Uai Entretenimento

FestcurtasBH chega à 21ª edição com 123 filmes e música no cardápio

As 123 produções selecionadas para a 21ª edição do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (FestCurtasBH), que começa nesta sexta (30), não têm uma temática comum, mas compartilham a característica de refletir as grandes questões do mundo contemporâneo. Até o próximo dia 8, o FestCurtasBH ocupa o Cine Humberto Mauro, o Teatro João Ceschiatti e os jardins internos do Palácio das Artes com uma programação  gratuita.
 
“Em 2018, tivemos uma mostra especial, abordando cinema e raça. Agora, vamos contemplar a obra do cineasta de vanguarda norte-americano Christopher Harris, dando prosseguimento às discussões raciais e sua importância estética e política para o audiovisual”, afirma Bruno Hilário, gerente de cinema da Fundação Clóvis Salgado (FCS).

Na verdade, serão duas mostras a focar na trajetória de Harris, que ministrará uma palestra-performance na quinta-feira (5), na qual discorrerá sobre seu método de trabalho e processo criativo, compartilhando a preparação de seu novo filme, Falando línguas.
 
A mostra especial “Retrospectiva Christopher Harris – Poética e política da forma” reúne oito filmes do diretor, que trata na questão racial nos Estados Unidos. Já “Christopher Harris – Influências e ressonâncias” é composta por filmes experimentais dos Estados Unidos que inspiraram ou dialogam com seu percurso cinematográfico. Serão exibidos 14 filmes do período de 1967 a 2015.

“Sem dúvida, foi uma grande contribuição para o festival não só abordar o seu trabalho, mas contar com sua presença. Com essas duas mostras sobre ele, a gente abraça uma possibilidade de reflexão sobre o artista negro no cinema de uma forma muito profunda e por meio do trabalho de um cineasta que dialoga com as vanguardas”, diz Hilário.

A mostra paralela “Corpo político” tratará do tema dos corpos marginalizados sob o ponto de vista cinematográfico.
“Na edição anterior, fizemos a mostra 'Mulher corpo político'. Agora decidimos expandir esse debate. Outra mostra paralela importante é 'Pulsões do arquivo', que apresenta o modo como o cinema dialoga com o registro, a história e a memória”, afirma o gerente de cinema.

Ana Siqueira, curadora do festival, ressalta que, mais do que persistir em alguns temas, a ideia é reconstruir e renovar o debate. “É um evento que está sempre se transformando e trazendo as questões políticas, sociais e culturais que marcam, marcaram ou ainda vão marcar o nosso tempo”, diz. Além das sessões, o festival promove debates, palestras e oficinas. Haverá sessões com tradução em libras e audiodescrição. “É uma questão de inclusão, integração e de políticas púbicas.
O festival abraça essa causa”, afirma Bruno.

Embora conte com uma ampla programação paralela, as mostras competitivas seguem sendo o ponto central do FestCurtasBH. Ana Silveira informa que os títulos selecionados para “as competitivas Minas, Brasil e Internacional foram realizados entre 2018 e 2019, sendo que alguns estão estreando em BH”. Ela destaca que “boa parte das sessões são seguidas de debate com os diretores, o que enriquece ainda mais a experiência”.

Atento também ao objetivo de formar público, o festival procura oferecer atividades específicas para crianças e adolescentes. “No sábado (31), teremos uma peça para crianças muito interessante entre as sessões da Mostra Infantil.
 
A Cia. Bando apresentará, nos jardins internos do Palácio das Artes, o espetáculo Abena, que traz, de forma poética, uma releitura do mito originário da África Ocidental O casamento da princesa”, cita a curadora. Outras atrações musicais programadas são um cortejo com a Magnólia Brass Band, tendo como referência a música negra de Nova Orleans, e o show de abertura com a banda Diplomattas.

Bruno Hilário observa que a consolidação do evento na agenda cultural da cidade é prova de que a ideia de que o curta tem status inferior ao longa foi superada. “O curta é apenas uma produção de duração menor, mas é cinema e tem potência.
Ele permite alcançar determinadas singularidades e é um formato consolidado”, afirma.

Na abertura, nesta sexta (30), a partir das 20h, simultaneamente no Cine Humberto Mauro e nos jardins internos do Palácio das Artes, serão exibidos três títulos de diretores americanos – Broken tongue, de Mónica Savirón, Photography and fetish %2b A willing suspension of disbelief , de Christopher Harris, e An ecstactic experience, de Ja-Tovia Gary. Em seguida, ocorre o show da banda Diplomattas em tributo à música negra. O grupo surgiu durante a produção da trilha sonora do longa No coração do mundo, dirigido por Gabriel Martins e Maurílio Martins, em cartaz em BH.

21º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte – FestCurtasBH.
Desta sexta (30) a 8 de setembro, no Cine Humberto Mauro, Teatro João Ceschiatti e nos jardins internos do Palácio das Artes – Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro (31) 3236-7400. Entrada gratuita. Programação completa no site do festival. Abertura sexta (30), com exibição de curtas e show da banda Diplomattas, a partir das 20h (retirada de ingresso às 19h30).
 
 
Mostra desvenda criação de cartazes

Num fundo de tom avermelhado, um pássaro típico do Nordeste e de hábitos noturnos está com o bico escancarado. Ele se prepara para dar o bote em um dos insetos mais peçonhentos da natureza, o cavalo-do-cão. A imagem está no cartaz feito pela artista pernambucana Clara Moreira para o filme Bacurau, dos conterrâneos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, em cartaz desde quinta (29) nos cinemas.

Esse e outros 39 trabalhos de Clara Moreira integram a exposição Vislumbres de uma história de cinema – Cartazes por Clara Moreira, que entra em cartaz nesta sexta (30) no Palácio das Artes, como parte da programação do FestCurtasBH. Arquiteta e pesquisadora, ela passou a se dedicar exclusivamente às artes gráficas e visuais. Até hoje, criou 67 cartazes.
Os que integram a exposição foram feitos entre 2006 e este ano.

Além de títulos de Kleber Mendonça Filho (O som ao redor e Recife frio entre eles), há filmes de Gabriel Mascaro (Um lugar ao sol, Avenida Brasília formosa e Doméstica), Marília Rocha (A cidade onde envelheço) e dos mineiros André Novais (Ela volta na quinta), Ricardo Alves Jr. (Permanências) e Marcelo Caetano (Na sua companhia). “Meu processo é bem artesanal. Praticamente não uso nenhum recurso digital. A ideia é mostrar ao público como se dá o desenvolvimento do meu trabalho, revelar o que está por trás, até chegar ao produto final”, diz ela sobre a exposição.

A mostra já foi exibida no Festival de Cinema Luso-brasileiro de Santa Maria da Feira, em Portugal. “BH vai ser o segundo lugar a receber a exposição. Estou muito feliz, porque morei na cidade durante quatro anos. Meu ex-marido é daí. Tenho amigos em Belo Horizonte. Vai ser bacana essa temporada, já que ficarei 15 dias na cidade”, diz.

Clara Moreira participará de uma conversa promovida pelo FestCurtasBH a respeito de cinema, artes visuais e artes gráficas na próxima terça (3), às 19h, no Cine Humberto Mauro.
Ela conta que foi sua cinefilia que a levou a criar cartazes. No começo, produzia para as sessões do Cineclube Barravento, em Recife, que frequentava desde 2002, e, posteriormente, para as produções dos amigos.

“A partir dali isso foi se espalhando. As distribuidoras ou os próprios realizadores me encomendam. São peças funcionais de um processo de divulgação, mas é uma manifestação artística. Tento sempre não fazer algo literal do filme. Acho bacana o fato de os cartazes levarem o raciocínio para um outro lugar.”

Exposição Vislumbres de uma história de cinema – Cartazes por Clara Moreira
Em cartaz até 30 de setembro, de segunda a sábado, das 9h30 às 21h; domingos, das 17h às 21h, na entrada da Galeria Mari'Stella Tristão, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena 1. 537).


.