Mostra de cinema on-line discute a violência contra a mulher

'A hora da estrela', filme pioneiro de Suzana Amaral, abre a programação, neste sábado (15). Sessões gratuitas vão até 18 de setembro

Mariana Peixoto 15/08/2020 04:00
Ventura/divulgação
Baronesa aborda o cotidiano de mulheres na periferia de BH (foto: Ventura/divulgação)
É com o lançamento de uma cópia restaurada digitalizada de A hora da estrela (1985), primeiro longa-metragem de Suzana Amaral (1932-2020), que tem início neste sábado (15) a mostra on-line Cinema, olhares no feminino. Durante cinco semanas, até 18 de setembro, serão exibidos cinco longas (um por semana) e dois curtas realizados por mulheres.

O evento, promovido pela Filmes de Quintal (também produtora do Forum.doc), foi criado em decorrência da pandemia do novo coronavírus. “Começamos a perceber que o assunto violência contra a mulher em situação de isolamento doméstico veio muito à tona. Criamos uma mostra que se caracteriza pela diversidade da produção das diretoras”, comenta a organizadora, Júnia Torres.

A hora da estrela é, na opinião de Júnia, um filme pioneiro de uma das pioneiras do cinema brasileiro. “São três mulheres incríveis envolvidas no processo criativo da obra”, afirma ela, referindo-se a Suzana Amaral, a Clarice Lispector, autora do livro que inspirou o filme, e à atriz Marcélia Cartaxo, que estreou no cinema (e recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim) com o papel de Macabéa.

“O tema do migrante sempre foi tratado no cinema como papel masculino. Há um pioneirismo também da personagem Macabéa, que é mulher, migrante e pobre”, acrescenta Júnia. Os demais longas selecionados para a mostra são os documentários Precisamos falar de assédio, O amor natural e Câmera de espelhos, além da produção mineira Baronesa, que fez boa carreira em festivais.

“É uma gama ampla de possibilidades de tratar o tema da condição feminina. Precisamos falar de assédio é mais focado na violência, enquanto Câmera de espelhos trata, de forma muito inventiva, do machismo, da misoginia e do preconceito contra a mulher”, observa Júnia Torres.

Produção assinada pela peruana radicada na Holanda Heddy Honnigman, O amor natural parte da obra homônima de poesia erótica de Carlos Drummond de Andrade para abordar o amor e a sexualidade na idade madura.

Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem), Marlise Matos participará de debate em 4 de setembro, que será transmitido ao vivo na plataforma criada para exibir a mostra.

“Sobretudo as mulheres das classes trabalhadoras estão mais penalizadas (durante a quarentena) em seus espaços menos possíveis de privacidade. A Marlise, junto a algumas realizadoras, vai trabalhar o tema do feminismo e da violência contra a mulher”, acrescenta a coordenadora da mostra.

FORUM.DOC

Júnia Torres confirma para 19 a 28 de novembro a 24ª edição do Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (Forum.doc). A programação será totalmente disponibilizada em plataforma própria.

“Estamos com esperança de realizar algumas sessões ao ar livre, nos jardins internos do Palácio das Artes. Queríamos ainda fazer uma abertura no Parque Municipal. A intenção é essa, mas não sabemos ainda se será possível”, finaliza Júnia.

Kino Video/divulgação
Marcélia Cartaxo em A hora da estrela, (foto: Kino Video/divulgação)
PROGRAMAÇÃO

Sábado (15) a 21 de agosto
» A hora da estrela (1985), de Suzana Amaral
A nordestina Macabéa (Marcélia Cartaxo) se muda para São Paulo, onde trabalha como datilógrafa e mora numa pensão miserável. A moça namora Olímpico de Jesus (José Dumont), mas o rapaz a troca por Glória, colega dela no escritório. Mulher sem ambições, a datilógrafa procura uma cartomante em busca de esperança.

Youtube/reprodução
O documentário Precisamos falar de assédio reúne depoimentos de vítimas de abuso (foto: Youtube/reprodução)

22 a 28 de agosto
» Precisamos falar de assédio (2016), de Paula Sacchetto
Durante a Semana da Mulher, em São Paulo, van-estúdio coleta depoimentos de vítimas de abusos. Usando máscaras, as entrevistadas revelam o que ocorreu com elas.

29 de agosto a 4 de setembro
» O amor natural (1997), de Heddy Honigmann
Documentário sobre poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade, que vieram a público após a morte dele, em 1987. Rodado no Rio de Janeiro, filme traz pessoas comuns e artistas recitando poesias do mineiro e discutindo temas relacionados à sexualidade.

5 a 11 de setembro
» Baronesa (2017), de Juliana Antunes
Documentário sobre duas amigas que moram na periferia de Belo Horizonte, às voltas com a tensão causada pela violência. Andreia começa a construir uma casa, enquanto Leid e os filhos estão à espera do marido, que está preso.

12 a 18 de setembro
» Câmera de espelhos (2016), de Déa Ferraz
Construída dentro de uma caixa preta, sala de estar recebe vários homens, colocados diante de um espelho. Rodado no Recife, o filme discute o universo masculino, o machismo e questões de gênero.

» Kbela (2015), de Yasmin Thayná
Curta sobre mulheres negras discute o racismo e o simbolismo dos cabelos crespos, abordando questões como autoestima e empoderamento.

ATÉ 12 DE SETEMBRO
» Curta Os fios da vida das mulheres jaguar (2014), de Flor Alvarez Medrano.
Filme discute a violência entre indígenas, partindo da experiência de mulheres maias.
Youtube/reprodução
Os fios da vida das mulheres jaguar denuncia a condição feminina em tribos maias (foto: Youtube/reprodução)

CINEMA, OLHARES NO FEMININO 
>> A mostra será realizada até 18 de setembro, com exibições gratuitas na plataforma olharfeminino.filmesdequintal.org.br.
>> Em 4 de setembro, às 16h, haverá debate com Marlise Matos, professora da UFMG, e duas diretoras que participam da mostra.

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