Viviane Ferreira preside grupo que escolherá brasileiros no Oscar

Diretora baiana foi eleita por unanimidade para comandar o comitê que definirá o longa nacional que vai brigar pela estatueta de melhor filme internacional

Estadão Conteúdo 31/08/2020 07:15
Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais/divulgação
A cineasta Viviane Ferreira, de 35 anos, dirigiu o longa Um dia com Jerusa (foto: Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais/divulgação)

A cineasta baiana Viviane Ferreira foi escolhida por unanimidade para presidir o comitê que vai eleger o longa brasileiro para disputar uma vaga do Oscar de melhor filme internacional, na cerimônia marcada para 25 de abril de 2021.

Viviane comandará um grupo seleto, formado pelos diretores de fotografia Affonso Beato e Lula Carvalho, a cineasta Laís Bodanzky, o diretor Roberto Berliner, as produtoras Clelia Bessa e Renata Magalhães, e os produtores Leonardo Monteiro de Barros e Rodrigo Teixeira.

“Todos são membros da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais, que, desde 2017, é reconhecida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood como a única entidade responsável por essa seleção”, informa Jorge Peregrino, o presidente da instituição.

FRIAS

A observação é pertinente, pois evita interferência de qualquer outra entidade ou instituição governamental no processo de escolha. Isso ocorreu nos anos anteriores, quando o então Ministério da Cultura indicava um representante para opinar no comitê. “Foi quando Sérgio Sá Leitão, que era o ministro, firmou um convênio com a Ampas (entidade que organiza o Oscar), em 2017, que passava para a nossa academia o poder de decisão”, conta Peregrino, lembrando que o acordo vigora até 2022.

Mesmo assim, o atual secretário de Cultura, Mário Frias, apresentou uma proposta de participação paritária, o que daria ao governo o direito de ter número igual de representantes no comitê. Houve um temor na classe, pois era esperada pressão ideológica contra determinados filmes por conta de seu conteúdo.

A tentativa, porém, não surtiu efeito, pois além de a Ampas exigir que o comitê seja formado exclusivamente por profissionais da área de cinema, a mudança na formação do grupo teria de ser solicitada com um prazo mínimo de 120 dias.

Devido à pandemia, Hollywood precisou alterar regras – os filmes concorrentes nessa categoria, por exemplo, devem ter estreado em seu país entre 1º de outubro de 2019 e 31 de dezembro de 2020. É preciso também que o longa tenha sido exibido por pelo menos sete dias consecutivos em salas comerciais. Há, com isso, a expectativa de que mais locais de exibição reabram até o final do ano.

Mesmo assim, por causa da pandemia, a Academia de Hollywood permitirá a inscrição de filmes que tiveram canceladas suas estreias nos cinemas, mas foram exibidos em plataformas sob demanda, ou seja, por streaming.

VOTO

“Outra mudança é que a pré-seleção feita por eles vai apontar 17 longas e não mais 10, como antes”, observa Peregrino, lembrando que o Brasil tem 50 artistas com direito a voto na Academia de Hollywood.

Entre eles estão a atriz Fernanda Montenegro, os irmãos cineastas  Walter e João Moreira Salles e quatro membros do comitê brasileiro (Lais Bodanzky, Beato, Carvalho e Rodrigo Teixeira). As inscrições serão abertas esta semana.

“Não existe um tipo de filme que tenha mais chances no Oscar, como se comenta. Vale o talento”, conclui Jorge Peregrino.

DE SALVADOR PARA CANNES

Criada na periferia de Salvador, Viviane Ferreira é cineasta e roteirista. Ela dirigiu O dia de Jerusa (2014), selecionado para a mostra de curtas do Festival de Cannes há seis anos, que se desdobrou em Um dia com Jerusa (2020), o primeiro longa nacional de ficção com equipe formada majoritariamente por mulheres negras.

Ambos são protagonizados pela atriz Lea Garcia. Os filmes de Viviane abordam a trajetória de uma família afro-descendente marcada por exclusão, racismo e desigualdade social, mas também por afeto e resistência

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