Festival de Veneza é comparado a 'milagre' por Cate Blanchett

Atriz diz que 'cinema ressurgirá mais forte do que antes', ao comentar o impacto da COVID-19 sobre o setor. Ela preside o júri do evento italiano, que será realizado até sábado (12)

AFP Agência Ansa Estadão Conteúdo 03/09/2020 04:00
“Estar aqui me parece um milagre”. Com estas palavras pronunciadas em perfeito italiano, a atriz australiana Cate Blanchett, presidente do júri da 77ª edição do Festival de Cinema de Veneza, explicou, na quarta-feira (2), como se sentia na abertura da primeira das grandes mostras cinematográficas do mundo realizadas após a eclosão da pandemia da COVID-19.

“Este festival é um exemplo de resiliência, de capacidade, de vontade de reabrir, mesmo que, obviamente, de maneira segura. Estou aqui hoje para prestar solidariedade aos cineastas, a quem quero aplaudir longamente”, disse Blanchett. “É preciso arriscar, mesmo com o risco de fracassar. Estou convencida de que o cinema ressurgirá mais fortes do que antes.”

Tiziana Fabi/AFP
Os atores Cate Blanchett e Matt Dillon participam de coletiva no Festival de Veneza, cuja 47ª edição começou ontem (foto: Tiziana Fabi/AFP)

Durante a cerimônia na cidade italiana, marcada por medidas de segurança e máscaras, foi feita homenagem às vítimas do coronavírus. Em entrevista coletiva, Cate Blanchett se disse surpresa com a forma como o mundo aborda a luta contra a COVID-19.

“A 'Tia Economia' parece ser o membro mais importante da família. Acho bizarro que a Organização Mundial da Saúde não tenha permissão para liderar esse desafio global”, criticou.

Redimensionada, com menos luxo e aglomerações, a 77ª edição do Festival de Veneza começou com a exibição do filme Laços, dirigido por Daniele Luchetti. O evento conta com a presença de diretores de importantes festivais da Europa, que desembarcaram na cidade italiana para prestar solidariedade à indústria do cinema.

“Se houve algo positivo no isolamento, é que nos permitiu falar bastante com alguns festivais, compartilhando informações e projetos”, afirmou Alberto Barbera, diretor de Veneza. Thierry Frémaux, diretor de Cannes, ressaltou: “Ainda não estamos no mundo pós-COVID”. E declarou “toda a confiança no futuro”.

Além do italiano e do francês, entrevista coletiva reuniu diretores dos festivais de Locarno (Suíça), Roterdã (Holanda), Karlovy Vary (Checoslováquia), San Sebastián (Espanha) e Londres.

Dezoito longas competirão pelo Leão de Ouro – quatro deles italianos. Criticado pela “masculinidade tóxica” de outras edições, desta vez Veneza selecionou 11 produções dirigidas por homens e oito mulheres – uma delas tem dois cineastas.

O único filme brasileiro é o documentário Narciso em férias, sobre a prisão de Caetano Veloso na ditadura militar, que será exibido na segunda-feira, paralelamente à mostra principal.

Os grandes filmes de Hollywood, que sempre usaram o festival italiano como plataforma para campanhas ao Oscar, não marcaram presença desta vez, até porque esses lançamentos estão indefinidos. Outros não ficaram prontos devido às medidas de confinamento social.

Entre os americanos, vão concorrer ao Leão de Ouro Nomadland, de Chloé Zhao, estrelado por Frances McDormand, e One night in Miami, de Regina King. Devido às restrições de viagem entre Estados Unidos e Europa, a presença das equipes será apenas virtual.

LEÃO DE OURO

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(foto: Tiziana Fabi/AFP)
 

Tilda Swinton, que recebeu nesta quarta-feira o  prêmio Leão de Ouro em Veneza (foto), homenageou o ator Chadwick Boseman, protagonista do filme Pantera Negra. Ao chegar à cidade italiana na terça-feira, a atriz cruzou os braços, fazendo a saudação “Wakanda forever”, símbolo tanto do filme quanto do empoderamento dos negros. Boseman morreu de câncer no cólon, aos 43 anos, na semana passada.

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