Principais companhias de teatro de bonecos de Minas Gerais preparam novos espetáculos

Belo Horizonte sediará festival internacional com grupos de vários países, em outubro

por Carolina Braga 18/07/2012 09:19

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Leandro Couri/EM/D.A Press
O diretor Lelo Silva anuncia novo espetáculo da companhia Catibrum inspirado na história de Pedro Malasartes (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Eles não são seres de carne e osso, mas isso não importa. Figuras cativantes e com forte presença na cena teatral mineira, os bonecos têm andado sumidos da agenda. Por exemplo, você reparou que o Festival Internacional de Teatro de Bonecos, tradicionalmente realizado em junho, ainda não deu as caras? Mas essas criaturas não costumam decepcionar. Se os bonequeiros estão na toca, é claro que surpresas estão por vir. E são muitas, inclusive envolvendo novas tecnologias. 
 “É que estamos na entressafra”, brinca Lelo Silva, diretor da Catibrum. Ele, que é um dos idealizadores do festival, anuncia não apenas uma edição especial do evento para outubro, como também demonstra que a aparente calma no setor é algo que definitivamente não passa pelas imediações do ateliê da companhia, no Bairro Caiçara. No caso da Catibrum, os segredos começam a ser revelados a partir de 12 de agosto. 
Será essa a data da estreia de Malasarte, o quarto espetáculo a entrar para o repertório do grupo. “Estamos voltando à nossa origem, pesquisando novamente o boneco de luva, que foi a primeira técnica utilizada por nós. Está superdivertido”, conta Lelo. Malasarte é comédia para todas as idades, que conta a história do clássico personagem reconhecido por burlar até a morte. No cinema, em 1960, ele foi interpretado por Mazzaropi no filme As aventuras de Pedro Malasartes
Como Lelo Silva conta, será espetáculo com estrutura fácil de transportar. “Serão três atores que se revezam em vários personagens”, detalha o diretor. A primeira apresentação será em Juiz de Fora, no Teatro Solar e, no dia 25 de agosto, Malasarte será encenado em Belo Horizonte, na rua, em local ainda a ser definido pela produção. 
Em paralelo, a Catibrum também se dedica a pesquisar a linguagem do teatro em miniatura. O que é isso? São montagens pequenas – seja em duração ou no tamanho dos bonecos – encenadas dentro de caixas. “Utilizamos um manipulador e duas pessoas assistem por vez. São várias técnicas em oito, 10 minutos de histórias”, explica. 
A pesquisa da companhia se centra principalmente em contos assinados por Guimarães Rosa. O plano é criar cinco caixas de teatro. A primeira, O trem da história, já está na ativa desde abril. Inclusive, virou sensação em recente passagem pelo festival La Rebelion de los Muñecos, organizado pela Cia. Viaje Inmovel, no Chile. “O povo pirou muito. As pessoas estão muito receptivas. É interessante porque cada um entende da sua maneira”, conta. Até o fim do ano, Lelo Silva planeja concluir as outras quatro caixas. “Estamos pesquisando vários tipos de luz para minipalcos, mecanismos que giram, a coisa está intensa”, diz.
Empolgado com o nascimento da neta, a pequena Sara, de 3 meses, Lelo é só alegria para anunciar a edição especial do Festival Internacional de Teatro de Bonecos, dedicada à programação infantil. “Estamos correndo atrás. Ainda não fechamos a grade, mas teremos representantes da Espanha e da Alemanha e um grande espetáculo de rua”, adianta. O festival será realizado de 7 a 14 de outubro, no Teatro Izabela Hendrix e em alguns espaços na rua, numa parceria da Catibrum com o projeto Diversão em Cena.
 
EXPERIMENTAÇÃO PERMANENTE
 
Pesquisa nunca faltou à trajetória de 40 anos do Grupo Giramundo. Porém, um elemento faz total diferença na nova fase: a companhia fundada por Álvaro Apocalypse e reconhecida como uma das maiores referências brasileiras na área realiza oficina de motion capture de 18 dias com o francês Matthieu Schonholzer. O objetivo é aprender técnicas de animação em 3D para uma possível aplicação em Alice no país das maravilhas, a próxima montagem do grupo. A estreia está marcada para março de 2013 e até lá o período de experimentações será intenso. 
“Estamos expandindo as experiências dos espetáculos anteriores e aprofundando um pouco mais a pesquisa sobre imagens digitais. Estudamos as interfaces de movimento em tempo real. Na fase seguinte, vamos misturar as imagens projetadas com o nosso teatro de bonecos tradicional”, explica Marcos Malafaia, diretor do Giramundo. Apesar de ter certo o interesse em conhecer um pouco mais o universo das máquinas, ele se não arrisca a dizer no que vai dar. 
O que aproximou o Giramundo do universo do 3D foi o desejo em continuar avançando nos limites do teatro de formas animadas. “Estou conformado que um pleno uso da tecnologia está por vir. Não é um tipo de ganho e avanço que se faz de modo rápido. Demanda conhecimento técnico que estamos começando a adquirir”, diz Malafaia. 
Ainda que seja difícil prever os resultados dessa experiência, tendo em conta o talento e a familiaridade que o Giramundo tem com o teatro de bonecos, fica difícil acreditar que não vai sair uma coisa boa dessa mistura. “Se conseguirmos interfaces que registrem a movimentação habilidosa dos marionetistas do Giramundo, acho que podemos alcançar bons resultados. Ainda estamos no campo das suposições”, reflete Marcos. 
Alice no país das maravilhas já tem patrocínio garantido, mas Marcos Malafaia não sabe precisar se o uso do 3D torna a produção mais cara. Na verdade, o que sobe as cifras de um projeto como esse é o tempo dedicado às experimentações. “Se o Giramundo se conformasse a repetir o que já sabe, poderia produzir espetáculos de modo mais barato. Mas é preciso cobrir os custos, seja para pesquisar a sustentabilidade ambiental ou novas interfaces de luz. A pesquisa é aparentemente ingrata, porque muitas vezes o resultado não aparece no princípio, mas foi necessário para a construção do trabalho”, pondera.
 
MISTURA DE LINGUAGENS
 
“A única exigência dele foi: não ter uma data para estrear”, conta a atriz e diretora Paula Manata sobre o pedido que o diretor Eid Ribeiro fez ao Grupo Armatrux. Depois do bem-sucedido No pirex, a companhia volta a trabalhar com o mestre em uma montagem que vai misturar a linguagem do ator com a dos bonecos. “Passamos seis meses lendo vários textos, de Kafka, Gogol e Gabriel García Márquez, vimos muitos filmes e agora estamos improvisando na sala de ensaio”, completa. Mesmo reticente, ela arrisca um palpite: a produção deve chegar aos palcos no primeiro semestre do ano que vem. 
 
Mas o tempo do Armatrux não está totalmente dedicado à nova criação. Depois que No pirex esteve em cartaz em festivais nacionais e internacionais, não param de chegar convites para apresentações.
 
“É um espetáculo que colocou o grupo em um lugar muito legal. Fomos reconhecidos não apenas pelo público, mas pela crítica. Fomos muito bem recebidos na Argentina e na Bolívia. Como a peça não tem fala, o que encanta as pessoas é a linguagem própria”, acredita Paula. Em agosto, o Armatrux fará temporada de No pirex em São Paulo, antes de seguir para Campinas, Recife e Salvador. 


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