'Música para morrer de amor' estreia nas plataformas de streaming

Filme dirigido por Rafael Gomes aborda o relacionamento amoroso de jovens às voltas com a liberdade sexual e a intensa ligação com as redes sociais

Pedro Galvão 19/08/2020 08:33
Vitrine Filmes/divulgação
Música para morrer de amor, adaptação de premiada peça de teatro, estreia hoje nas plataformas de streaming (foto: Vitrine Filmes/divulgação)

Desde que a peça Música para cortar os pulsos, de Rafael Gomes, estreou em 2010, muita coisa pode ter mudado nas formas de se representar o amor. Outras permaneceram iguais.

É essa complexidade que o diretor transporta agora para o cinema, em Música para morrer de amor, adaptação escrita e dirigida por ele de seu espetáculo, premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como melhor peça jovem. Depois de circular por festivais no ano passado, o longa chega nesta quarta-feira (19) aos serviços de vídeo sob demanda.

Rafael Gomes afirma que a ponte entre o palco e a tela existe porque a peça nunca se encerrou. “A origem, há 10 anos, funcionou como um intenso laboratório, em múltiplos sentidos. A peça fez mais sucesso do que poderíamos imaginar. Ela durou muito tempo viva, jamais parou de existir. A experiência de troca com diversas plateias, em três anos de apresentações, foi nos dando a certeza e o incentivo para retomar constantemente esses assuntos”, argumenta.

AFETO

A continuidade passa também por uma lacuna temática. “Notamos a carência muito grande de uma dramaturgia brasileira que fale para o público pós-adolescente, dos 20 e poucos aos 30 anos, sobre vida interior, afetividade, emoção. Poucos filmes se debruçam centralmente sobre esses assuntos, com tudo acontecendo dentro de uma lógica de sexualidade bem resolvida e fluida”, afirma o cineasta e dramaturgo.

Os atores Mayara Constantino e Victor Mendes, nos papéis de Izabela e Ricardo, acompanham o diretor nessa ponte entre o teatro e o cinema. A forte amizade entre os dois é interrompida quando ela decide morar com o namorado Gabriel (Ícaro Silva), que parte o coração da jovem ao se mudar de cidade e frustrar os planos tanto de casamento quanto de atuação do casal na peça Romeu & Julieta. Surge, então, Felipe (Caio Horowicz), por quem Ricardo se apaixona, mas que acaba se interessando por Isabela.

A melodramática teia amorosa, que conta com outros personagens, aborda a diversidade e a complexidade das relações afetivas nestes tempos marcados pela mediação das redes sociais e pela fluidez amorosa.

No meio de tudo isso, surge outro elemento fundamental: a música. Além da trilha sonora, as cenas contam com a presença pontual de Milton Nascimento, Maria Gadu, Tim Bernardes e Clarice Falcão, entre outros, trazendo canções visualmente representadas como parte dos diálogos.

A música é o grande elo entre tantos amores. “No teatro, tocava a música, mas havia uma instância, que era a citação como medida de como a música está presente em nossos imaginário e cotidiano. O desafio foi dar corpo a ela na transposição para o cinema”, explica Rafael Gomes.


CANÇÕES

“A trilha sonora é extensa e presente. Porém, queríamos canções que tocassem não só como trilha, mas aparecessem na história. Então, personagens dançam numa festa, dançam sozinhos, dançam numa aula de dança. Um personagem cruza com a música na rua, conversa sobre ela, escuta música no fone, canta no karaokê. Essa onipresença a torna personagem”, observa o diretor.

 A ideia encenada nos palcos há 10 anos foi adaptada para a tela. O diretor e roteirista destaca a adequação para diálogos presenciais daquilo que era relatado, num tempo passado, por cada personagem isolado no texto teatral. “Isso dá ao personagem outra consciência. No passado, o raciocínio já está elaborado anteriormente. Na cena do filme, aquilo é quente e se dá no momento, possibilitando a criação de conflitos, pois há a contraposição de ideias por um interlocutor.”

O fio central da trama foi mantido. “É um filme sobre pessoas que vivem sob certa fabulação, pela música acima de tudo, mas não só por ela. Há teatro, literatura e cinema, seja em forma de citações ou outros elementos. São personagens que preenchem o cotidiano com certa poética”, define o diretor.

Depois de o filme passar pelo NEW FEST – Festival de Cinema LGBTQ+ de Nova York e pelo 52º Festival de Brasília, ambos em 2019, o plano era estrear em junho de 2020 nas salas comerciais, aproveitando o Dia dos Namorados. Veio a pandemia, e a opção pelo streaming, depois de entrar em cartaz em drive-ins em algumas capitais, deve-se à preocupação com a saturação do mercado no futuro.

“É muito incerto para todo mundo, especificamente para o negócio do cinema. Não sabemos como e nem quando o cinema voltará às salas (de exibição). A fila de lançamentos é gigantesca, muitas dessas salas podem nem reabrir, estranguladas pela crise. Então, tomamos a decisão de lançar o filme no streaming, já que ele estava pronto”, conclui Rafael Gomes.

MÚSICA PARA MORRER DE AMOR
• Filme de Rafael Gomes
• Com Mayara Constantino, Victor Mendes, Ícaro Silva e Caio Horowicz
• Disponível no Now, Vivo Play e Oi Play

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