Mineira Mariana Ruggiero conquista troféu em Los Angeles

Ela foi premiada como melhor atriz coadjuvante por seu papel em 'Piedade', de Cláudio Assis, no qual vive filha de Fernanda Montenegro

Frederico Gandra* 10/11/2020 04:00
Bárbara Cunha/Divulgação
Mariana Ruggiero interpreta a filha da matriarca Carminha (Fernanda Montenegro) no filme do pernambucano Cláudio Assis. O clã é composto também pelos irmãos, vividos por Irandhir Santos e Cauã Reymond (foto: Bárbara Cunha/Divulgação)
Com sua primeira atuação em um longa-metragem – Piedade, do pernambucano Cláudio Assis –, a belo-horizontina Mariana Ruggiero, de 39 anos, levou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Los Angeles Brazil Festival, no último dia 25. 

Ela se formou em teatro no Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) da Fundação Clóvis Salgado, em 2004, quando o cinema em Belo Horizonte ainda estava 'engatinhando', conforme diz.  

“O que me levou muito para o audiovisual foi uma paixão pelo cinema e o fato também de ter me formado em jornalismo”, conta. Como repórter, ela diz que já fez a cobertura de diversos festivais de cinema do país e pré-estreias de filmes para o Canal Brasil.

Mariana começou a trilhar seu caminho no cinema participando de curtas-metragens em Belo Horizonte. Seu primeiro trabalho foi com a diretora Silvia Godinho, em Debaixo d'água (2010), cujo roteiro foi premiado pelo programa Filme em Minas. Ela participou também de Lunarium (2010), de Elza Cataldo, e Sobre os restos do dia (2011), de Alexandre Baxter e Luiz Felipe Fernandes. 

Foi na Mostra de Cinema de Tiradentes que a jornalista e atriz conheceu o cineasta Cláudio Assis. Depois de assistir a Febre de rato (2011), ela decidiu escrever para Assis, expressando seu desejo de atuar em filmes dele. “O e-mail pode ser um pouco ousado para uma atriz que estava só começando, mas eu fiquei tão tocada pelo filme que falei: Cláudio, vou estrear numa série no Canal Brasil. Queria que você assistisse ao meu trabalho, adoraria trabalhar com você.’ Acho que ele escutou isso”, conta. 

A série era Meus dias de rock (2015) e, pouco depois, o cineasta entrou em contato com Mariana, dizendo que tinha uma personagem em seu próximo filme que se parecia com ela. Trata-se de Fátima, filha de Dona Carminha, interpretada por Fernanda Montenegro. Após alguns testes e conversas com o diretor, Mariana conquistou o papel.

Ela recebeu a notícia de que interpretaria a filha da personagem vivida por Fernanda Montenegro quando estava num ônibus, a caminho de seu trabalho em um Bistrô em São Paulo. “Na hora em que entendi, conversando com a Fernanda (Montenegro), que aquilo também era um desafio para ela, falei: olha, somos feitos da mesma matéria”, conta.

EXPULSÃO 

Na trama de Piedade, a rotina dos moradores da fictícia cidade do título é abalada pela chegada de uma grande empresa petrolífera, que decide expulsar todos de suas casas e empreendimentos para ter melhor acesso aos recursos naturais. 

Também estão no elenco Cauã Raymond e Irandhir Santos, que interpretam os outros filhos de Dona Carminha. Matheus Nachtergaele vive o empresário paulista que tentará desalojar a familía. 

Para viver a personagem, Mariana foi para Recife um mês antes do ínicio das gravações, no princípio de 2017. “Foi um trabalho de me distanciar completamente da minha realidade de Minas Gerais. Parei de ligar para todas as pessoas que conhecia, porque tinha que aprender o sotaque (pernambucano). Eu não podia conversar com minha mãe, senão me lembrava de como eu falava. Era conversar, desde a hora em que acordava, com as pessoas de Pernambuco.”

Pelo papel, a atriz concordou em descolorir os cabelos e, pela primeira vez, ficou loira. “Acredito que essa transformação física é fundamental para ir ao encontro dos nossos personagens”, diz. 

As gravações de Piedade foram realizadas no Porto de Suape, litoral sul de Pernambuco, e no Centro do Recife, onde Mariana começou a estabelecer relação com o elenco. Cláudio Assis fazia questão de que a atriz sempre almoçasse com Fernanda Montenegro no set e criasse vínculo com o núcleo familiar do filme. 

Sendo assim, Mariana passou a ir à praia, cozinhar e ensaiar os textos com Fernanda Montenegro, Irandhir Santos e Francisco Moraes, cujo personagem também se relaciona com o núcleo familiar. “A relação era muito trabalhada fora do set para que, na hora em que a gente estivesse ali em cena, essa intimidade chegasse para o espectador.”

Para Mariana, Cláudio Assis é um diretor capaz de “demonstrar uma realidade crua, rasgada e cheia de poesia, contradição e arte”. Ela conta que o cineasta incentivava o elenco de diversas maneiras, como, por exemplo, ao interromper as gravações para mostrar um áudio da Fernanda Montenegro cantando. 
“Ele não tem esse limite burocrático de diretor e atores. É um cara muito generoso e que absolutamente não liga para exposição. O Cláudio vai te contar onde é a dor dele. Ele quer que você entenda essa dor e essa poesia, mas, ao mesmo tempo, te provoca quando acha que precisa de mais.”

ESTREIA 

A pré-estreia de Piedade ocorreu no fim de 2019, no Festival de Cinema de Brasília. O cronograma de lançamento foi afetado pela pandemia do novo coronavírus. O filme ainda não tem previsão de estreia nas salas de cinema ou plataformas de streaming e vem fazendo pré-estreias no formato on-line em alguns festivais, como o Los Angeles Brazil Festival. 

Para Mariana, a pré-estreia nesse cenário atípico foi “um presente”. “A pandemia está estabelecida, não tinha como a gente fugir dela. De repente, a gente driblar essa situação e Piedade surgir de uma forma on-line acho que é quase uma resistência.”

Ela diz que o prêmio no 13º Los Angeles Brazil Festival a pegou de surpresa, obrigando-a a improvisar um discurso de agradecimento. “Esse prêmio talvez seja pela minha entrega ou por ser um personagem completamente diferente de mim”, diz. 

Além de Mariana, Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele e Cauã Reymond foram premiados pela atuação em Piedade

“Não tinha a expectativa de ganhar o prêmio, justamente por estar com aqueles nomes todos ali. Meu papel é muito importante no filme, ele está no núcleo principal da história, mas as personagens femininas não têm tantas cenas assim. O protagonismo é masculino. Então, fico muito feliz. Se eles olham para mim e enxergam o meu trabalho, é tudo de que um ator precisa.”

*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes

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