Com a pandemia, Hollywood tenta se adaptar para voltar às gravações

Indústria altera locações, adia datas e muda regras de set para funcionar em períodos de coronavírus

Netflix/Divulgação
Netflix anunciou gravação da segunda temporada de 'The Witcher' para agosto (foto: Netflix/Divulgação)
KEVIN WINTER/AFP
Oscar (foto), Globo de Ouro e Critics Choice Awards: novas datas anunciadas (foto: KEVIN WINTER/AFP)
 
Hollywood começa dar os primeiros passos para retornar as atividades na pandemia. Com gravações paradas há aproximadamente três meses, as produções precisam correr contra o tempo, mudar estratégias e se adaptar a novos prazos e regras.

Isso tudo levando em consideração que a pandemia ainda não está completamente controlada. Enquanto não houver uma forma de reduzir o contágio ou tratar de forma mais veloz os doentes da COVID-19, dificilmente haverá uma normalização e um retorno a forma como tudo era feito antes.

Portanto, para não perder tempo, estúdios já estão começando a propor novas formas de adaptar gravações a pandemia, para conseguirem voltar ao trabalho sem colocar em risco atores e equipe. egundo o especialista Elias Nascimento, professor do curso de cinema do Centro Universitário Iesb, Netflix, Paramount e Warner apresentaram propostas de retomada.

Entre as mudanças, estão sala de roteiristas remota por home office, fim da impressão de roteiros que passam pelas mãos de elenco, diminuição do número de pessoas em cada set e a higienização constante de materiais de uso coletivo, como microfones e câmeras. A Aliança de Produtores de Filmes e Séries de TV também entregou um documento de 22 páginas ao governo da Califórnia sugerindo mudanças para a reabertura dos estúdios.

Boa ideia Entretenimento/Divulgação
Cineasta Pedro Vasconcelos (D): 'Vamos ter que nos concentrar mais em histórias simples e poderosas' (foto: Boa ideia Entretenimento/Divulgação)

“Esta era uma pré-realidade do cinema, se pensava em uma movimentação prévia nesta direção para diminuir custos”, explica Elias. De acordo com o especialista, o cinema de entretenimento lucra muito, contudo devido a gastos exacerbados na fase de produção e baixo resultado em bilheterias, filmes de menor orçamento ou independentes buscavam saídas para aproveitar melhor os poucos recursos que tinham acesso.

Para Elias Nascimento, o movimento não será uniforme, mas, nos próximos meses, será possível perceber um movimento para o retorno de gravações e anúncios de novos lançamentos. “Vai depender do equipamento, disponibilidade de recursos técnicos e financeiros e diretrizes de cada empresa”, conta o profissional do audiovisual. “Hollywood é muito poderosa e não vai parar, há uma necessidade das grandes produtores de mantê-la funcionando.”


Streaming: A solução?

Uma forma de resolver o problema pode estar dentro da casa dos consumidores de cinema, o streaming. “O público de cinema vem diminuindo e pode ser que tenha um movimento cada vez maior de lançar filmes diretamente em streaming”, conta Nascimento.

Neste formato, os gastos de distribuição diminuem e crescem as oportunidades de filmes que não teriam visibilidade nas telonas se tornarem populares. “Streaming dá mais liberdade, alcança um público maior e tem um preço mais atrativo que pagar quase R$100 para duas pessoas assistirem a um filme no cinema”, ressalta o especialista.

No Brasil

“A primeira mudança que eu acho que a gente vai enfrentar de caráter mais econômico mesmo. Vamos ter que nos concentrar mais em histórias simples e poderosas”, acredita o diretor Pedro Vasconcelos, responsável por novelas da Globo e mais recentemente pelo longa Fala sério, mãe.

O Brasil ainda sofre ainda muito com as consequências da pandemia tendo média de mais de mil mortos por dia vítimas do novo coronavírus. “Outra mudança que passaremos é no circuito de salas, com os cinemas fechados há tanto tempo, não sabemos quanto eles vão aguentar, ou seja, quantas salas nós vamos ter ao fim da pandemia para poder exibir filmes”, pontua Pedro.

O diretor acredita que, devido a problemas financeiros, a produção no país deve encolher. “O fato de você ter que diminuir uma indústria como a do cinema do Brasil é triste porque muitas pessoas terão que ficar pelo meio do caminho durante a pandemia e isso é inevitável”, discorre sobre a delicada situação em que o país se encontra.

No entanto, para o cineasta, isso pode representar um novo começo. “Ao final disso tudo, deve acontecer um momento de renascimento muito forte. Quando houver a possibilidade das pessoas se aglomerarem sem riscos à saúde, vai existir um movimento muito grande do público aos cinemas e teatros novamente”, vislumbra Pedro Vasconcelos.

*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira

O que efetivamente muda para o espectador?

O principal fator são os adiamentos. As datas de estreia dos filmes de grandes estúdios já vem sendo alteradas para que possam sair nas salas de cinema. No entanto, as séries e filmes marcados para o segundo semestre de 2020 e para 2021 também terão o lançamento postergado, afinal as gravações ficaram paradas por três meses e as estratégias e agendas de produção terão que ser alteradas.

Outro importante fato está no maior número de filmes acessíveis via streaming e pay-per view, com os cinemas fechados, muitos produtores estão optando por lançamentos diretamente para as telinhas.

Temporada de premiações em outra época

Oscar, Globo de Ouro e Critics Choice Awards anunciaram novas datas entre o fim de fevereiro e o início de abril, mostrando uma tendência de que a temporada de premiações será completamente adiada em 2021. O motivo é aumentar o tempo de elegibilidade para filmes com gravações travadas pela pandemia e garantir uma situação mais controlada para realização dos importantes eventos da indústria cinematográfica.

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