“Você viu suas cartas, não viu?”, perguntou Daisy Werthan.
“Ah, sim, sim. Eu sei que o meu ABC é muito bom, só não sei ler”, respondeu Hoke Colburn.
“Pare de dizer isto, você está me deixando louca! Se você conhece as cartas, você pode ler. Você apenas não sabe que pode ler”, retruca Daisy.
“Senhora?”, pergunta Hoke.“Eu ensinei algumas das crianças mais estúpidas que Deus já colocou na face desta Terra e todas elas poderiam ler bem o suficiente para encontrar um nome em uma lápide”, diz Daisy.
(Conduzindo Miss Daisy, 1989)
“O que você está fazendo?”, pergunta Don Shirley.
“Uma carta”, responde Tony Lip.
“Parece mais um bilhete de resgate. Posso? “Querida Dolores”, lê Shirley, soletrando corretamente (Q-U-E-R-I-D-A). Ele continua a ler: “Estou me encontrando com todos os principais cidadãos da cidade. Pessoas que usam palavras grandes, todas elas. Mas você me conhece, eu me dou bem. Eu sou um bom enrolador.
(Green book – O guia, 2018)
Os dois diálogos reproduzidos acima pertencem a duas produções vencedoras do Oscar de melhor filme. Conduzindo Miss Daisy (1989), de Bruce Beresford, levou ainda outras três estatuetas – atriz (Jessica Tandy), roteiro adaptado e maquiagem.
Desde que a comédia dramática estrelada por Viggo Mortensen (como o motorista branco) e Mahershala Ali (como o passageiro negro) foi lançada, não faltaram comparações com o longa de 30 anos atrás. O paralelo acabou se intensificando após o discurso do diretor Spike Lee, premiado pelo roteiro adaptado de Infiltrado na Klan, que concorria também a melhor filme. “Toda vez que tem alguém dirigindo, eu perco”, afirmou Lee na cerimônia.
No ano em que Conduzindo Miss Daisy (sobre a amizade travada entre um motorista negro e uma passageira branca) venceu, Lee também havia lançado um grande longa. Faça a coisa certa concorreu (e não levou) nas categorias de ator coadjuvante e roteiro original e nem chegou a ser indicado a melhor filme, no que hoje se considera uma injustiça histórica do Oscar. Na época, os dois não bateram de frente, já que Faça a coisa certa não foi indicado a melhor filme.
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Também são produções convencionais na forma, que têm como maior trunfo as atuações.
Em Conduzindo Miss Daisy e Green book as relações profissionais acabam se transformando em grandes amizades, que suplantam as diferenças. Ou seja, são filmes que trazem uma mensagem de conciliação, o que desperta uma boa sensação no espectador. A escolha da Academia de Hollywood em premiar Green book num ano em que Spike Lee também retratava a parceria entre um negro e um branco, mas, neste caso, para investigar a Klu Klux Klan, mostra que, mesmo passados 30 anos, há coisas que ainda não mudaram na indústria do cinema..