Festival de cinema francês tem Cyrano de Bergerac em dose dupla

Evento exibe em BH longa com Gérard Depardieu no papel do apaixonado que se esconde atrás da figura do primo para conquistar a amada e também filme sobre o autor da história, Edmond Rostand

por Mariana Peixoto 16/06/2019 13:47
Camera One/Divulgação
Gérard Depardieu é o personagem-título de Cyrano de Bergerac, longa de 1990 (foto: Camera One/Divulgação)


Um dos mais célebres personagens franceses, Cyrano de Bergerac é o herói romântico feio de cara, mas belo nas palavras, que se esconde na figura de um primo para tentar conquistar sua amada Roxane. Ao longo de mais de um século, o narigudo de bom coração teve inúmeros intérpretes no teatro e no cinema. Uma das versões mais conhecidas, Cyrano, longa de Jean-Paul Rappeneau com Gérard Depardieu no papel-título, está prestes a completar 30 anos.

O filme é a atração na categoria de clássicos do Festival Varilux de Cinema Francês. Realizado em diversas cidades do Brasil neste mês, o festival exibe uma versão restaurada do filme, que venceu um Oscar (melhor figurino) e o Globo de Ouro de filme estrangeiro. Desta vez, o herói não está sozinho. Outra atração do Varilux é Cyrano, mon amour, longa-metragem do diretor, ator e dramaturgo Alexis Michalik sobre a trajetória do autor da peça, Edmond Rostand (1868-1918).

Para quem quer mergulhar no universo do personagem, uma boa oportunidade é assistir aos filmes em sequência. Neste domingo (16), a dobradinha de Cyrano será no Cine Ponteio; na quarta (19), no Belas Artes, e na segunda (24), no Humberto Mauro.

“Na época do lançamento da peça (1897), Edmond Rostand ficou muito conhecido na França. Entrou para a Academia Francesa, recebeu a Legião de Honra. Só que o personagem Cyrano ficou tão conhecido que ele (o criador), ao longo dos anos, ficou apagado”, afirma Michalik, que veio ao Brasil para participar do Festival Varilux.

E é este personagem “apagado” que Cyrano, mon amour recupera. Em tom de comédia farsesca, o filme acompanha a trajetória de Rostand até sua consagração com Cyrano. No início da narrativa, Rostand (Thomas Solivérès) acumula tanto dívidas quanto insucessos no teatro. Uma das poucas a achar graça em seus textos (escritos sempre em verso) é a atriz Sarah Bernhardt (Clémentine Célarié).

É ela quem fez a ponte entre ele e o ator Costant Coquelin (Olivier Gourmet), que lhe encomenda uma peça para ser lançada no fim do ano de 1897. Só há um problema: Rostand não tem sequer uma frase escrita. A partir desse mote, o filme se concentra em sua luta (e nas trapalhadas em que se mete) para conseguir levar seu texto para os palcos de Paris.

Michalik travou ele próprio uma grande batalha para fazer o filme. “Gostava muito da peça e, lendo sobre ela, aprendi três coisas sobre Edmond: que ele só tinha 29 anos quando a escreveu; que antes de Cyrano não era conhecido e que ninguém acreditava que o espetáculo faria sucesso”, conta o diretor e ator.

SAGA Michalik tinha o projeto de fazer o filme há pelo menos 10 anos. Há seis, encontrou um produtor que disse a ele para escrever a história de Edmond Rostand. Depois, o produtor encontraria um diretor para assumir a realização do roteiro. “Escrevi e propus o roteiro a vários diretores. Ninguém quis. Quando começamos a tentar levantar os recursos, ninguém queria investir, já que era um projeto sobre teatro, um filme de época, um assunto difícil. Há quatro anos me disseram que, como era um projeto de teatro, eu deveria levá-lo para os palcos.”

A2 Filmes/Divulgação
O ator Thomas Solivérès é Edmon Rostand em Cyrano, mon amour (foto: A2 Filmes/Divulgação)


Michalik acabou reescrevendo o texto para o formato de peça teatral com 12 atores. A montagem, também dirigida por ele, estreou há três anos. Edmond fez enorme sucesso nos palcos – venceu cinco prêmios Molière e continua em cartaz, já tendo alcançado mil apresentações. “Finalmente, os financiadores acharam que talvez fosse uma boa ideia fazer o filme. Aí eu disse que, como já tinha dirigido alguns curtas, eu deveria dirigi-lo”, contou Michalik.

Na história, ele mistura história e ficção. Coloca Rostand na Paris do fim do século 19, encontrando-se com vários nomes essenciais da cultura que davam início a suas próprias trajetórias, como os irmãos Lumière e o dramaturgo Anton Tchekhov. Com um orçamento bom para um primeiro filme, mas baixo para uma história de época, o filme foi rodado na República Tcheca.

“Edmond pegou um personagem real, pois o Cyrano existiu (foi um escritor do século 17), e criou sua própria história. Fiz a mesma coisa. Criei a minha história, mas mantendo alguns elementos: o clima de comédia heroica, a cena emblemática do balcão (quando Cyrano dita o que o primo deve falar para Roxane), o nariz e a morte do personagem no final”, diz Michalik.

CYRANO, MON AMOUR


O filme de Alexis Michalik será exibido neste domingo (16), às 18h40, no Cine Ponteio, e às 20h30, no Cine Belas Artes; na quarta (19), às 14h, no Cine Belas Artes; e na segunda (24), às 17h, no Cine Humberto Mauro.

CYRANO


O filme de Jean-Paul Rappeneau será exibido neste domingo (16), às 16h05, no Cine Ponteio; na quarta (19), às 16h10, no Cine Belas Artes; e na segunda (24), às 19h15, no Cine Humberto Mauro

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