Novo selo chega ao mercado de olho no livro digital e na valorização dos autores brasileiros

Isa Pessôa comanda a Foz Editora e aposta na qualidade do catálogo

por Sérgio Rodrigo Reis 13/06/2012 10:38

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Foz Editora/Divulgação
Para Isa Pessôa, o mercado brasileiro vem incorporando leitores mesmo com a concorrência das novas mídias (foto: Foz Editora/Divulgação)
Depois de 17 anos no mercado editorial e de ter chegado a um dos principais postos da Editora Objetiva, a executiva Isa Pessôa resolveu dar um tempo para buscar novas oportunidades. Deixou o antigo emprego, foi para a Itália e, durante três meses, estudou, descansou, viu coisas novas e amadureceu ideias. De volta ao Brasil, já sabia seu destino: abrir a própria editora. A Foz chega ao mercado nacional mirando longe e com proposta ambiciosa. Cercada de autores consagrados como Chico Buarque, Ruy Castro, Marcelo Rubens Paiva e de promessas como Francisco Bosco, promete investir em livros com grandes tiragens a preços mais acessíveis e ainda em novos formatos para a internet. O principal ativo da nova empresa é o prestígio de Isa Pessôa. Mas ela sabe que só isso não garante o sucesso do empreendimento. Para dar vida longa à Foz Editora, a executiva cercou-se de cuidados. Conseguiu investidores interessados na ideia e planejou tudo, em detalhes, no papel. Fez consulta a advogados, economistas e consolidou um plano de negócios. “Fiz meu dever de casa e, simultaneamente, comecei a colocar em prática meus contatos.” O resultado começa a sair do papel e chegar aos leitores em setembro, quando o novo livro de Francisco Bosco, Auto-ajuda, será lançado. “São ensaios. Ele consegue escrever muito bem textos curtos refletindo sobre várias questões do cotidiano contemporâneo, de uma maneira nova.” O que seduziu tanto Bosco como os escritores consagrados foi não só a experiência da executiva, mas o novo relacionamento entre editora e autor. A Foz Editora fará poucos lançamentos. A meta é, no máximo, dois a cada mês. O cuidado é para tentar oferecer um diferencial no tratamento de cada novo livro. “Acho importante dar aos autores algo que as grandes não conseguem, pois lançam 20 títulos por mês ou até mais. Vou poder oferecer a alta-costura ao escritor e dedicar muitas horas a cada obra. É assim que funciona bem. Para isso, tenho que lançar um número bastante reduzido e fazer o possível para que os livros deem certo.” Foi justamente o que seduziu escritores disputados pelas grandes editoras a migrarem para a recém-criada Foz. O entusiasmo de Isa Pessôa também contou. “Sou assim e acho que isso contagia.” O modelo do negócio também exigiu uma estratégia diferenciada. “O importante é ter um livro bom, de qualidade e com alto desempenho. Não quero ser pequena. Teremos uma atuação diferenciada em todas as etapas: edição, publicação, comercialização e divulgação. Farei uma edição maior, o que possibilitará preços mais agressivos.” Se os planos derem certo, espera chegar às livrarias com livros na faixa de R$ 30 a R$ 40. Paradidáticos A garantia de qualidade e de acesso às publicações é a principal aposta da Foz. Autores renomados, inovação editorial e tecnologia de ponta são outras marcas do projeto. A meta é atuar no setor de obras gerais, com ênfase na não ficção nacional, e no segmento paradidático, com a produção de livros digitais para jovens e crianças. Entre as inovações está a coleção Mestre-sala, que dá início ao projeto digital da Foz, com uma série de infantojuvenis concebidos a partir de clássicos da música popular. Esses títulos serão dirigidos a alunos e professores dos ensinos médio e fundamental. O mestre-sala dos mares, de João Bosco e Aldir Blanc; Morena de Angola, de Chico Buarque, e João e Maria, de Chico e Sivuca, são os primeiros títulos da coleção Mestre-sala. A supervisão dos conteúdos paradidáticos desta série será feita por Marisa Lajolo. Os nomes consagrados na literatura inauguram o segmento em outubro, quando Marcelo Rubens Paiva lança nova obra e, em novembro, quando a editora vai lançar o novo livro de não ficção de Ruy Castro. Nelson Motta, Alexandre Medeiros e Paulo Scott são outros escritores já contratados pela editora, que também vai investir ainda em obras voltadas para o segmento infantojuvenil, com autores como Fabio Sombra e Índigo. Cenário otimista O que inspirou Isa Pessôa a abrir o próprio negócio foi também o atual mercado nacional “vibrante” e em expansão. Há ainda vários desafios. “Se compararmos com o que ocorria há 17 anos, nossos autores perderam posições. Já não aparecem mais na lista dos mais vendidos. Nossa meta é contribuir para recolocá-los novamente no topo”, afirma. Outra promessa é dedicar parte do tempo e energia para lançar novos autores. “Já estou avaliando originais, mas vou fazer sem pressa. Têm chegado sugestões de amigos, conhecidos, mas também terei um contato direto no site www.fozeditora.com.br. Tenho certeza que o volume será alucinante. Por isso, terei que ter tempo para retornar, mas pode ter certeza de que tudo será avaliado.” A empolgação com o novo negócio é motivada pela atual situação do mercado editorial brasileiro, que, ao contrário das previsões pessimistas dos últimos anos, conseguiu ampliar o número de leitores. As novas editoras têm um papel fundamental nessa evolução. “Elas oxigenam o mercado. O fato de a produção digital estar engatinhando só ajuda. O computador há 20 anos só fazia contas. Agora, olha o que faz. Imagine quanto o mercado digital ainda pode crescer?” Para ela, é fundamental se pensar em um modelo de negócio editorial para a internet, onde sobram informações e publicações de gosto duvidoso. Oferecendo qualidade, espera atrair a atenção para seu negócio. Pelo menos num primeiro momento, a Foz não deverá participar das feiras literárias. “Elas existem e são importantes. Tenho amigos escritores que vivem disso. Acho bom, porque funcionam para o leitor e movimentam o setor, mas não é, pelo menos por agora, uma prioridade”, conclui.

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