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Davi vai à luta

O segredo de Davi busca conquistar espaço para filmes de terror produzidos no Brasil



Não é mais mistério que o terror e o suspense têm feito aparições cada vez mais robustas entre os lançamentos nacionais. Apesar do bom apelo de bilheteria do gênero – no caso das produções de Hollywood –, na terra do Zé do Caixão filmes mais sombrios e assustadores ficaram no limbo por um bom tempo.

 

Graças à iniciativa corajosa de alguns cineastas, produções brasileiras, nos últimos anos, têm assustado o público em festivais internacionais. Agora, tentam conquistar o público local. Nessa safra de novidades, O segredo de Davi estreia nesta quinta-feira (22), com trama enigmática envolvendo um serial killer e dois estreantes em longas – no papel principal e na direção.


Selecionado para a edição deste ano do Festival de Montreal, o filme se junta a As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, estrelado por Marjorie Estiano, e Animal cordial, de Gabriela Amaral Almeida, com Murilo Benício. Em breve, a lista terá Morto não fala, de Dennison Ramalho, com Daniel de Oliveira, e O juízo, de Andrucha Waddington, com Fernanda Montenegro e Lima Duarte.

Com abordagens e tons diferentes entre si, todos têm em comum a presença de artistas de destaque na TV em tramas que não poupam sangue, morte, sustos e outros elementos da narrativa de horror.

GALÃ Nicolas Prattes protagoniza O segredo de Davi. O ator, que faz o mocinho Samuca em O tempo não para, novela das 19h da Globo, vive um psicopata de personalidade bem peculiar.

Davi é um jovem universitário tímido, obcecado por filmar as pessoas sem que elas percebam e com habilidades de hacker. Logo de cara, percebe-se que tem problemas para se relacionar. É intimidado por um colega, que também esconde um segredo, ligado a um lado violento.

Totalmente centrada em Davi e suas inquietações, a trama vai mostrando o mistério que motiva o caminho de violência escolhido por ele.

Mentor da história, o diretor e roteirista Diego Freitas revela: “Davi surgiu quando eu tinha 18 anos. Você começa a fazer um filme quando tem algo para dizer sobre algo que mexe com você. Quando fui morar em São Paulo e fazer faculdade, veio a ideia de um menino que tivesse de matar para ser amado. Era o que eu sentia na época, andava meio revoltado. Ao longo do tempo, isso foi ganhando corpo e se descolando dessa ideia inicial.”

Esse foi o primeiro longa do cineasta, premiado pelo curta Sal (2016), também de suspense, no Festival de Filmes Independentes de Washington. Freitas casou o interesse por um filme que oferecesse medo com outras camadas de entendimento por trás do suspense. “Davi é um garoto que comete crimes bárbaros e filma.
Na faculdade, é tímido, mas quando mostra a faceta violenta, a internet o deixa famoso. Isso diz muito sobre como vivemos hoje, supervalorizando a violência”, diz o cineasta.

“Ao mesmo tempo, fala sobre religiosidade e como ela pode ser prejudicial quando colocada no lugar do amor”, diz o diretor. “Isso ocorre muito nos dias de hoje, temos uma bancada evangélica que impõe dogmas e doutrinas, mas não pratica o principal das religiões: o amor ao próximo.”

 

 



Cineasta pede ‘uma chance’
Entusiasta do terror antes mesmo de se dedicar ao cinema, o cineasta Diego Freitas destaca que sua proposta é dar opção ao público, mostrar que o brasileiro sabe fazer esse tipo de filme.

“Apesar da falta de recursos, temos boas ideias, que simplesmente não eram executadas. Este ano, saíram muitos filmes: As boas maneiras, Animal cordial... Eles não têm nada a ver um com o outro, mas são o mesmo cinema. Aos poucos, a resistência do público vai caindo. Quem gosta de mistério e suspense tem que dar uma chance. A gente se orgulha de entregar uma estética que não deve nada para filmes estrangeiros, até porque há grandes técnicos e profissionais por aqui”, defende Freitas.

De acordo com o cineasta, uma dificuldade para produções do gênero no Brasil é a desconfiança de patrocinadores, pois eles preferem não associar as próprias marcas a histórias que envolvem mortes e cenas de violência.

“No cinema brasileiro, é preciso o meio termo entre a comédia popular, que é muito importante, e o filme de arte ou o drama social realista”, pondera Freitas.

O segredo de Davi vai à luta. O orçamento, estimado em R$ 450 mil, é bem menor do que o das grandes comédias, que não raramente ultrapassa R$ 4 milhões. O elenco do longa de terror conta também com Eucir de Souza, João Côrtes, Neusa Maria Faro, André Hendges e Bianca Muller.

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