Imagens em preto e branco da Primeira Guerra Mundial dão origem a documentário colorido e em 3D

Diretor de 'O senhor dos anéis' trabalhou sobre imagens de arquivo do conflito para dotá-las de cor e som, algumas vezes reconstruindo diálogos dos combatentes por meio de leitura labial. Filme estreia em Londres na terça-feira

por Estado de Minas 14/10/2018 09:00

House Productions/Divulgação
Imagem de They Shall Not Grow Old exemplifica processo de colorização dos negativos adotados no filme, feito para comemorar o centenário do fim da guerra (foto: House Productions/Divulgação)

O cineasta Peter Jackson compilou imagens sem som e em preto e branco da Primeira Guerra Mundial e, após um colossal trabalho de restauração, transformou-as num documentário colorido e em 3D para recordar o centenário do conflito.


O filme, intitulado They shall not grow old (Eles não envelhecerão, em tradução livre), será apresentado em estreia mundial na próxima terça-feira (16), no Festival de Cinema de Londres (10/10 a 21/10) e, simultaneamente, em vários cinemas do Reino Unido. Os ingressos para as sessões programadas pelo festival estão esgotados desde a semana passada.


Combinadas com entrevistas de veteranos de guerra, essas imagens espetaculares também têm uma trilha sonora inédita: o cineasta recorreu a especialistas em leitura labial para decifrar os diálogos dos soldados para serem inseridos no filme graças ao trabalho dos atores da dublagem.

Restauração “Quando acabamos de restaurar esse material, fiquei impressionado. Não imaginei que esse resultado pudesse ser obtido”, disse Peter Jackson na apresentação do projeto, que teve início há quatro anos, no escritório de Diane Lees, diretora do órgão nacional de museus militares britânicos, o Imperial War Museums (IWM).


Lees, que sabia que Jackson é um apaixonado pela Primeira Guerra Mundial – na qual seu avô lutou –, sugeriu que ele colaborasse nas comemorações do centenário do fim do conflito (1914-1918). “Queriam que eu usasse os arquivos do museu, mas de uma maneira surpreendente”, lembra Jackson, que ganhou um Oscar em 2004 pela última parte de sua trilogia O Senhor dos Anéis.


De sua nativa Nova Zelândia, o cineasta contatou especialistas em restauração de todo o mundo para transformar mais de 80 horas de imagens antigas em uma fita colorida tridimensional.


O cineasta de 56 anos também mergulhou em mais de 600 horas de gravações de áudio de ex-combatentes – feitas pelo IWM e pela BBC – para usá-las como voz em off. O resultado final oferece uma visão inédita da Primeira Guerra Mundial, que mostra com grande detalhe a vida nos campos de batalha, nas trincheiras, restaurando o som da artilharia e das explosões.


A equipe encontrou uma série de desafios, desde arranhões e quadros perdidos até películas que encolheram ao longo do século e, em alguns casos, eram duas vezes mais lentas que as filmagens modernas. “O filme se tornou muito emocionante”, disse Jackson sobre o processo de restauração. “Os rostos dos homens de repente ganhavam vida... De repente, eu estava olhando para algo que nunca havia visto.”


“Isso me fez apreciar estar vivo no mesmo momento em que meu avô estava vivo”, disse o diretor. “O fato de eu poder olhar para algo que ele viu me fez pensar: uau, isso é extraordinário”. Enquanto elaborava o roteiro, Jackson disse que procurou não se deixar influenciar por outros documentários de guerra que ele havia visto, em uma tentativa de produzir algo totalmente original.


“É um trabalho espantoso”, disse Lees sobre a obra, com a qual espera poder educar uma nova geração sobre o que foi a guerra. (AFP)

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