Quanto vale um olhar? No caso de Glenn Close, todos os prêmios a que for indicada por sua arrebatadora performance em 'A esposa'. O longa do sueco Björn Runge, aqui em sua primeira incursão em uma produção falada em inglês, chega nesta quinta-feira (10) aos cinemas brasileiros.
Leia Mais
Em 'Assunto de família', casal pobre que realiza pequenos furtos adota garota maltratada pelos paisVencedor do Globo de Ouro, 'Homem-Aranha - No Aranhaverso' chega ao BrasilIndicado ao Globo de Ouro, 'Nunca Deixe de Lembrar' reflete sobre o período nazistaDrama francês apresenta dilemas na vida de pai abandonado pela esposaNovo material de Capitã Marvel mostra cenas exclusivas e pôster especialSamuel L. Jackson confirma que dano no olho de Nick Fury será explicadoGiba Byblos é atração de festival musical em Casa BrancaApós denúncias de abuso sexual, Lady Gaga se afasta de R. Kelly'A esposa' é um tratado sobre o fim de um casamento. E tudo está descrito no olhar da atriz. Adaptação do romance homônimo da escritora norte-americana Meg Wolitzer (inédito no Brasil), acompanha o casal Joan (Close) e Joe Castleman (Jonathan Pryce).
Já na primeira sequência fica claro quão complexa é a relação. Na cama, Joe, sem conseguir dormir, acorda a mulher. Ela lhe diz que não é hora de sexo, ele afirma que está estressado e que ela não precisa fazer nada, só basta se deitar de lado. Na sequência seguinte, os dois são acordados ainda de madrugada pelo telefonema que Joe tanto queria.
Incrédulo assim que atende ao telefone, Joe pede ao interlocutor licença para a mulher ouvir a conversa na extensão. No minuto seguinte, os dois estão pulando na cama, como crianças. “Ganhei o Nobel! Ganhei o Nobel!”, grita Joe. Mesmo acompanhando-o nessa explosão infantil, o jeito de Joan mostra que há algo errado. São gritos silenciosos que o olhar de Glenn Close expressa a partir desse momento. O casal e o filho mais novo, David (Max Irons), embarcam para Estocolmo para uma curta temporada que inclui todo o ritual que precede o Nobel.
“Minha esposa não escreve, graças a Deus.” É dessa maneira que Joe apresenta Joan aos colegas laureados. Ela assente a todos com um sorriso educado (crispado, se olharmos com atenção), ora limpando a sujeira da barba do marido, ora lembrando-lhe o nome de uma personagem célebre de seus romances.
Em dado momento, quando lhe perguntam o que faz, Joan deixa a serenidade de lado e diz: “Sou uma fazedora de reis”.
DEPENDÊNCIA
Intercalado com os preparativos do Nobel, assistimos ao início do romance entre Joe e Joan, nos anos 1950 e 1960. O jovem casal, ele professor de literatura (Harry Lloyd), ela sua aluna na universidade (papel de Annie Starke, filha de Glenn Close), envolve-se numa relação de dependência mútua. Casado, ele abandona mulher e filho para ficar com a moça – o relacionamento vai lhe custar também a carreira acadêmica em uma universidade de primeiro time.
Com as cartas na mesa, o espectador só tem a acompanhar a evolução da narrativa. Sabiamente, Björn Runge dá todo o espaço para a dupla de protagonistas brilhar em longas tomadas. A maneira como Joan aquiesce perante todos os abusos do marido (flertar descaradamente com a fotógrafa do evento, colocar a mulher de lado sempre que a situação pede) não deve ser subestimada.
Joan, como “fazedora de reis”, vai se mostrar, ao final da narrativa, muito maior do que o marido e os que o cercam.
.