Glória Menezes se divide entre o trabalho na televisão e no teatro

Aos 77 anos, estrela do único filme brasileiro que ganhou a Palma de Ouro em Cannes quer voltar a fazer cinema

por Helvécio Carlos 06/08/2012 08:49
Fabrício Mota/TV Globo
(foto: Fabrício Mota/TV Globo )
 
Os primeiros cinco minutos ao telefone com Glória Menezes são suficientes para perceber que é uma mulher muito educada, objetiva e apaixonada pelo ofício ao qual se dedica há 52 anos. Mas só no finalzinho do bate-papo de quase meia hora ela demonstra o que só os colegas de profissão conhecem: é muito bem-humorada. “Tenho meus maus humores, mas sou divertida”, resume a atriz, que volta a Belo Horizonte no fim desta semana para apresentar a peça Ensina-me a viver, há cinco anos em cartaz. 
Aos 77 anos, ela exibe vigor invejável. Na última década, Glória não tirou os pés do palco, mesmo enquanto trabalhava na televisão. Com Ensina-me…, são cinco anos na estrada. Sábado, em BH, a peça terá duas sessões seguidas. Antes disso, houve a temporada de três anos de Jornada de um poema, de Margaret Edson, com direção de Diogo Vilela, e outros dois com Ricardo III, de Shakespeare, peça dirigida por Jô Soares.
ALEGRIA  Glória Menezes atuou em A favorita, novela de João Emanuel Carneiro, no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que encenava Ricardo III em São Paulo. Isso se repetirá agora com a minissérie Loucos por ela, de João Falcão. A segunda temporada será gravada a partir de setembro em meio às viagens da turnê de Ensina-me a viver. 
O vaivém entre teatro e televisão não é surpresa para quem conhece a trajetória da atriz. Ela estreou nos anos 1960 com a peça As feiticeiras de Salem, de Artur Miller, dirigida por Antunes Filho. O papel lhe rendeu o prêmio de coadjuvante. Sua primeira telenovela, 2-5499 ocupado, era a adaptação de Dulce Santucci para o original do argentino Alberto Migré, com direção de Tito Di Miglio.
Mas o melhor estava por vir. Em 1962, Glória foi convidada para o elenco de O pagador de promessas, de Anselmo Duarte. Esse foi o primeiro longa brasileiro premiado no Festival de Cannes. “Ele foi importante não só para minha carreira, mas para a história do cinema nacional. Basta dizer que foi o nosso único filme que ganhou a Palma de Ouro”, comenta a atriz, lembrando que o país inteiro vibrou. “Desfilamos no carro do Corpo de Bombeiros. Nas ruas, as pessoas acenavam com bandeirinhas como se fosse fim de Copa do Mundo. Cinco décadas depois, vejo como o cinema brasileiro está cada vez melhor. Tanta gente nova aparecendo, tantos bons diretores.”
O currículo de Glória não traz muitos trabalhos na telona. “Tenho feito poucos filmes, mas sempre digo aos diretores: ‘Estou aqui. Se me convidarem, faço’.” O último longa-metragem em que trabalhou, Se eu fosse você, estreou em 2006.
A galeria de personagens interpretadas por Glória Menezes é imensa. Algumas ficaram na história, como Maria de Lara, Diana e Márcia (ela vivia a moça com múltiplas personalidades em Irmãos Coragem), Ana Preta (Pai herói), Jordana (Jogo da vida), Rosemere da Silva (Brega e chique) e Laura (Senhora do destino).
Para a atriz, o que define a importância de um personagem é a sua construção. “O papel mais importante é aquele que recebo. Esse é o desafio. Sempre me pergunto: ‘Vou conseguir?’ O que já fiz já foi.” Mas ela reconhece: é uma artista privilegiada. “Não posso dizer o contrário. Há pessoas com talento até maior do que o meu, mas elas não conseguiram chegar onde cheguei. Por trás do talento há sempre uma dose de sorte”, admite.
Glória não faz distinção entre uma linguagem e outra. “Não ligo se é para televisão, teatro ou cinema. Prefiro que me deem sempre um bom personagem.” A cada personagem ela empresta um pouco de si. Violeta, a vovó bem-humorada da série Loucos por ela, por exemplo, é a cara de Glória. “Sou assim. Tenho uma alegria muito grande de viver”, afirma a atriz, prestes a completar 80 anos. “Prestes não, né? Faltam uns aninhos. Prestes é como se fosse no mês que vem. Tenho 77”, brinca ela. “Não penso muito nisso. Se pensar demais, o tempo começa a diminuir. Prefiro viver o presente, preparando o futuro.”
 
‘O que importa é o amor’
Glória Menezes tem três filhos. Um deles com o ator Tarcísio Meira. Os outros com o primeiro marido, “com quem me casei muito cedo, aos 17 anos”, conta. A atriz se diverte com tamanha precocidade: “O bom de casar cedo é que já tenho bisneto”. A parceria com Tarcísio completou 49 anos. “Não tenho receita para garantir a longevidade de uma união. Sei que é difícil manter relacionamento a dois, mas, para o casamento durar tanto tempo, o que realmente importa é o amor. Sentindo amor, você sente prazer de estar com a pessoa, tem cumplicidade e respeito. Respeitar a individualidade do outro é muito difícil. Às vezes, querendo ajudar, você se mete e acaba atrapalhando tudo”, conclui.
 
» Glória na TV…
1963 – 2-5499 ocupado
1964 – Uma sombra em minha vida
1964 – Eu e você
1965 – A deusa vencida
1965 – Pedra redonda, 39
1966 – Almas de pedra
1967 – Sangue e areia
1967 – O grande segredo
1968 – Passo dos ventos
1969 – Rosa rebelde
1970 – Irmãos Coragem
1971 – O homem que deve morrer
1973 – O semideus
1973 – Cavalo de aço
1975 – O grito
1977 – Espelho mágico
1979 – Pai herói
1981 – Jogo da vida
1983 – Guerra dos sexos
1984 – Corpo a corpo
1987 – Brega e chique
1988 – Tarcísio e Glória
1990 – Rainha da sucata
1992 – Deus nos acuda
1995 – A próxima vítima
1996 – Vira-lata
1998 – Torre de Babel
2001 – Porto dos Milagres
2001 – Mundo VIP
2002 – O beijo do vampiro
2004 – Senhora do destino
2004 – Da cor do pecado
 2004 – Um só coração
 2006 – Páginas da vida
 2008 – A favorita 
2010 – Cama de gato
 2012 – Louco por elas
» …e no cinema
1962 – O pagador de promessas
1964 – Lampião, o rei do cangaço
1969 – Máscara da traição
1972 – Independência ou morte
1973 – O descarte
1979 – O caçador de esmeraldas
1984 – Para viver um grande amor
2006 – Se eu fosse você
 
Ensina-me a Viver
Peça com Glória Menezes, Arlindo Lopes e grande elenco. Sábado, às 18h e às 21h, e domingo, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: setor I e II – R$ 70 e R$ 35 (meia); setor III – R$ 60 e R$ 30 (meia); balcão – R$ 50 e R$ 25 (meia). Classificação: 12 anos. Informações: (31) 3236-7400.  

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