Bárbara Colen, atriz de 'Bacurau', dá duro nestes dias de quarentena

Mineira escreve seu primeiro roteiro, estuda inglês para poder filmar no México, grava áudios para um curta, faz ioga e lê Simone de Beauvoir. 'Precisamos manter a cabeça no lugar', diz ela

Frederico Gandra* 11/04/2020 04:00
Marcos Vieira/EM/D.A Press 31/8/19
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press 31/8/19)

Depois de um 2019 agitado, em que participou dos filmes Miragem, Coração do mundo e do aclamado Bacurau, a mineira Bárbara Colen, de 34 anos, aproveitava merecidas férias. Entre viagens para São Paulo e a dedicação aos estudos, a atriz foi surpreendida pela quarentena imposta pelo coronavírus. Sem previsão de quando voltará a atuar, Bárbara se preocupa com o futuro.
 
“Por mais que a gente tenha alguma economia, não há a menor perspectiva de trabalhar agora. Isso vai dando uma agonia grande, até porque não entro nos requisitos do auxílio do governo. Se essa situação durar muito tempo, vai ficar bem difícil”, afirma.
 
Acostumada com a rotina corrida, o isolamento social é a principal dificuldade para ela se adaptar à quarentena. “Como atriz, tenho um trabalho muito coletivo. A gente sempre está em grupo no set ou nas reuniões. A ausência dessa troca e o fato de não poder trabalhar têm me deixado triste”, revela.
Porém, Bárbara está aliviada por viver de novo em Belo Horizonte, depois de morar na Espanha por três anos. No país ibérico, cuja população tenta se proteger adotando severo confinamento, a COVID-19 já matou mais de 15 mil pessoas. “Quando temos uma situação tão extrema como essa da pandemia, ver as coisas acontecendo de longe é muito sofrido. Pra mim, é um alívio poder estar perto da familía e dos amigos. Isso me dá um consolo no coração.”
 

'É um alívio poder estar perto da família e dos amigos. Isso me dá um consolo no coração'

 
 
Bárbara tenta compensar o estresse do confinamento com reuniões virtuais. Também desenvolve projetos em home office. Um deles é seu primeiro roteiro, batizado de Olhos secos. “Tô numa sorte, pois divido apartamento com uma amiga (Débora de Oliveira) e a gente tá escrevendo esse roteiro. Aproveito o tempo para investir nisso”, conta.
 
As duas começaram a criar o script de um curta-metragem, mas agora ele se transformou em longa. “A gente vai tentar algum edital de desenvolvimento de roteiro, mas o projeto está no início. Nós ainda estamos entendendo como ele vai ficar”, explica.
 

'Se neste momento de ápice de contágio eles flexibilizam as regras de isolamento social, o que vai acontecer? Vai ser um genocídio. Então, agora é uma questão humana mesmo'

 
 
Bárbara também vem gravando áudios para um curta, do qual participa como atriz, e os envia virtualmente para a produção. “Essas duas coisas pelo menos dão um tom de trabalho à minha rotina.”

ESPONJINHA A atriz aproveita o período de isolamento social para se atualizar profissionalmente. “No ano passado, meu ritmo de trabalho foi muito intenso. Às vezes, a gente não acha tempo para dar uma estudada”, observa. “É como uma esponjinha. A gente precisa encher a bucha para no próximo projeto já chegar mais atualizada. É o que estou fazendo agora. E isso vem me impedindo de desesperar.”
 
Bárbara está estudando inglês, de olho em futuras oportunidades. “Tenho a perspectiva de fazer um filme no México, no final deste ano. É um roteiro em inglês. Então, é o momento para pegar mais firme nas aulas.” Além disso, ela está lendo O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, e assistindo à série The wire, de David Simon.
 

'O mais importante agora é manter um pouco de calma, pois essa crise vai passar. Precisamos manter a cabeça no lugar'

 
 
A quarentena será maior do que as pessoas imaginam, acredita Bárbara. Mas ela diz que permanecer em casa, “neste momento caótico”, pode ter algumas vantagens. “Vale pensar em novas maneiras de trabalhar e de se relacionar por meio do home office. O mais importante agora é manter um pouco de calma, pois essa crise vai passar. Precisamos manter a cabeça no lugar.”

IOGA Para ela, cuidar da saúde mental é tão importante quanto a prevenção do coronavírus. “Tenho feito uma coisa muito maravilhosa: meditar e praticar ioga diariamente. Era algo que queria fazer há muito tempo e agora consegui. Está sendo incrível para mim, pro meu corpo e pra minha cabeça”.
Para evitar o estresse, Bárbara se mantém distante das redes sociais, ao contrário de outros artistas. “Às vezes, elas nos deixam num estado de mais ansiedade”, comenta, revelando que tem se controlado para acessar a internet. “Na segunda-feira passada, quando houve a possibilidade de demissão do Mandetta (ministro da Saúde), quase comecei a passar mal. Me deu dor de cabeça na hora.”
 
Aliás, uma de suas raras publicações foi para criticar a atuação do governo federal no combate à pandemia. O post da atriz no Instagram, em 25 de março, classifica o presidente Jair Bolsonaro como “genocida”, devido à recusa em apoiar a quarentena.
 
“Se neste momento de ápice de contágio eles flexibilizam as regras de isolamento social, o que vai  acontecer? Vai ser um genocídio. Então, agora é uma questão humana mesmo. A gente tem de se posicionar pela vida. Ficar passivo diante disso é muito perigoso.”

VÍDEO Em outra publicação, a atriz compartilhou o vídeo editado pelo cineasta Kléber Mendonça Filho, que remete ao filme Bacurau para abordar a quarentena. A cena em que os moradores da vila se escondem dentro de suas residências surge remixada com o áudio de DJ Urso, orientando todo mundo a ficar em casa.
 
“Vamos fazer como no filme. Vamos imitar a arte. Bacurau se organizou e se livrou de uma tremenda presepada e a gente vai fazer o mesmo aqui”, diz o áudio. Bárbara e os colegas de elenco surgem para mandar o recado: “Se puder, fique em casa”.
 
Reticente em relação às redes sociais, a atriz ainda não participou de lives, mas está aberta a elas. “Não tenho problema com lives. Sempre que houver a possibilidade de estar com amigos ou de alguma entrevista, acho superválido”, diz.
 
Aliás, na quarta-feira passada, lá estavam Bárbara e Débora, no stories da atriz, assistindo à live da cantora sertaneja Marília Mendonça.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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