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Filme 'Adeus à noite discute' a relação dos jovens com o terrorismo

Os jovens Alex (Kacey Mottet Klein) e Lila (Oulaya Amamra) têm orgulho de sua opção radical - Foto: Pandora Filmes/divulgação
Em sua oitava parceria com Catherine Deneuve, André Téchiné aborda um tema visceral: a radicalização política e religiosa que está no centro de cataclismos atuais. No filme Adeus à noite, que estreia nesta quinta (12) em BH, a estrela interpreta uma avó – Muriel ainda é uma bela mulher, como a própria atriz, de 75 anos. Possui uma fazenda de criação de cavalos, uma escola de equitação. Tudo nos conformes.
 
Mas aí chega o neto Alex (Kacey Mottet Klein), que vem se despedir. Diz que está indo para o Canadá, mas ela o surpreende orando. Descobre que o rapaz e a namorada, Lila (Oulaya Amamra), converteram-se ao islamismo. Na verdade, o casal está partindo para a Síria com a intenção de se integrar à Jihad muçulmana.

Adeus à noite dialoga muito bem com Meu filho querido, do tunisiano Mohamed Ben Attia, um dos mais belos filmes lançados este ano.
Ben conta a história sobre um pai desesperado que segue a trilha do filho na Síria, depois de o garoto partir sem dizer adeus.
 
Se pudesse, faria o mesmo que Muriel – teria, a qualquer custo, tentado impedi-lo de partir. Para complicar, no longa de Téchiné o neto se apropria de dinheiro da avó para entregá-lo ao grupo que financia os jihadistas. Com isso, a narrativa ganha dimensão de thriller.

Um dos méritos do diretor é evitar respostas fáceis para questões intrincadas. Há algo no comportamento de Alex que funciona como alternativa um tanto alucinada. O que é melhor? Uma vida de tédio ou uma morte gloriosa? O rapaz pergunta à namorada o que ela sentiria quando ele estivesse morto. A resposta: "Orgulho".

Há outras questões envolvidas.
Como fica o livre-arbítrio quando uma pessoa decide cometer atos de violência e morrer em ação? Deve-se deixá-la levar esse desejo às últimas consequências ou impedi-la a qualquer custo, violando seu direito de escolha?

Há uma passagem interessante, quando Muriel pede ajuda a um "arrependido", para que ele fale com o neto e o convença a desistir. Não importa aqui dizer como isso termina. Apenas destacar a resposta que o rapaz dá a Muriel quando ela lhe pergunta por que havia aderido ao radicalismo. Ele responde simplesmente: "Porque esse caminho oferecia a possibilidade de mudar completamente de vida".


Na coletiva sobre o longa realizada no Festival de Berlim, em fevereiro, Catherine Deneuve falou sobre como foi difícil expressar o sentimento de Muriel. "Ela vive um dilema hamletiano. Ao impedir o neto de partir, pode achar que está agindo certo, mas o está impedindo de viver a vida dele, de ser ou não o que quer ser."

Téchiné revelou que seu filme nasceu de um profundo mal-estar. “Cresci meio isolado numa pequena cidade do Sul da França, em família de ascendência espanhola. Era como se a gente vivesse num feudo.
O cinema me fez descobrir o mundo e a cidadania, primeiro como crítico, depois como diretor. Sempre gostei de personagens que não se integram e carecem de pertencimento, pois muitas vezes me senti assim", contou.

Intelectual de formação católica e marxista, André Téchiné se interessou pelas questões dos refugiados e imigrantes, sobretudo na França. "Como todo mundo da minha geração, sofri com todos os ataques da Jihad, que colocam à prova noções de humanidade e tolerância. Tentava me informar e ficar atualizado. O filme nasceu da convergência de vários fatores. Havia o desejo de entendimento, mas creio que fundamental foi o livro de David Thomson, Les français jihadistes, que traz entrevistas com jovens que aderiram à causa islâmica e à Jihad. São diálogos muito crus, muito diretos, que ficaram comigo. Comecei a pensar se seria capaz de criar uma mise-en-scène para eles, se seria possível transformar esse material de reportagem em ficção cinematográfica. Foi assim que o filme começou a nascer."

O diretor francês se propõe a entender a psicologia desses jovens. "Nesta era de tanto individualismo, eles elegem o sacrifício.
Morrer por uma causa. Por quê?", questiona Téchiné. Embora a palavra dos jovens tenha lhe fornecido o impulso inicial, ele observa: "Sentia que só conseguiria ser honesto adotando o olhar de uma pessoa da minha geração, e foi assim que Muriel se foi delineando. Antes mesmo de contatar Deneuve, sabia que teria de tê-la nesse projeto. Conheço Catherine há muito tempo, conheço sua inquietação. Nisso somos iguais. Gostamos de arriscar, de nos renovar. É um tema perigoso, mas sabia que teria de contar com ela.”
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