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Documentário Favela é moda mostra ascensão de modelos da periferia carioca

Camila Reis é uma das modelos reveladas pela agência, cuja trajetória o filme de Emílio Domingos acompanha - Foto: Francisco Proner/DivulgaçãoEm 12 de abril de 2015, dia de seu aniversário, o documentarista Emílio Domingos resolveu deixar as comemorações para mais tarde. Com sua equipe, rumou para uma favela do Rio de Janeiro para acompanhar um acontecimento fora do comum. “Em uma quadra com 300 pessoas, havia uns 100 modelos. Tinha modelo chorando, mãe gritando, torcendo, e um calor abissal. O Júlio performando e toda a equipe dele dando aparato para uma comissão julgadora. Fiquei encantado”, ele relembra.



Durante quatro anos, a partir daquele domingo ensolarado, Domingos acompanhou algumas daquelas pessoas. Entre elas estava Raquel Felix, então com 15 anos, que chorou muito quando foi selecionada (hoje estampa editoriais de grandes marcas). É Raquel, inclusive, quem encerra Favela é moda, documentário que estreia nesta sexta (22/1), no canal Curta!. 

O filme, que nos cinemas só foi exibido no Festival do Rio de 2018 (de onde saiu com o prêmio do júri popular), encerra o que o diretor chama de Trilogia do corpo – que inclui os documentários A batalha do passinho (2012) e Deixa na régua (2016).

“Quando comecei A batalha do passinho, nunca poderia imaginar que faria uma trilogia, já que não sabia se conseguiria terminar aquele filme, feito só com profissionais voluntários. Mas um documentário acabou me levando ao outro e daí vi, desculpe o trocadilho, que eles formavam um corpo, pois dialogam muito entre si”, diz ele. 



A batalha do passinho revelou o passinho, uma nova forma de dançar o funk, e Deixa na régua desbravou o universo das barbearias e os cortes de cabelo do morro.


MORRO

Favela é moda acompanha as agências de modelo nascidas no morro, a partir da trajetória da Jacaré É Moda, criada por Júlio César da Silva Lima e Clariza Rosa no Morro do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. 

É Júlio, um ex-porteiro que descobriu a moda por meio das revistas que iam para o lixo no prédio em que trabalhava, quem comanda o séquito de jovens. Estes, longe do perfil loiro longilíneo que dominou as passarelas e os editoriais até poucos anos atrás, tentam a sorte em meio a uma realidade complicada.

Todos são pobres, moradores da periferia, têm que colaborar em casa, muitos estudaram menos do que gostariam e a imensa maioria é negra. “A Jacaré é uma agência formadora. Muitas vezes, os jovens não têm experiência como modelo, então participam também de um curso intensivo em que trocam impressões sobre racismo, sobre a questão territorial de ser periférico. Fiz um filme observacional, em que acompanhei essa dinâmica”, conta Domingos. 

Ao final, ele escolheu 13 pessoas do grupo para uma entrevista sobre a experiência que estavam vivendo. Um ponto em comum entre os personagens, a despeito dos dramas pessoais, é a questão da autoafirmação. Não há, em momento algum, o discurso do tráfico e de polícia x bandido, comum a tantos outros filmes ambientados em comunidades. 



“É um filme muito político, pois traz uma juventude que tem consciência de seu potencial. Assim como meus outros filmes, Favela é moda também traz essa afirmação da juventude.”

Finalizada a trilogia, Domingos se dedica à produção de Black Rio! Black power!, documentário sobre a origem dos bailes funk. As filmagens tiveram início antes da pandemia, que impôs a interrupção do projeto. 

“Os grandes bailes soul dos anos 1970 foram fundamentais na construção do funk que conhecemos hoje. Já filmei coisas de memória, como as pessoas dos bailes eram perseguidas (pela ditadura), pois tinham medo de que se criasse uma célula dos Panteras Negras no Brasil”.


FAVELA É MODA
O documentário de Emílio Domingos será lançado nesta sexta (22/1), às 22h30, no canal Curta!. A partir de sábado (23/1) ele estará disponível na plataforma Curtaon!, no Now Net.

NOVO CATÁLOGO

O conteúdo do Curta! está disponível no recém-criado Curtaon! – Clube dos Documentários. Disponibilizado exclusivamente para os assinantes da Claro Net por meio da plataforma Now, o clube conta com 450 produções, entre longas, curtas e séries documentais nacionais e internacionais sobre diversos temas. Foram adquiridas há pouco 15 horas de programação da produção da Arte France, braço do canal franco-alemão Arte, com produções inéditas no país.