Filme 'Nico, 1988' apresenta musa do Velvet Underground no fim da vida

Longa, que será exibido terça (7) e quarta (8) no Cine Belas Artes, tem ótima atriz no papel-título e uma diretora segura de suas escolhas

por Mariana Peixoto 07/08/2018 08:28

VIVO FILM/DIVULGAÇÃO
(foto: VIVO FILM/DIVULGAÇÃO)
“Eu sou feia?”, a mulher pergunta. “Sim, muito”, o homem responde. “Que bom. Eu não era feliz quando era bonita.”

 

Com este simples diálogo a cineasta italiana Susanna Nicchiarelli deixa clara sua intenção com a cinebiografia Nico, 1988. Vencedor da mostra Horizontes do Festival de Veneza de 2017, o filme apresenta um recorte do fim da vida da cantora, compositora, modelo e atriz, musa de Andy Warhol que atuou como vocalista do Velvet Underground. Atração da Festa do Cinema Italiano, Nico, 1988 será exibido nesta terça (7) e quarta (8), no Cine Belas Artes, em BH.

 

No período retratado pelo longa, a alemã Christa Päffgen (1938-1988) queria ser tudo, menos Nico, o pseudônimo que ganhou de Warhol (e que é um anagrama da palavra icon, ícone em português). “Já estive no topo, já estive no fundo. Os dois lugares são vazios” é outra frase de efeito da personagem, aqui interpretada pela atriz dinamarquesa Trine Dyrholm.


O filme tem ares de road-movie ao acompanhar a carreira solo de Nico a partir de 1986, quando ela passou a residir em Manchester, na Inglaterra – uma cidade que lembra muito a Berlim destruída no fim da Segunda Guerra, ela diz numa entrevista de rádio.

 

Ali, com um novo empresário, Richard (John Gordon Sinclair), ela ganha também uma nova banda, que vai tocar em buracos na Europa. Itália, antiga Tchecoslováquia e Polônia são alguns dos países onde a trupe passará. A situação é péssima, principalmente a da estrela do grupo.

 

Viciada em heroína, Nico é temperamental, suja, desagradável. Odeia a banda, age como lhe convém (e isso inclui parar apresentações no meio e xingar os músicos). Enfim, tem tudo para não dar certo.


Mas as coisas começam a mudar no meio da excursão. Em meio à depressão e à dependência química, Nico consegue estabelecer uma relação com alguns dos colegas. A chegada do filho Ari (Sandor Funtek), então internado em uma clínica (e que havia sido separado de Nico pela Justiça), dá a ela o alento de que precisava.


O grande mérito do longa está na interpretação de Trine Dyrholm. Intensa e ao mesmo tempo sóbria, ela dá o tom correto à personagem, sem cair em exageros ou no mero pastiche. A atriz, inclusive, interpreta algumas das canções de Nico – These days a mais conhecida delas.


Sem trazer respostas prontas, o filme de Susanna Nicchiarelli oferece poucas informações para aqueles que estão interessados na Nico dos anos 1960. Algumas poucas imagens documentais, do cineasta lituano Jonas Mekas, ícone da vanguarda nova-iorquina, trazem a cantora em seu auge ao lado de Warhol.


Nico, 1988
mostra que a maior tragédia da vida da cantora – que terminou precocemente, aos 49 anos, quando ela sofreu um infarto enquanto pedalava em Ibiza – não foi seu vício em drogas, mas sim o fracasso da tentativa de continuar com uma bela carreira, longe do Velvet Underground.

 

NICO, 1988
De Susanna Nicchiarelli. O filme será exibido nesta terça (7), às 21h, e na quarta (8), às 18h40, no Cine Belas Artes.

Assista ao trailer:

 

 

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