Nas últimas edições, o Festival de Veneza voltou a ganhar força na briga com Toronto para estrear os futuros vencedores do Oscar. Em 2018, Roma saiu com o Leão de Ouro e terminou com três estatuetas, inclusive direção. No ano anterior, A Forma da Água levou o Leão e depois quatro Oscars, inclusive filme e direção. Pois Veneza tem a chance de dominar novamente a conversa sobre a premiação mais importante do cinema americano ao dar o Leão de Ouro para Coringa, de Todd Phillips, uma decisão até surpreendente, mesmo com todo o barulho que o filme fez no festival. Primeiro porque, sendo um longa que se passa no universo de HQs da DC, não é o típico "filme de festival", pelo menos não no caso dos três grandes, Berlim, Cannes e Veneza - Toronto sempre foi chegado a uma produção mais comercial. Segundo, porque o júri era presidido pela cineasta argentina Lucrecia Martel, que faz filmes bem distantes do cinema hollywoodiano.
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Bárbara Paz conquista prêmio de Melhor Documentário no Festival de VenezaConfira as futuras adaptações da obra de Stephen King para as telasFilme de Bárbara Paz sobre Hector Babenco vence prêmio no Festival de VenezaE, a bem da verdade, nem a Academia de Hollywood costuma levar a sério as produções inspiradas nos universos da Marvel e da DC que têm dominado os cinemas, indicando-os apenas em categorias técnicas. Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan, considerado um marco, não concorreu nem como melhor filme do ano, nem como direção.
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Bárbara Paz conquista prêmio de Melhor Documentário no Festival de VenezaConfira as futuras adaptações da obra de Stephen King para as telasFilme de Bárbara Paz sobre Hector Babenco vence prêmio no Festival de VenezaPor derrubar tabus, a vitória põe Coringa como candidato sério para o Oscar, descolando-o das "produções de quadrinhos". Até porque Coringa não é um filme derivado dos quadrinhos como os outros. O longa quase não tem ação e é um drama duro e triste sobre a transformação de um homem de classe social baixa, com problemas mentais e sonhos irrealizáveis em um assassino cruel, com uma das melhores atuações da carreira de Joaquin Phoenix. Levanta questões relevantes para a sociedade hoje.
Lucrecia Martel justificou a escolha na coletiva após a cerimônia de entrega do Leão de Ouro, no sábado. "É incrível que uma indústria cujo principal foco é o negócio tenha corrido tamanho risco com Coringa.
Todd Phillips não quis "definir o filme". "A visão de Lucrecia Martel está correta e compartilho dela. Fico feliz que as pessoas tenham entendido o que estávamos tentando fazer. Mas não quero delimitar as interpretações."
Coringa ainda vai gerar muita discussão - algumas pessoas acusaram o filme de defender um "incel", o jovem branco que não consegue lidar com suas frustrações e comete atos de violência. Mas, sem dúvida, são debates bem-vindos. A vitória em Veneza, com presença inclusive de Joaquin Phoenix, é um sinal de que a campanha pelo Oscar começou e bem.
Jagger
Depois de Brad Pitt, Meryl Streep, Catherine Deneuve e Johnny Depp, o 76.º Festival de Veneza terminou com um rock star. Mick Jagger, recuperadíssimo da cirurgia no coração em abril, apareceu no Lido para apresentar o filme de encerramento, The Burnt Orange Heresy, dirigido pelo italiano Giuseppe Capotondi e exibido fora de competição. "É o menor papel do filme, mas é importante, porque é o catalisador das ações do protagonista", disse Jagger na coletiva de imprensa.
Jagger interpreta Joseph Cassidy, um colecionador de arte e galerista que faz uma proposta ao crítico James Figueras (Claes Bang, de The Square): que ele roube uma pintura do artista recluso Jerome Debney (Donald Sutherland) em troca de uma entrevista. Figueras vai até a propriedade de Cassidy no Lago de Como acompanhado da misteriosa Berenice (Elizabeth Debicki). "Ela tem uma pureza que achei bonita", disse a atriz de Viúvas. "Tem uma voz interior, mas deixa de ouvi-la quando conhece James. Acho que as mulheres vão entender isso."
O filme é baseado no livro de Charles Willeford e é um noir um tanto desconstruído. "Gostei da história porque fala de verdade, que é uma questão séria hoje em dia", disse Capotondi.
No encerramento do festival, um grupo de jovens tomou pacificamente o tapete vermelho para protestar contra a falta de ação contra a crise climática. Jagger apoiou a atitude. "Fico feliz que estejam fazendo isso. Eles que vão herdar o planeta.