Ao longo do tempo, Wilson construir acervo com cerca de 10 mil imagens. Faz fotos digitais, mas sente falta da “magia da química fotográfica”. Credita as belas fotos a estar no lugar certo, na hora certa, com equipamento fotográfico à mão. A imagem de bonde que caiu do viaduto de Santa Tereza foi feita quando ele trabalhava nos Correios e, por isso, teve de pedir licença ao chefe para ir ao local. Foi fazer foto de um general em visita a Belo Horizonte e, como estava com teleobjetiva, buscou o amolador do outro lado da rua. O jornaleiro lendo jornal estava no meio do caminho, quando foi fazer casamento na Igreja da Boa Viagem. Essas imagens são algumas das que integram a mostra em cartaz na cidade.
A história de Wilson Baptista com a fotografia começa aos 13 anos, quando um parente fez foto dele, “com caixinha preta”.
“Fui então me entusiasmando com a fotografia”, conta Wilson Baptista. Ele esteve entre os fundadores Fotoclube de Minas Gerais – com José Borges, José Pinheiro Silva e Levi Cunha –, que começou a reunir fotógrafos para trocar experiências, conhecimentos e organizar exposições. Wilson tem livro inédito, ilustrado com fotos, feito para os filhos, sobre a vida como fotógrafo. “Tive vida de muita luta, algumas facilidades, alguns dissabores e muitas alegrias”, conta. Fica feliz com o fato de os oito filhos, além da mulher, Helta Yedda Alves Torres da Silva, fotografarem bem. “Paulo Baptista é fotógrafo com letra maiúscula”, afirma elogiando o filho, professor de fotografia, que também está na exposição Segue-se ver o que quisesse – Fragmentos da vida cotidiana em Minas Gerais.
Memórias de Wilson Baptista
• Infância
“Nasci de sete meses. Disseram que não ia sobreviver. Minha avó decidiu que sobreviveria. E tomou conta de mim. Passei mais tempo na casa dos avós, em Santa Luzia, do que na de meus pais. Era quintal com 20 metros de frente e 200 de profundidade, e a oficina de carpintaria de meu avô perto. E liberdade total para brincar. Fui criado com rédea curta. Meu avô era linha-dura, como meus pais.”
• Natureza
“Fui criado perto da natureza e aprendi a gostar da forma das coisas. Meu avô era carpinteiro, tive bom professor de desenho no colégio e desenvolvi vontade de fazer coisas. Tive, mais tarde, influência da Bauhaus, que fazia coisas com alma e simplicidade. Quando ia a uma igreja barroca me sentia oprimido. Sempre preferi a Igreja de Lourdes, pseudogótica, limpa, sem maiores complicações.”
• Obra
“Nunca me considerei fotógrafo. Fotografar, para mim, era prazer, hobby, divertimento. A maior alegria com a atividade está acontecendo agora, no fim da vida. Estou sendo chamado a aparecer. Achava que o trabalho não valia a pena, que não tinha bala na agulha. Um bom fotógrafo, na minha opinião, domina a técnica, tem senso artístico e olhar de oportunidade. É o que me proponho a fazer.”
• Momento
“Raramente fiz foto planejada. De modo geral ajo como Cartier Bresson: valorizo o momento. Mexendo com fotografia a gente aprende a enxergar o que, para quem não é fotógrafo, não é nada, mas a gente vê significado naquilo. Valorizo mais a composição, quase sempre geométrica, do que o assunto. E prefiro a luz natural. Acho que expressa mais a realidade da coisa.”
• Belo Horizonte
“A Belo Horizonte de que gosto é a de 1940 até quase 1970. Era cidade com movimento, mas tranquila. Tinha alegria simples, que não era movida a anfetaminas, a dona de casa que podia sentar à porta de casa e conversar com a vizinha. Quando, num baile, um rapaz se excedia e ficava inconveniente, o diretor pedia que ele se retirasse. E ele saía. Isso acabou.”.