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Cine Humberto Mauro promove retrospectiva da obra de Martin Scorsese


“Não há um único cineasta no mundo que não esteja na sombra de Martin Scorsese. Eu precisava dizer isso.” Com essas palavras, o diretor britânico Sam Mendes iniciou seu discurso de agradecimento pelo Globo de Ouro (de direção, por 1917), no último dia 5. Mendes venceu Scorsese, que concorria com o épico O irlandês, disponível na Netflix.



Pois é a carreira “do maior diretor vivo” – como o classificou o mestre de cerimônias do Globo de Ouro, o comediante Ricky Gervais, numa das poucas vezes em que falou sério naquela noite – que o Cine Humberto Mauro homenageia, com a mostra Retrospectiva Scorsese, em cartaz a partir desta sexta (24).

Além dos clássicos do diretor de filmes como Taxi driver (1976), Touro indomável (1980), Os bons companheiros (1990), Cassino (1995), Gangues de Nova York (2002) e O aviador (2004), o ciclo exibe curtas, documentários e clipes de sucesso, como Bad (1987), de Michael Jackson, dirigidos por ele.

Até 20 de fevereiro, serão projetados 35 títulos de Scorsese, hoje com 77 anos. No dia 9 do mês que vem, ele poderá acrescentar à sua galeria de prêmios mais um Oscar – venceu em 2007 com Os infiltrados e concorre neste ano pela nona vez como diretor.


“A gente já tinha este desejo antigo de fazer uma mostra dedicada a ele. Aproveitamos esse bom momento de O irlandês, seu trabalho mais recente, que está disputando vários prêmios e carrega características marcantes da obra de Scorsese, como a máfia, o crime organizado. O elenco – Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino – traz nomes com uma fortíssima ligação com o diretor ”, diz Bruno Hilário, gerente de Cinema da Função Clóvis Salgado (FCS) e responsável pela organização da retrospectiva, ao lado de Vitor Miranda.

Entre as produções assinadas pelo homenageado, Bruno ressalta a importância de Touro indomável, longa que rendeu a De Niro a estatueta de melhor ator na pele do pugilista Jake La Motta. Além da aclamada interpretação do ator, o filme se sobressai pelas inovações estéticas no uso da câmera lenta, narração em off e nas escolhas de edição.
 
O curador cita a importância da parceria do diretor com a montadora Thelma Schoonmaker, que esteve ao lado dele em trabalhos como O aviador (2004), O lobo de Wall street (2013), Os infiltrados (2006) e O irlandês (2019).


 
“Certa vez, perguntaram a ela se uma moça não se importava em editar filmes violentos demais. E ela respondeu: ‘Os filmes não eram violentos antes de eu montá-los’. Foi uma resposta maravilhosa. Essa mostra não deixa de ser também uma homenagem a Thelma, que se destacou nesse universo extremamente masculino”, afirma Hilário.

CRONOLOGIA

A retrospectiva foi organizada de maneira cronológica e traz no primeiro dia curtas-metragens que revelam um Scorsese em seu período de formação e já abusando da experimentação de linguagem. Em seguida, três longas serão apresentados: Quem bate à minha porta? (1967), Sexy e marginal (1972) e Caminhos perigosos (1973).

 

“Acho importante que o público tenha acesso a essas várias vertentes dele, seus estilos, as técnicas utilizadas, as temáticas, para conferir como sua filmografia é abrangente. Na retrospectiva, trazemos ainda filmes de aventura e mistério, como A invenção de Hugo Cabret (2011); suspense,  como A ilha do medo (2010), e dramas, como A época da inocência (1993).”




Apesar de estar muito associado aos filmes sobre a Máfia, Bruno Hilário destaca que também são importantes em sua obra suas outras paixões, como a cidade de Nova York, suas origens italianas e o próprio cinema.
 
“O bacana desse projeto é entender a força do cinema por meio da homenagem a um cineasta extremamente inventivo, que surgiu dentro desse movimento cinematográfico chamado Nova Hollywood, que renovou a produção fílmica norte-americana e até hoje acompanha as mudanças do audiovisual. O irlandês é um exemplo. Scorsese continua nos surpreendendo e nos brindando com clássicos”, diz o curador.

Retrospectiva Scorsese
Desta sexta (24) a 20 de fevereiro, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537. (31) 3236-7400). Entrada gratuita. Ingressos distribuídos uma hora antes de cada sessão. Programação completa: fcs.mg.gov.br.


SESSÕES COMENTADAS

Nos dias 30 de janeiro e 13 de fevereiro serão exibidas no Cine Humberto Mauro sessões comentadas da mostra História Permanente do Cinema. Os dois filmes escolhidos dialogam, de certa maneira, com o cinema de Martin Scorsese.
 
No dia 30, a sessão traz Paraíso infernal (1939), de Howard Hawks (1896-1977), sobre um romance entre uma jovem e um piloto de avião. “Hawks foi um cineasta muito interessante, que fez comédia, filmes sobre aviação, automobilismo, ou seja, tem uma carreira que tem algum eco no cinema do Scorsese”, avalia o curador Bruno Hilário.
 
No dia 13, haverá sessão comentada de O mensageiro do diabo (1955), de Charles Laughton (1899-1962). “Esse filme tem relações com um Scorsese mais refinado, no sentido da construção de personagens à beira da loucura, não só a destrutiva, mas aquela loucura que move obsessivamente o personagem”, comenta Hiário.