “Foi um choque quando vimos aqui. Depois de entrar num corredor escuro e, de repente, deparar com um trabalho desses, tive uma reação de espanto. Percebo o mesmo nos visitantes”, conta o monitor Jan Michel, de 17 anos.

Inéditos

O artista plástico Tunga, este ano, amplia sua atuação em Inhotim. Bernardo Paz credita a ele o feito de tê-lo sensibilizado para a arte contemporânea. Até então, colecionava modernistas. “Não é que o Tunga é meu preferido. Na realidade, foi ele quem me introduziu na arte contemporânea.” A retribuição parece ter vindo à altura. Além de ter ganhado, há oito anos, um pavilhão onde se encontra a instalação True rouge (1997), agora terá um enorme prédio de 2,6 mil metros quadrados de paredes de vidro, de quatro pavimentos que se comunicam visualmente, onde estarão seis grandes instalações e esculturas cobrindo mais de 30 anos de produção. Entre os trabalhos, alguns inéditos na coleção, como a filme-instalação Ão (1980), trabalho matricial na sua carreira, e outras nunca vistas no país, como À la lumière dês deux mondes (2005), apresentada originalmente no Museu do Louvre, na França.

Inhotim
Inauguração de novos pavilhões e obras ao ar livre. Dia 6 de setembro, das 9h30 às 17h, na sede do instituto (Rua B, 20, Brumadinho). Entrada: R$ 28 (inteira). Informações: www.inhotim.org.br


O que vem por aí

• Carlos Garaicoa
Conhecido por esculturas, desenhos e instalações que analisam de forma poética a experiência do homem nas grandes cidades, o artista cubano ganha instalação em Inhotim. Now let’s play to disappear II (2002), obra inspirada na sua vivência em Havana, consiste em mesa ocupada por miniaturas de edifícios famosos transformados em velas, que serão acesas diariamente, num antigo estábulo de fazenda do lugar.

Cristina Iglesias
De origem espanhola, trata da interação do espectador com a arquitetura da casa e a natureza. A obra Vegetation room Inhotim (2010-2012) foi concebida especificamente para uma pequena clareira em uma das matas. Lembra um labirinto onde as paredes externas são de aço inoxidável, refletindo as vegetações no entorno e, internamente, são cobertas por baixos-relevos inspirados em plantas. Uma surpresa aguardará o visitante dentro da obra.

Galeria Mata
Anualmente, Inhotim reinstala numa de suas quatro galerias novas mostras temporárias. O objetivo é oferecer outros recortes e interpretações do acervo, sejam novas aquisições ou obras já apresentadas, em leituras que priorizam o diálogo entre gerações, linguagens e nacionalidades. Este ano, a Galeria Mata receberá mostra com obras de Edward Krasinski, João José Costa, Juan Araujo, León Ferrari, Luisa Lambri e Mateo López.

Futuro
Inhotim não para. Para os próximos anos, inúmeros projetos deverão sair do papel, como uma pousada e novas galerias. Atualmente, são 20 galerias e 25 obras externas, o que confere a necessidade de pelo menos dois dias para se conhecer o lugar. Para 2014, deverá ser inaugurada a Grande Galeria. Entre as futuras opostas está Lygia Clark. “Gostaríamos de tê-la na coleção, mas não colocamos data. Atualmente, estamos com 20 conversas evoluídas com artistas ou suas famílias e vamos tocando. No fim de cada ano reunimos e definimos as prioridades”, explica o curador Rodrigo Moura.

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