3ª Mostra Sesc de Cinema chega a Minas Gerais

Com 42 filmes e debates na programação, evento passa por BH, Januária, Juiz de Fora, Paracatu e Pouso Alegre

Augusto Pio 11/11/2019 06:00
Fotos: Sesc/Divulgação
A produção mineira Navios de terra está na programação (foto: Fotos: Sesc/Divulgação )

A cineasta belo-horizontina Adélia Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, é a homenageada da 3ª Mostra Sesc de Cinema, que, a partir desta segunda-feira (11), chega a cidades mineiras depois de fazer sua estreia em Paraty. No litoral do Rio de Janeiro, o evento terminou no sábado (9) e a partir de hoje começa a rodar o país. Em Belo Horizonte, os filmes selecionados para o evento serão exibidos de 23 de novembro a 8 de dezembro, no Sesc Palladium. Januária (11/11 a 16/12), Juiz de Fora (11/11 a 8/12), Paracatu (11/11 a 13/12) e Pouso Alegre (11/11 a 13/12) são os outros municípios contemplados. Em 2019, foram 42 filmes selecionados, sendo 32 do Panorama Brasil e 10 do Panorama Infantojuvenil. A programação contará também com mesas de debates sobre as produções e temas relacionados ao atual cenário do audiovisual no país.

Adélia teve o seu primeiro longa, Amor maldito, de 1984, exibido na cidade fluminense. O filme é baseado em uma história real e mostra a relação amorosa entre a executiva Fernanda (Monique Lafond) e a ex-miss Sueli (Wilma Dias – 1954/1991). “As homenagens estão me fazendo muito bem, pois estão me tirando da toca. Como sempre digo, as coisas vão acontecendo e eu estou indo, porque navegar é preciso. Terminei um curta-metragem no início deste ano que se chama Olhar de dentro, no qual volto o meu olhar para a minha geração dos anos 1960, que viveu diversos atropelos, encarando a ditadura, queimando sutiãs e lutando pelo amor livre”, afirmou a cineasta. O curta é protagonizado pela atriz Stella Miranda.

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Aos 75 anos, Adélia não para: “Tenho outro (curta) que vou rodar agora em dezembro, cujo nome é O meu nome é carretel. Trata-se da história de um garoto da periferia que solta pipa. Ele acredita na beleza e estética do céu e de repente desce e encara a realidade da violência e do preconceito. Falo isso numa linguagem de funk. O ator mirim, que é da periferia carioca, canta o funk que conta a sua saga de vida, enquanto vamos insertando as imagens.”
Adélia lembra que seu caminho pelo cinema começou no Rio de Janeiro, quando conseguiu emprego de telefonista na empresa Difilm. “Mudei-me de Minas aos 4 anos e retornei aos 5, porém para morar em um asilo, onde fiquei até os 13 anos. Foi quando minha mãe reapareceu. Até cheguei a pensar que ela tinha morrido ou que não me queria mais. Mas aí ela me tirou de lá.”
A cineasta voltou, então, a morar na Cidade Maravilhosa, onde já residia sua irmã, Eliana, que trabalhava como revisora de filmes em uma empresa responsável pelos filmes russos. “Ela foi a primeira produtora executiva do cinema brasileiro. Certa vez, me chamou para ver o filme Ivan, o terrível. Eu, mesmo com 13 anos, nunca tinha entrado em um cinema. Entrei e quando se abriram as cortinas, disse: 'Vou entrar nessa tela um dia!'. Falei para a Eliana que me respondeu: 'Minha irmã, você é doida, a gente é pobre'. Continuei dizendo: 'Vou fazer isso, vou entrar nessa tela um dia!'”

Com o emprego na distribuidora Difilm, Adélia caiu direto no reduto do Cinema Novo. “Conheci e convivi com muita gente, ouvindo e me banhando na sabedoria deles e até mesmo na ignorância, às vezes”. A partir daí, decidida a ser cineasta, fez um curta chamado Denúncia vazia, baseado em um trágico acontecimento no Rio de Janeiro, que culminou com o suicídio de um casal de idosos. Em seguida, veio Amor maldito, o primeiro longa dirigido por uma diretora negra.

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De Belém do Pará, a atração é o longa A besta pop
DIVERSIDADE

Marcos Rego, gerente de Cultura do Departamento Nacional do Sesc, explica que o objetivo da mostra é valorizar a produção audiovisual nacional. “Ela conta com representantes de todas as regiões do país e amplia o acesso da população a uma filmografia que expresse a diversidade contemporânea.”

Na programação, ele destaca sessões especiais com produções reconhecidas, como Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles; A rainha Nzinga chegou, de Junia Torres; e Mata negra, de Rodrigo Aragão, além de debates, oficinas e duas pré-estreias – Rua Guaicurus, de João Borges, e Nóis por nóis, de Aly Muritiba. Com a mostra, Rego acredita que se cumpre uma missão importante na área cultural, que é democratizar o acesso ao cinema, além de permitir que artistas e cineastas de todo o Brasil mostrem seus trabalhos ao grande público.

Já Frederico José Vieira de Sousa, analista técnico social do Sesc em Minas e responsável pela curadoria da Mostra Sesc de Cinema em Minas Gerais, destaca a importância de se levar para o interior do estado produções de várias regiões brasileiras, com suas diferentes realidades, temáticas e narrativas.

3ª Mostra Sesc de Cinema 
Em Belo Horizonte, de 23 de novembro a 8 de dezembro, no Sesc Palladium – Av. Augusto de Lima, 420, Centro. O evento também passará por Januária (11/11 a 16/12), Juiz de Fora (11/11 a 8/12), Paracatu (11/11 a 13/12) e Pouso Alegre (11/11 a 13/12). Filmes e programação completa em www.sescmg.com.br.

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