Brasileira se destaca na Marvel e fala sobre desafios no cinema

Curitibana tem no currículo trabalhos em filmes como Homem-formiga e a Vespa e Thor: Ragnarok

por Adriana Izel 08/09/2018 06:00

Arquivo Pessoal
"Infelizmente, assim como em várias outras indústrias, a cinematográfica é bastante machista", diz Daniela Medeiros (foto: Arquivo Pessoal)
Ser uma mulher brasileira dentro de uma área técnica do cenário cinematográfico hollywoodiano é um grande desafio. Mas nunca foi um impedimento para a curitibana Daniela Medeiros, de 30 anos, formada em arquitetura. Ela tem no currículo trabalhos em filmes blockbusters, como Homem-Formiga e a Vespa, Thor: Ragnarok e Godzilla: King of monsters, na função de set designer.

“A voz da mulher ainda não é ouvida de forma igualitária, nosso espaço não foi totalmente conquistado e nem sempre recebemos os créditos merecidos pelo nosso trabalho. Ainda sou, geralmente, uma das mais novas dos departamentos, o que também é um complicador e uma barreira a ser transposta”, analisa Daniela.

A brasileira começou os trabalhos fora do país quando se mudou para os Estados Unidos para fazer mestrado na American Film Institute (AFI), em Los Angeles, em production design. “Conheci muitas pessoas que trabalhavam na indústria e tive a oportunidade de mostrar meu portfólio e potencial para elas. Em cada projeto, trabalho pesado para impressionar novos profissionais e assim continuar sendo recomendada”, conta.

Antes de se aventurar na profissão nos Estados Unidos, ela atuou no Brasil como production designer em dois curtas-metragens de Curitiba. Hoje, tem no currículo trabalhos em longas-metragens da Marvel, os quais ela não pode revelar quase nada por conta do contrato com o estúdio; os filmes All these voices e Icebox, que foram selecionados para festivais; e as produções que estreiam em breve, o novo Godzilla e Gemini man, de Ang Lee, e com protagonismo de Will Smith.

Nesta entrevista, Daniela Medeiros fala sobre a profissão, compara os mercados do Brasil e o dos Estados Unidos e revela um pouco de sua trajetória até Hollywood.

Qual é diferença entre trabalhar com cinema no Brasil e no exterior?
A indústria cinematográfica americana é uma das maiores do mundo, é bastante organizada e tem muito investimento, então é difícil comparar com outras. O Brasil ainda investe muito pouco no nosso cinema nacional, o que é uma pena, pois temos um cinema de muita qualidade e profissionais extremamente talentosos.

Sobre a sua função especificamente de set designer, como ela funciona?
Sou responsável pelo design dos sets de filmagem, desde a conceituação, criação, modelagem em 3D (quando necessário) e detalhamento construtivo. Trabalho como parte do departamento de arte, sob a supervisão do production designer e diretores de arte. Além disso, trabalho como production designer em filmes de menor orçamento.

Como é ser uma brasileira dentro desse universo cinematográfico internacional?
É interessante. Atraio curiosidade das pessoas que sempre me perguntam sobre o Brasil e sobre o nosso cinema. Além disso, ter um ponto de vista artístico diferente por ser de outro lugar é muito bom para trabalhos que envolvem criatividade, e a brasileira é definitivamente valiosa.

E como é ser mulher, especificamente, nesse espaço?

Infelizmente, assim como em várias outras indústrias, a cinematográfica é bastante machista. A voz da mulher ainda não é ouvida de forma igualitária, nosso espaço não foi totalmente conquistado e nem sempre recebemos os créditos merecidos pelo nosso trabalho. Ainda sou, geralmente, uma das mais novas dos departamentos, o que também é um complicador e uma barreira a ser transposta. Além disso, sabemos por meio da mídia que existe o problema de salários desiguais e, infelizmente, mulheres ainda sofrem com assédio no ambiente profissional. Os chamados manterrupting e mansplaining são bem comuns.

Em seu currículo no IMDB, há créditos de production designer e art director também. Como foram essas suas outras experiências?

Foram maravilhosas também. Fui production designer dos filmes All these voices e Icebox. Ambos foram muito bem-sucedidos nos festivais, sendo que Icebox foi selecionado para o famoso Festival Telluride e venceu o Grand-prize no AFI Fest; e All these voices venceu na categoria Alternative o Student Academy Awards, o Oscar estudantil.

Quando você fez a faculdade de arquitetura e design, já tinha uma vontade de seguir por esse caminho do cinema?
Não. Passei por várias outras ideias até me encontrar no cinema. Quando fiz intercâmbio estudantil em Madrid, fiz uma disciplina de arquitetura no cinema que me inspirou muito. Foi depois disso que comecei a estudar cinema e fui atrás de um mestrado na minha área de production design. Arquitetura é muito ampla e uso tanto ela quanto design diariamente.

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