Filme 'Os novos mutantes', com Alice Braga, dialoga com o Brasil

Inspirado nos quadrinhos da Marvel, thriller sobre jovens com superpoderes discute preconceito e aceitação. Henry Zaga interpreta o brasileiro Roberto

Estadão Conteúdo 26/10/2020 04:00
Disney/divulgação
Alice Braga é a Doutora Reyes, que cuida de adolescentes traumatizados (foto: Disney/divulgação)

Como prever os infortúnios que Os novos mutantes, longa baseado em quadrinhos da Marvel e parte do bem-sucedido universo X-Men, iria passar quando iniciou sua pré-produção em abril de 2017? O elenco reúne jovens estrelas como Maisie Williams, de Game of thrones, e Anya Taylor-Joy.

O orçamento era modesto para filmes de super-heróis, fazendo com que o retorno financeiro fosse mais garantido. Porém, adiamentos por conflito de datas e alterações do roteiro, a fusão da Fox com a Disney e a pandemia fizeram com que a produção, que teve seu primeiro trailer divulgado em outubro de 2017, chegasse somente em 28 de agosto aos cinemas dos EUA. No Brasil, ele é exibido desde quinta-feira passada (22).

“O processo foi muito frustrante por causa das mudanças”, afirma o diretor e corroteirista Josh Boone. A data inicial de lançamento, 3 de abril de 2018, virou 22 de fevereiro de 2019, e, com a junção de Fox e Disney, foi adiada para 2 de agosto de 2019 e depois para 3 de abril de 2020. A pandemia impossibilitou a estreia há seis meses.

THRILLER

Os novos mutantes tem pegada mais de thriller psicológico do que de filme de super-herói. Boone o descreve como mistura de O clube dos cinco com A hora do pesadelo, passando por Um estranho no ninho. Na trama, Dani Moonstar (Blu Hunt) acorda num hospital semiabandonado depois de enfrentar experiência traumática. Comandado pela Doutora Rey- es (Alice Braga), o lugar abriga outros quatro adolescentes, todos traumatizados e lidando com habilidades especiais recém-reveladas.

“Eles estão passando por transformações, tentando controlar seus poderes”, diz Maisie Williams. Enquanto Dani, de ascendência indígena, consegue criar ilusões a partir dos medos das outras pessoas, a russa Ili- yana Rasputin (Anya Taylor-Joy) é imprevisível e tem poderes de feitiçaria. A escocesa Rahne Sinclair (Maisie Williams) ganhou o dom de se transformar em lobo. O americano Sam Guthrie (Charlie Heaton) pode se lançar no espaço e o brasileiro Roberto da Costa (Henry Zaga) manipula a energia solar.

O diretor Josh Boone, que escreveu o roteiro com Knate Lee, diz que tentou ser o mais fiel possível aos quadrinhos, montando elenco diverso. Blu Hunt tem antepassados indígenas, por exemplo. Mas a escolha de Henry Zaga para um personagem que normalmente aparece como negro ou pelo menos de origem mista gerou críticas.

“Dependendo do artista dos quadrinhos, às vezes ele é afrodescendente, às vezes não. Para nós, era importante encontrar o brasileiro que encarnasse as características de que precisávamos. Vimos brasileiros de todos os tons, mas Henry era o melhor”, afirma Boone.

A série X-Men surgiu no auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, quando negros brigavam para derrubar leis de segregação racial. Os mutantes sempre foram vistos como alegoria de quem é diferente, seja por conta da cor da pele, do gênero ou da orientação sexual. O novo longa segue a tradição, com diversidade de origens e tons, mas também traz o romance entre Dani e Rahne.

JORNADA

“Cada adolescente e cada jovem consegue se identificar com a jornada para descobrir seu próprio caminho, quem é, o que ama e o que não ama e como se aceitar”, comenta Alice Braga. “Esse filme vai ser ótimo para o Brasil, porque fala de aceitação. Estamos num período muito complicado no país, com preconceito, homofobia e falta de compreensão. Fico empolgada, pois jovens brasileiros vão poder se ver, se reconhecer e ter orgulho de si”, afirma a atriz.

Originalmente, uma sequência se passaria no Brasil. Mas a fusão com a Disney, a pandemia e a bilheteria modesta derrubaram essa ideia. Com tudo o que ocorreu, a estreia de Os novos mutantes já foi, em si, uma vitória.

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