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CINEMA

Filme revela a trajetória da pioneira maestrina Antonia Brico

Ela fez tudo certo, apenas nasceu na época errada. É o que fica claro na biografia de Antonia Brico (1902-1989), que entrou para a história como a primeira mulher a reger, com sucesso, uma grande orquestra. Leia-se: as filarmônicas de Berlim e Nova York, na década de 1930.



Com estreia nesta sexta-feira (21) nas plataformas de streaming, Antonia – Uma sinfonia, produção belgo-holandesa dirigida por Maria Peters, ficcionaliza a trajetória da pianista e maestrina, nascida na Holanda e naturalizada nos Estados Unidos, em um formato quase de Cinderela.

Elementos para tal não faltam. Nascida em Roterdã, fruto do romance entre uma adolescente holandesa e um pianista italiano, Antonia, aos 6 anos, foi levada para os Estados Unidos por um casal que nunca a adotou oficialmente.

ABUSOS

Chamada na infância Wilhelmina Wolthius e sofrendo com a pobreza e constantes abusos, somente mais tarde ela descobriu a verdade sobre suas origens, adotando seu verdadeiro nome.



O filme aborda a juventude de Antonia e a dificuldade de entrar em um universo até então exclusivamente masculino. Na vida real, ela viveu primeiramente na Califórnia, tendo estudado em Berkeley. No filme, a ação é transferida para Nova York.


É como uma espécie de lanterninha de teatro que a personagem, interpretada pela atriz Christanne de Bruijn, aparece na sequência inicial. Depois que a plateia está completa, ela pega uma cadeira de madeira e vai até a parte da frente do palco.

Assenta-se, a despeito do burburinho que sua entrada causa, e acompanha, com as partituras, a regência do maestro Willem Mengelberg (o notório regente holandês é interpretado por Gijs Scholten van Aschat).



A ousadia de Antonia incomoda muita gente, inclusive Frank Thomsen (Benjamin Wainwright), o filho único de um casal da alta sociedade nova-iorquina. Produtor de turnês de músicos eruditos, logo fica claro que o incômodo que a jovem lhe causa significa outra coisa.

A trama continua, com Antonia sofrendo agressões da mãe, lidando com um professor de piano abusivo e suportando as risadas que ouve sempre que afirma que quer se tornar uma regente. A obstinação a leva até a Holanda e de lá para a Alemanha, onde se torna aluna de Karl Muck.

O maestro alemão desprezava as mulheres e principalmente os americanos (durante a Primeira Guerra Mundial, Muck se negou a reger o hino dos EUA, o que lhe valeu uma prisão naquele país e a deportação).



Antonia consegue convencê-lo a tornar-se seu mentor e inicia sua escalada de sucesso. Um sucesso difícil, pois sua trajetória é sempre acompanhada pela desconfiança por ela ser uma mulher.

Maria Peters tenta se apoiar no preconceito de gênero para contar a trajetória de Antonia. É uma escolha mais do que válida, já que o fato de ser mulher emperrou sobremaneira a carreira da maestrina, saudada em 1938 pelo The New York Times pela “vida e cor de suas leituras” e “verve e intensidade” ao reger a Filarmônica de Nova York.

AMOR

O problema é que o filme oscila muito. Há momentos em que Antonia – Uma sinfonia parece um conto triste de abuso. Em outros, um drama a la MeToo. A romantização em excesso ainda coloca uma história de amor improvável que não se aprofunda. A interpretação de Christanne de Bruijn tampouco ajuda – a atriz não convence em momento algum quando está com a batuta.

É tudo muito raso – e rápido –, com saltos temporais intempestivos. Com uma direção mais segura, a trajetória de Antonia Brico (que rendeu o documentário Antonia: A portrait of the woman, indicado ao Oscar em 1975) teria sido melhor aproveitada.

ANTONIA – UMA SINFONIA
O filme estreia na sexta-feira (21), nas plataformas Now, Claro Vídeo, Vivo Play, iTunes, Apple TV, Google Play, YouTube Filmes e Sky Play